O Amazonas deixará de escoar pelo menos 500 mil toneladas de grãos (soja e milho) em setembro, devido às dificuldades de navegação pelo rio Madeira, via utilizada para o transporte do agronegócio a partir Porto Velho (RO) até Itacoatiara (AM), de onde as cargas saem em direção ao exterior. Há pelo menos 20 dias o transporte de grãos está paralisado. Os grãos que saem da região Centro-Oeste do Brasil estão sendo armazenados na estrutura portuária da capital de Rondônia com impossibilidade de prosseguimento no trajeto fluvial.
De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma), Galdino Alencar Júnior, as transportadoras localizadas na região Centro-Oeste do País decidiram interromper os deslocamentos via Itacoatiara em decorrência do menor volume das águas do rio Madeira que dificulta a passagem das embarcações. Ele afirma que o trajeto, que em período normal, entre Porto Velho e Manaus dura em média quatro dias, hoje, demora até oito dias para ser concluído. Enquanto a viagem entre Manaus e Porto Velho que durava oito dias, hoje, leva até 16 dias para encerrar.
A maior dificuldade, segundo o presidente, é a existência de bancos de areia que podem levar a embarcação a encalhar. Segundo Alencar, pelo menos 140 balsas da empresa Transportes Bertolini Ltda., que operam no transporte de grãos entre a capital rondoniense e Itacoatiara estão paradas por falta de cargas. Ele não soube informar a quantidade de embarcações paradas pela empresa Hermasa Navegação da Amazônia.“As empresas do Centro Oeste decidiram interromper o transporte porque é inviável enviar apenas 30% do total da carga. No caso da condução de combustível e cargas em geral há casos de embarcações que não conseguem chegar até Porto Velho devido os bancos de areia. As balsas param no meio do rio. A alternativa é aguardar a cheia do rio”, disse o presidente.
O diretor executivo da Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária (Fenavega), Paulo Belmar, relata que o transporte de grãos está paralisado desde o final do mês de agosto, quando as transportadoras anunciaram a impossibilidade de navegação pelo rio Madeira. Ele ressalta que antes da interrupção, o transporte já acontecia com redução de até 70% do volume de cargas. As transportadoras operam por meio de conjuntos compostos por 20 balsas, chamados de comboio. Belmar afirma que normalmente cada empresa utiliza entre quatro e cinco conjuntos e cada um composto por 20 balsas.
“Antes da interrupção no transporte as empresas operavam com a capacidade reduzida. Um comboio que antes transportava 40 mil toneladas, estava levando em torno de 9 mil toneladas em uma viagem. Era a alternativa para reduzir o calado e conseguir navegar com menor volume de água”, disse. “Vale lembrar que o mesmo equipamento, seja para transportar 40 mil ou 9 mil toneladas, tem gastos e neste caso o de combustível aumenta, e os custos são absorvidos pelo transportador. Não há como passar o custo ao usuário porque os valores estão previstos por meio de contrato. Então, é impossível reajustar os valores”, completou.
Conforme o diretor, em 30 dias de paralisação o setor deixará de transportar 500 mil toneladas de grãos que seriam enviados à exportação a partir de Itacoatiara. Ele afirma que juntas, a Bertolini e a Hermasa, transportam entre Porto Velho e Itacoatiara anualmente em torno de quatro milhões de toneladas de grãos. Segundo Belmar, o armazenamento de grãos que estava acontecendo na estrutura portuária de Porto Velho também foi interrompido. Não há transporte fluvial das cargas, o que resulta no acúmulo da produção no estoque. “Não há mais como descarregar as cargas porque o armazém portuário está abastecido. O acúmulo também está acontecendo nos estados do Centro-Oeste”, informou.
Exportação de açúcar
Paulo Belmar ainda relatou que a seca do rio Madeira também já afeta o transporte de açúcar que sai de Porto Velho em direção ao Peru. Ele frisa que também há estoque do produto na capital rondoniense. “Também enfrentamos problemas na exportação do açúcar. O produto sai pelo rio Madeira e depois segue pelo rio Solimões. Anualmente, escoamos 600 mil toneladas de açúcar ao estrangeiro por meio de Porto Velho”, citou o diretor. As embarcações continuam conduzindo combustível e cargas como estivas, porém, com apenas 30% da capacidade do meio de transporte.