A ideia do estudo surgiu de uma experiência pessoal do autor como docente no ensino médio.
Segundo dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, 18,6% da população brasileira possui algum tipo de deficiência visual. Essa parcela da sociedade é assegurada pelo Art. 208 da Constituição Brasileira, que estabelece a educação como direito das pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Mas somente a garantia da lei não basta. Materiais de ensino adaptados e um corpo docente preparado são fundamentais na busca pela inclusão.
Em dissertação, o professor Rômulo Monteiro da Silva desenvolveu um material didático para auxiliar alunos não videntes a estudarem conceitos de Óptica Geométrica, da disciplina de Física. A pesquisa é vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física (MNPEF/ICEN) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e recebeu orientação das professoras Simone da Graça de Fraiha e Fátima Nazaré Baraúna Magno.
A ideia do estudo intitulado ‘Material didático para o ensino de conceitos básicos da Óptica Geométrica para inclusão de alunos com deficiência visual’ surgiu de uma experiência pessoal do autor como docente no ensino médio.
“Quando comecei a dar aula, eu tinha uma aluna com deficiência visual e fiquei sem chão. Como eu ia transmitir a ela, por exemplo, conceitos de Óptica, área diretamente associada à luz? Como eu trabalharia com ela?”,
relembra Rômulo Monteiro.
O produto educacional foi aplicado em uma turma do terceiro ano do ensino médio formada por 39 alunos videntes e uma aluna não vidente, no município de Vigia de Nazaré. De início, Rômulo Monteiro ministrou quatro aulas sobre Óptica Geométrica com o uso de maquetes táteis-visuais. A versão física delas estava com a estudante não vidente enquanto o restante da sala acompanhou o material por meio de um projetor de imagens. As maquetes foram elaboradas a partir de placas de papelão, fios e folhas de EVA de diferentes cores e texturas, com a finalidade de explorar o tato para melhor compreensão do assunto. Os fios representavam os feixes de luz e o EVA, os espelhos e as lentes.
Em seguida, houve uma atividade experimental em um aparato industrial de um plano inclinado, que pode ser confeccionado com materiais alternativos. O objetivo era usar a luz solar para queimar um papel através de uma lente convergente, a fim de medir a distância focal. “A aluna não vidente ia perceber o papel queimado pelo cheiro, mas o vento levou a fumaça e não funcionou. Então, colocamos um balão embaixo da lente para a estudante escutar ele estourando. Deu certo”, explica a orientadora Simone da Graça Fraiha.
Produto educacional deve ser pensado para estudantes não videntes e videntes
“Foi como a aluna não vidente me relatou, ela se sentia excluída dentro da sala de aula, como se não estivesse lá”,
afirma o pesquisador.
Durante o questionário, a falta de preparo dos professores foi um dos problemas mais citados. As respostas reforçam a ideia defendida no estudo de que essa questão é uma das adversidades para a efetivação de uma política educacional inclusiva. “Se for esperar pelo Estado, não haverá apoio aos professores para ensinar pessoas com deficiência, seja visual ou outra”, declara o autor.
A pesquisa destaca que a estudante com deficiência visual encara a falta de atividades diferenciadas e adaptadas como a principal adversidade ao aprendizado e não o problema de visão em si. O ensino da disciplina, aponta o estudo, precisa ultrapassar a “simples” aplicação de fórmulas e teoremas.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 167, escrito por Bruno Roberto.