Educadora indígena promove inclusão de crianças Warao em Manaus

Mãe de quatro filhos, a indígena Daisy Pérez atua para matricular crianças e adolescentes indígenas refugiadas e migrantes nas escolas de Manaus.

Mãe de quatro filhos, a educadora indígena venezuelana Daisy Pérez é a personificação da sabedoria popular que diz sempre caber mais um em coração de mãe. Em Manaus , ela buscou oportunidades e sensibilizou a comunidade e as escolas para matricular crianças Warao na rede pública de ensino, oferecendo a elas novos caminhos para um futuro digno.

Hoje a professora é referência para a comunidade Warao em Manaus, ajudando a população indígena refugiada e migrante a acessar políticas públicas de educação e saúde. Mas até que conseguisse apoiar essas pessoas, Daisy teve que enfrentar desafios pessoais como mãe recém-chegada ao Brasil, e buscar recursos para reunir e garantir o sustento de sua família.

“Fui trazendo meus filhos, um a um, à medida que ia conseguindo dinheiro, até conseguir reunir de novo toda a minha família. Era o que eu mais queria”, relata a educadora, compartilhando seus aprendizados com outras famílias que enfrentam a mesma situação”.

Daisy Pérez.

Professora Daisy usa experiência de 15 anos como educadora para ajudar crianças Warao em seu processo de aprendizagem em Manaus. Foto: /Felipe Irnaldo

Por onde passou, incluindo as cidades de Pacaraima (RR), Boa Vista (RR) e Manaus, Daisy empreendeu todo seu conhecimento para atuar com crianças refugiadas e migrantes em abrigos e outros espaços de apoio, contribuindo com o fortalecimento do processo de ensino e aprendizagem locais.

Durante essa experiência, ela identificou prioridades para a integração das crianças como, por exemplo, o idioma e informações sobre como acessar a rede pública de educação no Brasil.

Foi então que partiu à procura de instituições que pudessem ajudá-la a potencializar esse processo e garantir que os jovens estudantes ingressassem nas escolas de Manaus, onde mora há quatro anos. 

“Eu conheço as mães de todas as crianças e tenho familiaridade com elas, o que me ajuda a identificar as necessidades das famílias e buscar apoio. Como mãe, eu senti que precisava fazer algo para ajudar outras mães que precisavam de ajuda”,

destaca a educadora.

Daisy conseguiu apoio do Instituto Mana, parceiro da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), para organizar a documentação e endereçar as diversas necessidades das famílias junto às escolas locais, e conseguiu mobilizar a comunidade Warao para matricular 18 crianças desta etnia na rede pública. 

“Mesmo para uma mãe que é educadora, o processo de ensinar é sempre um desafio, imagina para outras mães que não tiveram acesso a esse conhecimento, e estão em deslocamento… Por isso a inspiração de possibilitar que outras mães consigam ter os filhos na escola, que possam ter essa chance”,

relata Daisy.

Deisy e Daisy: mãe (à direita) inspirou filha a apoiar comunidade refugiada e migrante em Manaus

Com seu trabalho dedicado e empatia, Daisy fez a diferença na vida das crianças, mas seu impacto já se estende para além disso.

Sua história serviu de inspiração para a própria filha, Deisy Perez, que hoje atua voluntariamente como Promotora Comunitária em um projeto desenvolvido pela Cáritas Arquidiocesana de Manaus em parceria com o ACNUR. A iniciativa apoia pessoas refugiadas em Manaus a acessarem serviços na região. Com o conhecimento e solidariedade sendo transmitido de geração em geração, a filha tem seguido os passos da mãe e contribuído para o desenvolvimento de ações de inclusão junto à população Warao.

Histórias como a de Daisy mostram a importância do envolvimento da comunidade e do trabalho coordenado das instituições de apoio aos refugiados e migrantes. Esta ação, implementada pelo Instituto Mana, é cofinanciada pela Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias – ECHO, que no Brasil contribui para que o ACNUR e parceiros sigam apoiando pessoas refugiadas, inclusive indígenas, a acessarem proteção e direitos como documentação, saúde e educação. 

“Buscamos acompanhar de perto as demandas das comunidades. O envolvimento das pessoas refugiadas nesse processo é o que faz a diferença, como o impacto que Daisy trouxe para a vida dessas crianças”.

Geisy Rodríguez, Instituto Mana.

A educadora Warao Daisy Pérez. Foto: ACNUR/Felipe Irnaldo

Essas ações de fomento a educação com integração e respeito aos processos culturais desta etnia são de fundamental importância para assegurar direitos no Brasil, explica a oficial assistente de campo do ACNUR e Manaus, Juliana Serra. 

“Mais de sete mil pessoas da etnia Warao desembarcaram no Brasil desde o início da emergência da Venezuela. Acreditamos que ações como essa que visam fortalecer o acesso aos serviços e direitos e valorizar os saberes e processos tradicionais de pessoas indígenas refugiadas é chave para a integração dessas famílias”.

Juliana Serra, ACNUR Brasil.

Os trabalhos do ACNUR e de seus parceiros em promover a inclusão e integração de comunidades indígenas refugiadas e migrantes no Brasil dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em especial com o ODS No. 4: Educação de Qualidade, que busca garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. 

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