Estilista indígena amazonense resgata conhecimentos ancestrais e aplica na moda

Sioduhi Piratapuya integra o curso de MBA em Negócios e Estética da Moda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e faz reflexão sobre a falta de indígenas no meio acadêmico.

Coleção ManioQueen. Fotos: Reprodução/Instagram @sioduhistudio

O estilista amazonense Sioduhi Piratapuya, da etnia Piratapuia, é responsável pelo desenvolvimento de um corante de tecido à base de mandioca, utilizado na Sioduhi Studio, empresa criada por ele que busca resgatar tecnologias dos povos originários por meio da confecção de roupas. Atualmente, Sioduhi integra o curso de MBA em Negócios e Estética da Moda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e propõe discussões fundamentais para o mundo da moda.

Enquanto alguns lugares têm as quatro estações mais bem definidas, a Região Norte é quente e úmida durante o ano todo. 

Pensar a forma de criar moda no Norte é muito diferente do que pensar no Sudeste, no Sul, e mesmo no Nordeste. Nem todas as roupas que eu crio para o Sudeste vão funcionar no Norte”, 

explica o estilista.

Considerar a diferença entre os climas de cada região do País é só um exemplo do que Sioduhi chama de “descentralização da moda”.

Por ser o único estudante indígena em uma turma com mais de cem pessoas, Sioduhi sente grande responsabilidade de trazer para a sala de aula questionamentos e referências que fogem do que os colegas estão acostumados. “Dificilmente há pessoas da Região Norte no cenário da moda no Brasil. No Sudeste é onde está mais concentrado e tem mais oportunidades”, afirma.
Produção de peças para o Sioduhi Studio. Foto: Reprodução/Instagram @sioduhistudio

Falta a voz dos povos originários na academia, reflete o estilista. Para tentar preencher essa lacuna, ele compartilha suas experiências e indica bibliografias, projetos e pesquisas. O aluno contou, em entrevista no Congresso Internacional de Sustentabilidade em Têxtil e Moda (Sustexmoda), que os docentes do MBA são muito abertos a discutir e questionar, o que acaba estimulando os outros estudantes a pensar fora do óbvio, além da moda europeia, e a olhar mais para dentro do nosso próprio País.

Por enquanto, Sioduhi prefere focar sua atenção no curso e na aplicabilidade da profissão. Embora não descarte a possibilidade de entrar numa pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no futuro, o diretor criativo da Sioduhi Studio pretende continuar dedicado aos seus projetos e à sua pesquisa independente.

Sioduhi Studio e a mandioca

A marca de Sioduhi tem como referência o futurismo indígena, movimento que visa resgatar os saberes ancestrais dos povos originários por meio de obras que dialogam com novas tecnologias, como a moda. Seu interesse pela moda se iniciou em sua comunidade, onde existiam escolas de alfaiataria e as peças eram concebidas com materiais naturais. Para ele, os conhecimentos indígenas são a base que permeia a sustentabilidade.

O estilista também desenvolveu a tecnologia Maniocolor, um corante têxtil à base de mandioca. A ideia surgiu quando Sioduhi incluiu o tingimento natural em sua coleção Pamiri 23, a partir da extração de aroeira. Por conta da ameaça de extinção da planta, ele começou a utilizar cascas de mandioca brava — espécie tóxica aos humanos e animais — para a produção de um novo corante. A mandioca-brava foi escolhida devido à sua pigmentação forte e grande potencial de reaproveitamento e replantio, oferecendo mais serventia ao território indígena.

A Sioduhi Studio fomenta o protagonismo indígena em todos os processos que fazem parte da cadeia de criação. Além disso, a marca incentiva jovens a manterem essa prática de manuseio com fibras naturais e utilização de material originário. É desse modo que histórias invisibilizadas na moda e na história de modo geral podem ser contadas, de acordo com o fundador.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Mariana Zancanelli, estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

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