Doutoranda do Inpa concorre ao prêmio global Jovens Pesquisadores

A estudante de doutorado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), Itanna Oliveira Fernandes é uma das finalistas do prêmio global Jovens Pesquisadores. O trabalho inédito de dados de monitoramento ambiental de formigas (Hymenoptera: Formicidae) na Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, é único representante do Brasil, e a seleção foi realizada pelo Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr).

Foto:Divulgação/Inpa
Resultado de um dos trabalhos de doutorado em Entomologia de Itanna Fernandes, este é o primeiro estudo com tratamento taxonômico e ecológico usado para monitorar o impacto de uma usina hidrelétrica na fauna de formigas. O trabalho foi desenvolvido de 2011 a 2014 e levou em consideração as fases de pré e  pós-enchimento do reservatório da usina e as mudanças que poderiam causar na fauna de formigas em seis áreas de influência da Usina.

O prêmio visa incentivar a inovação científica na área de tecnologia da informação para a biodiversidade com premiação de 5 mil euros para dois projetos em nível mundial, sendo um de mestrado e outro de doutorado. O resultado final do prêmio será anunciado em setembro, em Helsink (Finlândia), durante o 24º Congresso do GBIF. Plataforma Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na sigla em inglês).

“Fiz minha inscrição no concurso Jovens Pesquisadores e acabei sendo selecionada para representar o Brasil na seleção mundial. Nosso banco de dados foi o único selecionado no país. Isto é uma grande conquista”, diz a doutoranda. “Estou honrada em estar participar da final com concorrentes de vários países”, completou.

Presentes em todas as partes, as formigas possuem importante papel no equilíbrio do ecossistema porque desempenham diversas funções essenciais para o funcionamento dos ecossistemas, como controle de insetos herbívoros, transformação do solo e dispersão de sementes.

Fernandes explica que em determinado momento, durante a fase de enchimento do reservatório da Usina, a água subiria e algumas parcelas monitoradas, ficariam, provavelmente, dentro d’água. “Então, a pesquisa procurou saber como a fauna se adaptaria a essas mudanças”, diz. “É a primeira vez que um monitoramento dessa extensão é realizado, não somente para formigas, mas para diversos outros grupos focais da fauna e flora”, destaca a doutoranda ao lembrar que para a Usina de Balbina, em Presidente Figueiredo (AM), não houve um trabalho de monitoramento prévio.

Foto:Divulgação/Inpa
As coletas, realizadas a cada três ou quatro meses, foram executadas no período de pré e pós-enchimento da usina. Ao final, foram contabilizados 253 eventos de coletas e 9.165 ocorrências de formigas. “Estas formigas estão, hoje, dividas em 10 subfamílias, 68 gêneros e 324 espécies e morfoespécies, todas depositadas na Coleção de Invertebrados do Inpa”, diz Fernandes.

Ela explica que o trabalho de monitoramento de formigas e de diversos outros grupos de fauna foi apresentando ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), num seminário realizado em Porto Velho e em Brasília pelo pesquisador doutor Jorge Souza, coordenador do subgrupo formigas, assim como Fernandes. A apresentação foi feita para qualificar os dados monitorados.

A doutoranda trabalha com taxonomia (descrição, identificação e classificação dos organismos) e sistemática das formigas, e está prestes a defender o seu doutorado que tem como tema “Filogenia de Anochetus e Odontomachus (Hymenoptera: Formicidae: Ponerinae) e taxonomia de Anochetus para a região Neotropical”. Essas formigas são conhecidas popularmente como formigas-estalo, pois emitem um estalo ao abrir suas mandíbulas num ângulo de 180 graus para capturar as presas ou usando-as como trampolim para fugir de seus predadores.

“Já concluí as análises filogenéticas,considerando dados moleculares, e conseguimos distinguir os dois gêneros mundialmente. Até então, não tínhamos certeza sobre a monofilia de ambos, e as análises acabaram indicando que os dois gêneros formam dois clados (ramos) distintos, com um ancestral comum”, diz a doutoranda, que é orientada pelo pesquisador do Inpa, o doutor em Entomologia, Marcio Luiz de Oliveira.

Trajetória

Oliveira conta que Itanna Fernandes chegou ao Inpa para o mestrado em 2009, sem nunca ter trabalhado com insetos da ordem Hymenoptera (abelhas, formigas e vespas), mas queria aprender sobre formigas. Durante o mestrado, desenvolveu um estudo taxonômico com formigas do grupo de espécies do complexo villosa (Formicidae: Ponerinae: Neoponera), que foi publicado na talvez mais prestigiosa revista de mirmecologia do mundo (Myrmecological News A1, publicado em 2014). Mirmecologia é a ciência que estuda as formigas.

“No final de 2013, entrou no nosso doutorado e, em 2014, recebeu bolsa de doutorado-sanduíche para o exterior (PDSE) oferecido pela Capes e foi desenvolver a filogenia global de dois gêneros de formigas no Museu Nacional de História Natural dos Estados Unidos (Smithsonian Institution), em Washington-DC”, conta Oliveira. “Lá, concorreu ao prêmio Ernst Mayr Travel Grant, oferecido pela Universidade Harvard, e ganhou na edição de 2014”, destaca.

De 2013 a 2015, Fernandes acumulou quatro prêmios de excelência acadêmica oferecidos pela Fapeam (Pró-Excelência). Em 2015, publicou com mais cinco pesquisadores o livro “Guia para Identificação dos gêneros de Formigas do Brasil” e se tornou autora do Catálogo Taxonômico da Fauna Brasileira – CTFB (Formicidae) [online]. Aprovou, ainda, dois projetos como coordenadora, um Universal (Fapeam) para utilização de DNA Barcode, em 2013, e o auxílio à pesquisa Thomas Lovejoy (PDBFF) para tentar achar o ninho da formiga mais primitiva que existe, a formiga “marciana” Martialis heureka, em 2017.

Ainda em 2017, foi uma das pesquisadoras selecionadas para repatriar os dados de tipos brasileiros depositados no exterior pelo programa Refauna (SIBBr) e foi indicada para concorrer ao Prêmio Jovens Pesquisadores, oferecido pelo GBIF. “Itanna é uma pessoa dedicada e que ama o que faz, razão pela qual tem colhido tantos frutos bons em tão pouco tempo”, ressalta o pesquisador Oliveira.

Sobre o SiBBr

Projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o SiBBr é uma plataforma on-line que pretende reunir a maior quantidade de informações existentes sobre a biodiversidade do Brasil.  É associado à Plataforma Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na sigla em inglês), a maior iniciativa multilareal de acesso virtual a informações biológicas de aproximadamente 60 países.

*Deixe o Portal Amazônia com a sua cara. Clique aqui e participe.
Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Xote, carimbó e lundu: ritmos regionais mantém força por meio de instituto no Pará

Iniciativa começou a partir da necessidade de trabalhar com os ritmos populares regionais, como o xote bragantino, retumbão, lundu e outros.

Leia também

Publicidade