Com uma queda de 29,7% registrada em 2016 na comparação com o ano anterior, a produção de motocicletas voltou ao nível de 2002. Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) no acumulado do ano, a produção foi de 887.653 motocicletas, já em 2015 foram produzidas 1.262.708 unidades. Mesmo não sendo surpresa, especialistas afirmam que o resultado do setor de duas rodas comprova a necessidade de medidas governamentais assertivas para iniciar o processo de estabilidade econômica no país.
De acordo com o Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM) a crise não deve perdurar por mais tempo, no entanto os reflexos serão contabilizados ainda neste ano, já a retomada do crescimento vai ficar para 2018. Para o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) os números devem ser abertos por modelo, onde a produção de motos estradeiras de alta cilindrada vem crescendo no Polo Industrial de Manaus (PIM).
Em dezembro de 2016 foram fabricadas 32.814 motocicletas, no entanto, no mesmo período de 2015 foram registradas 50.633 unidades, uma queda de 35,2%. O resultado piora na comparação com no o mês anterior, quando foram produzidas 70.320, com retração de 53,3%.
De acordo com a Abraciclo, devem ser consideradas as férias coletivas das fábricas do setor no último mês do ano. As fabricantes ajustaram suas projeções para 2017, com expectativa de fabricação de 910 mil unidades, vendas no atacado de 825 mil, varejo de 890 mil e exportação de 93 mil.
Para o presidente do Cieam, Wilson Périco, os números não surpreendem, mas é preciso demonstrar o comportamento do mercado por categoria de motos produzida. “Não é surpresa. É que também esses números não trazem aberto pelos modelos. Porque os modelos que mais se produz ainda são os menores: de 150 a 200 cilindradas”, explica.
Segundo Périco os modelos de baixa cilindrada foram os que tiveram maior impacto na produção, com a queda das vendas por falta de poder aquisitivo do público consumidor. Em contra partida as estradeiras de alta cilindrada estão ganhando espaço no mercado. “Pelo que eu tenho acompanhado, nos modelos de maior porte dos quais estão destinados a pessoas com uma faixa de renda maior que são produtos que são comprados por hobby ou por lazer. Então são dois nichos diferentes dentro do mesmo segmento”, observou.
Como presidente do Corecon-AM, Nelson Azevedo, diz que as empresas que se planejaram já estão com projetos prontos para serem submetidos aos órgãos controladores dos incentivos da Zona Franca de Manaus (ZFM) e assim ampliar seus negócios. “Eu sei que tem um bom número de projetos registrados no Corecon para as próximas reuniões, tanto do Conselho de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (Codam) como do Conselho de Administração da Suframa (CAS)”, informou.
Segundo Azevedo, são vários projetos de instalação, de diversificação, bem como, projetos de ampliação e de modernização. As empresas fazem seu planejamento com um prazo maior e estão na expectativa de que medidas do governo possam acontecer. “Quem tem condição e capacidade financeira para se atualizar e melhorar já sairá na frente na hora que tudo mudar. Porque não tem mal que dure para sempre, ou uma crise dessa que dure para sempre”, concluiu.
Na avaliação do diretor executivo da Moto Honda da Amazônia, Paulo Takeuchi, o mercado de motocicletas tem sofrido um processo de retração nos cinco últimos anos devido, principalmente, à dificuldade de acesso ao crédito e à crise política e econômica e não pela rejeição ou falta de atratividade pelo produto em si. “Assim como muitos outros setores da economia, estamos passando por um momento desafiador, mas acreditamos em uma perspectiva de retomada no médio prazo”, analisou.
Mercado nacional em queda
Segundo dados da Abraciclo, em dezembro 2016, as vendas no atacado para as concessionárias foram de 56.155 unidades, recuo de 18,9% em relação ao mesmo mês de 2015, com 69.253, e queda de 5,4%, em comparação com novembro do ano passado que foi de 59.372 unidades. De janeiro a dezembro foram comercializadas 858.120 motocicletas, contra 1.189.933 ao igual período do ano anterior, fechando 2016 com uma queda de 27,9%.
Na contramão da tendência, as vendas externas somaram 6.402 unidades, em dezembro de 2016, contra 5.944 de dezembro 2015 e 3.957 em novembro, o que representa um crescimento de 7,7% e 61,8%, respectivamente. Entretanto, o desempenho dos últimos meses não foi suficiente para elevar os números. Nos 12 meses do ano passado foram exportadas 59.022 motocicletas, frente a 69.123 em 2015, correspondendo a uma queda de 14,6%.
Ainda em dezembro, com base nos licenciamentos (*) registrados pelo Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam).
Foram emplacadas 80.837 motocicletas, volume 16,9% superior ao apresentado no mês anterior de 69.122 uniddes.
Em relação ao mesmo mês de 2015 com 107.862, houve queda de 25,1%. No acumulado do ano, a queda foi de 26,5%, passando de 1.224.597 unidades, em 2015, para 899.793, em 2016.
(*) No varejo, foram desconsiderados os ciclomotores usados, cujo licenciamento junto aos Detrans passou a ser obrigatório a partir da Lei nº 13.154, de 30/07/2015, e da Resolução Contran nº 555/15, de 17/09/2015.
Projeção de 2017 depende da conjuntura política
De acordo com o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, o segmento de motocicletas vem sofrendo com as incertezas da política. “Diante de um mercado mais cauteloso, para 2017, o setor projeta atingir resultados semelhantes ao do ano anterior, mantendo-se estável. Além disso, a realização de eventos, como o Salão Duas Rodas, em novembro, deverá contribuir para estimular os negócios no segundo semestre”, afirmou.
Na avaliação do presidente do Cieam, a expectativa para 2017 depende muito mais das medidas do governo, do que do investidor que está pronto para uma retomada do mercado. Mas resgatar a confiança do consumidor está em primeiro lugar. “Não vai ter uma medida na atividade industrial que favoreça um ou outro segmento. Como eu disse, nós temos que resgatar a confiança do consumidor”, avalia.
“Estamos vislumbrando um ambiente de estabilidade, com resultados similares aos do ano anterior. A Honda tem uma grande preocupação em oferecer produtos de alta qualidade a um preço acessível democratizando o acesso à motocicleta”, salientou.
Ainda segundo Takeuchi, a estratégia da empresa é oferecer os melhores produtos, o melhor serviço de pós-venda, uma rede estruturada com aproximadamente 1.200 pontos de venda Honda, com profissionais altamente qualificados. “A posição de líder no mercado brasileiro muito nos honra e é fruto de um trabalho de mais de 45 anos, que seguiremos trilhando para continuar merecendo a confiança dos consumidores. Manteremos o nosso cronograma de lançamentos de novos modelos, esperando que, em breve, possamos ter uma perspectiva positiva dos negócios do País. Acreditamos no potencial do mercado brasileiro e na importância da motocicleta para a nossa sociedade, principalmente do ponto de vista de mobilidade e geração de renda”, ratifica.