A crise no sistema rodoviário nacional prejudica a construção de embarcações nos estaleiros amazonenses. Os atoleiros da BR-163 atrasam e quase inviabilizam o percurso das carretas no trajeto que liga o Mato Grosso ao Pará, o que transmite insegurança aos investidores de um consórcio composto por dez empresas do setor naval, que constroem balsas, em Manaus, para operar no prazo de 5 anos no escoamento de grãos por meio do Arco Norte (portos localizados nas regiões que compreendem os Estados de Rondônia, Amazonas, Amapá, Pará e segue até o Maranhão). As empresas reduziram a meta de produção em 35%. O cronograma prevê a conclusão de 91 balsas. Deste total, apenas 15 foram concluídas.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval, Náutica, Offshore e Reparos do Amazonas (Sindnaval-AM ), Matheus Araújo, comenta que os empresários apostaram na ideia de investir no escoamento de grãos por meio fluvial. Porém, a dificuldade no trajeto das cargas até chegar ao Pará tem preocupado os empresários.
Segundo o presidente, cada balsa tem capacidade para transportar entre 2 mil e 2,5mil toneladas de soja. “O grupo começou a construir as balsas no último trimestrede 2015. No último ano o projeto continuou sendo desenvolvido, mas agora, em menor ritmo. Os empresários estão com o pé no freio por receio de não ter demanda para atender ao quantitativo expressivo de embarcações”, informou.
As embarcações têm dimensão de 50 metros de comprimento por 17 metros de largura e 3,5 metros de altura. O tempo de construção dura em média entre 90 e 120 dias. O custo varia entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões. “O governo tem que tomar uma providência e asfaltar os 400 quilômetros de extensão onde acontece o gargalo da BR-163. Nossa economia também depende desse transporte. A rodovia encurta o percurso para a exportação. O empresário dono da soja vai buscar outra alternativa para o transporte e isso vai encarecer os custos”, analisou.
Segundo Araújo, a alternativa encontrada pelas transportadoras é o corredor utilizado para escoar a produção dos Estados de Mato Grosso e Goiás, feito por meio dos portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP). Com o intuito de evitar a sobrecarga o Ministério dos Transportes desenvolveu pesquisas que indicassem uma mudança na logística da condução dos produtos. A melhoria apresentada pelo Ministério aponta a possibilidade de um desafogamento no escoamento dos grãos pela BR-163 a partir da cidade de Cuiabá (MT) com destino à Santarém (PA). Os produtos embarcam nas balsas em Miritituba e seguem à Barcarena, cidades localizadas no Pará, de onde seguem para o exterior por meio de navios.
Para o economista e consultor, Francisco Mourão Júnior, a falta da infraestrutura prejudica setor graneleiro, consequentemente, o desenvolvimento da economia nacional e local. Ele explica que se o país ou um Estado tem o produto mas não tem possibilidades de escoamento, a geração de renda deixa de acontecer. No caso dos atoleiros da BR-163, prejudicam a viabilidade econômica do Amazonas, que investe em novas embarcações para o escoamento de grãos. Ele ressalta que as construções geram emprego e renda no Estado. “O governo precisa atentar para a necessidade logística do país. Não há como ter crescimento econômico sem infraestrutura. Não adianta ter o produto e não ter rodovias e portos adequados ao transporte. Os empresários amazonenses estão na expectativa de uma nova oportunidade de geração de renda, o que beneficiará o Estado e o país. É preciso analisar que uma carga parada é custo”, disse.