Permissionários reclamam da concorrência desleal no Centro de Manaus

A concorrência desleal dos vendedores ambulantes irregulares é apontada pelos permissionários das galerias populares e camelódromos no Centro de Manaus como principal fator para baixa movimentação de clientes nesses locais. Segundo eles, os vendedores de mãos, que sem as bancas vendem os produtos em pequenos expositores pelas vias movimentadas da capital amazonense, prejudicam o faturamento desses comerciantes contribuindo para o aumento de boxes fechados. De acordo com a  Subsecretaria Municipal do Centro Histórico (Subsemch) é feito fiscalização contra os ambulantes irregulares para coibir o comércio irregular.

“O movimento está péssimo e mal dá para pagar as necessidades básicas. Só sobrevivo porque, após fechar aqui, vou nas portas das academias vender as peças fitness, infelizmente só da venda de produtos na galeria não dá”, lamenta o comerciante José Augusto, um dos permissionários da galeria Espírito Santo, localizada na rua 24 de Maio. De acordo com ele que trabalha há 20 anos no comércio, além da crise financeira, a concorrência com os vendedores ambulantes que continuam atuando nas ruas do Centro da capital afasta os clientes.

“O projeto era tirar todos da rua e nós saímos, mas ainda existem muitos vendedores irregulares circulando com as mesmas mercadorias e mais baratas. Isso é concorrência desleal”, reclama. Segundo o lojista, que chegava a faturar 5 mil por mês quando atuava na Rua Henrique Martins, agora passa dias sem vender um produto. “Por isso muitos pontos da galeria acabam sendo fechados ou foram alugados”, finaliza José Augusto.

Foto: Walter Mendes/Jornal do Commercio
Assim como o comerciante, Ana Rita Santos, vendedora de moda intima feminina, também reclama dos ‘vendedores de mão’. Segundo ela, que trabalha no local há quase três anos, antes de ir para a galeria faturava em média por mês de trabalho, aproximadamente R$ 5 mil. “Trabalho há 18 anos com a venda informal e nesse último ano meu faturamento caiu 60% mesmo fazendo promoções para atrair mais os clientes”, comenta. Ana diz que apesar das baixas nas vendas, não pensa em retornar às ruas. “Aqui temos segurança e tranquilidade para trabalhar. Além disso, o cliente pode retornar se comprar algo com defeito para trocar, diferente na rua que não achará mais de quem comprou”.

Até o movimento no fim de ano foi fraco, segundo os comerciantes. José Nildo, que está há dois anos na galeria popular dos Remédios reforça que as vendas caíram bastante no local. “O Natal melhorou um pouco, mas não muito. Se antes eu faturava R$ 2 mil em um ponto da Matriz, aqui fica na média de R$ 700. Não penso em sair, mas para dar certo o projeto é preciso tirar os ambulantes irregulares que estão nas ruas para as pessoas comprarem nas galerias”, afirmou. José vende de tudo um pouco: controles para televisão, fones de ouvido, relógios e demais produtos eletroeletrônicos.

Outro lojista do local que não quis se identificar, disse que o seu rendimento caiu 90% e também reclama dos vendedores irregulares. “Por conta dessa concorrência muitas lojas fecharam e colegas tiveram que buscar outras alternativas para tentar sobreviver. Aqui está muito complicado”, sentenciou.

Em outro ponto do Centro Antigo, o Camelódromo da Epaminondas com acesso pela rua Lobo d’Almada tem a capacidade de 230 ambulantes, mas também exibe muitas bancas fechadas. De acordo com o comerciante Franklin Nogueira, as lojas da frente são as que mais faturam pela boa localização. “Mesmo fraco consigo fazer uns R$ 50 por dia, mas tem colegas com pontos mais atrás que não vendem nada. Tem muitos deles que resolveram voltar para as ruas pela situação difícil”, disse.

Franklin vende acessórios para celular e aguarda a transferência para o novo espaço no T4. Marina Marinho, é uma das vendedoras que está há três anos no espaço provisório da Epaminondas aguardando para ter um box na Galeria dos Remédios. As vendas, segundo a comerciante também estão devagar. “Caiu muito e se lá fora está ruim, aqui é pior. Antes eu fazia 2 mil por mês e com isso comprei minha casa e móveis, mas hoje tem dia que não vendo nada”, lamentou Marina. A comerciante recebe um subsídio da refeitura no valor de R$ 1 mil, mas conta que não compensa financeiramente ficar no camelódromo, pois o local é pouco pouco visitado.

Monitoramento para evitar concorrência desleal

De acordo com a Subsemch, existem 2.082 camelôs cadastrados junto à Prefeitura de Manaus. Destes, 1.503 já saíram das ruas e estão nas Galerias Espírito Santo, Remédios ou nos camelódromos Floriano Peixoto 1 e Epaminondas.

Segundo a pasta, os que estão no provisório aguardam para ir para o Shopping T4, que vai abrigar 734 novos microempreendedores. As 2a e 3a etapas da Galeria dos Remédios, que estão em obras, vão abrigar mais 345 ex-camelôs. A implantação de outras galerias para abrigar camelôs do Centro de Manaus está em estudo.

A Subsemch afirma que é feito fiscalização contra os ambulantes irregulares com 15 fiscais em três turnos para coibir o comércio irregular. E que também é realizado um monitoramento diário sobre o número de lojas fechadas e em funcionamento, na Espírito Santo e Galerias Remédios. Ainda de acordo com a pasta, as lojas fechadas por mais de três dias seguidos, os donos são notificados a comparecerem na sede da subsecretaria, a fim de explicarem o motivo da ausência.

Caso não compareçam, são advertidos por até três vezes ou suspensos por três dias e, ainda, de acordo com o Regimento Interno de cada galeria, em caso de reincidência, eles podem perder a concessão de uso da loja.

A pasta destaca que não é permitido alugar ou vender os espaços por 40 anos, podendo ser renovado por mais 40 anos. Caso seja comprovada essa prática, será aplicado o que prevê o Regimento Interno, que os camelôs assinam quando aderem ao projeto Viva Centro Galerias Populares, no espaço das Galerias Populares e Shopping T4, como advertência, suspensão até a perda da concessão.

“Até o momento, a Subsemch não recebeu nenhuma denúncia efetivamente comprovada de venda ou aluguel de lojas dentro dos espaços. As denúncias precisam ser formalizadas, para posterior providência, o que ainda não ocorreu”, afirmou.

Sobre as medidas tomadas para viabilizar economicamente esses espaços, a pasta diz que durante o ano há ações de publicidade e marketing, especialmente em datas de grande apelo comercial, com o objetivo de atrair maior fluxo de pessoas para dentro das galerias.

Além das ações, que vão de desfile de modas a exposição de artes e apresentação de corais e cantores nas praças de alimentação, vários serviços públicos são disponibilizados, como PAC’s, Casas Lotéricas, e terminais de saque 24 horas. 

Capacitação

Segundo a Subsemch, o projeto Viva Centro Galerias Populares se preocupa não só com o espaço físico onde o ex-camelô vai trabalhar, lhe proporcionando com isso, um negócio próprio, mais dignidade segurança e saúde, mas também com a qualificação pessoal do novo micro empreendedor, oferecendo cursos gratuitos sobre Empreendedorismo, Gestão de Negócios, Atendimento ao Cliente, Planejamento e Controle de Finanças, Noções de Contabilidade, Inglês, Espanhol, Informática Básica, Oficinas de Gastronomia etc. Do universo de 2.082 trabalhadores cadastrados no projeto, 1.646 já foram certificados.

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