Caroço Amazonas: método socioemocional aplicado em Harvard certifica escolas de Iranduba

Projeto adaptado e cocriado com professores locais desenvolve habilidades socioemocionais nas escolas, melhora aprendizagem e convívio social.

Foto: Divulgação

Identificar, nomear e lidar com a raiva, a tristeza, a frustração, o medo e o luto podem ser movimentos difíceis para a maioria das pessoas, o que dirá para crianças e adolescentes e, ainda, inseridas na realidade desafiadora de viver e crescer na Amazônia. Com o objetivo de responder às necessidades específicas das crianças e jovens dessa região, identificando suas habilidades sociais e emocionais prioritárias, pesquisadoras do EASEL Lab, da Faculdade de Educação de Harvard, nos EUA, desenvolvem desde 2022 o ‘Projeto Caroço‘ em parceria com educadores da cidade de Iranduba, no Amazonas, que tem como base a metodologia SEL Kernels (do inglês Social-Emotional Learning).

Neste mês de novembro de 2024, os participantes celebram o fim deste ciclo com resultados promissores reportados pelos 130 professores de 14 escolas urbanas, rurais, ribeirinhas e indígenas do município, que serão certificados pela equipe do EASEL Lab durante um evento presencial de encerramento.

Segundo ela, o projeto junto à Harvard – que é destinado às crianças – deu tão certo que as escolas resolveram trabalhar as estratégias de autoconhecimento e de inteligência emocional com os alunos do Ensino Fundamental, e estenderam aos pais das crianças e dos jovens, fortalecendo-os com conteúdos para que possam apoiar o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos filhos em casa. Silvia diz que várias outras escolas das 57 que formam a rede municipal solicitaram a formação e o Caroço será estendido para elas também.

A metodologia

Os SEL Kernels são atividades e rotinas simples, projetadas para promover o desenvolvimento social e emocional de crianças no ambiente escolar, a partir da prática diária do professor . A abordagem acessível permite que os SEL Kernels sejam adaptados a diferentes contextos educacionais em países ao redor do mundo. Em 2024, além do Brasil (Paraty, Rio de Janeiro e Amazonas), eles foram implementados na Austrália, Canadá, Chile, Estônia, Líbano, Níger, Nigéria, Serra Leoa, Uganda, Ucrânia e Estados Unidos. Em Iranduba, a escolha do nome do projeto – Caroço – foi feita junto aos educadores participantes e simboliza a semente que é plantada, germina e cresce, além de ser uma palavra que conversa com a cultura local.

Ana Luiza Colagrossi, doutora em Ciências com ênfase em desenvolvimento infantil e aprendizagem socioemocional, coordenadora e pesquisadora da equipe de adaptação e cocriação do Projeto Caroço no Brasil, explica que a metodologia nomeia cinco dimensões socioemocionais como “cinco poderes”, para mostrar às crianças que elas já têm essas habilidades dentro de si, e que é só desenvolver, praticar:

  • Poder da Atitude,
  • Poder do Cérebro,
  • Poder da Cidadania,
  • Poder da Amizade,
  • e Poder do Sentimento.

Esses poderes englobam 31 “caroços” que são as estratégias de intervenção que os professores têm à disposição para usar várias vezes ao longo do dia, mesclando às atividades didáticas de rotina.

“Adaptamos a letra da música ‘cabeça, ombro, joelho e pé’, usada na Educação Infantil, para ‘cabeça, ombro, coração, barriga’, promovendo o contato da criança com as partes do corpo em que as emoções se manifestam. Outro exemplo é a ‘régua do sentimento’, com os nomes das emoções e as intensidades delas – raiva, muita raiva, feliz, muito feliz -, que ajuda a criança a construir esse repertório dentro de si, também entendendo como os sentimentos se manifestam. Com essa informação, o professor pode abordar o tema na rodinha que faz com as crianças todos os dias”, diz a pesquisadora.

Foto: Divulgação

Resultados

As escolas que receberão o certificado neste mês de novembro participaram de todas as formações do Caroço, das trocas cotidianas com envio de relatos e evidências fotográficas, e responderam a um questionário de pesquisa no início e no final do projeto, com a avaliação das crianças antes e depois da implementação dos SEL Kernels.

“É um panorama bem amplo e robusto do desenvolvimento dessas crianças e que ilustra como é possível fazer transformações significativas na vida delas e das comunidades nos contextos em que estão inseridos”, destaca Ana Luiza.

O projeto conta com o apoio da Lemann/Brazil Research Fund e da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa, Extensão e Interiorização do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (FAEPI-IFAM).

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