Madeira pede uso mais nobre em negócios

De extrema importância, mas muitas vezes utilizada de maneiras não muito nobres, a madeira no Amazonas, ainda não tem propostas concretas para evitar o desperdício e o mau uso, visto principalmente na construção civil que com a modernidade vem trocando a madeira pela alvenaria, usando o produto da floresta comumente em paus de escora e tapumes. Os novos tempos também pedem adequações condizentes com a sustentabilidade e conservação, o que dificulta os processos produtivos de olarias e cerâmicas, que poucas vezes têm alternativas para a lenha.

Em busca da nobreza

A busca por um uso mais nobre da madeira é uma luta relativamente nova e com pouquíssimos modelos de negócios em atividade, conta o analista de conservação sênior do Programa Amazônia do WWF-Brasil, Ricardo Russo. “A construção civil no Amazonas está mais focada no concreto. O que sugerimos é o uso de madeira na indústria de habitação, como se fazia antes. Aproveitaríamos para cobrir o deficit de moradia e dar um uso nobre a madeira”, afirma o especialista.

Segundo o analista, uma boa parte da cobertura florestal pode ainda ser usada para esse fim. “O uso na construção não traria tantos prejuízos por se dar mais atenção a legalidade e sustentabilidade. Legal e sustentável, por ser certificado e sem trabalho escravo por exemplo. Mas o que proponho é o uso na parte estrutural, não nesse modelo obsoleto de pau de escora, tapumes ou caixas de laje”, disse.

O analista cita um prédio erguido recentemente em Araucária (PR) como um bom exemplo de uso nobre da madeira. “São três pavimentos erguidos com tecnologia wood frame (construções com perfis e chapas de madeira), a redução nos custos e no tempo justificam a busca por essa tecnologia em obras públicas por exemplo. E madeira traz alegria”, conta Russo.

De acordo com o especialista, a madeira usada como escora e tapume não tem muito valor de mercado e após o uso, pouca utilidade. “Por ser carregada de resíduos sólidos de construção (tinta e cimento) não pode ser usada em fornos ou em carvão para churrasco. O descarte quase sempre é nos aterros sanitários, o que representa um grande volume de material. Quanto a madeira nobre, o que se vê é algo parecido com que os portugueses faziam na época da colônia. Derruba-se e embarca-se para o exterior”, conclui.

Olarias buscam uso sustentável de madeira

O trabalho dos lenheiros que alimentam os fornos das olarias na RMM (Região Metropolitana de Manaus) foi por muito tempo ilegal, mas essa cultura vem mudando aos poucos. Principalmente com uma proposta do Ipaam (Instituto de Pro-teção Ambiental do Amazonas) que irá destinar para os fornos, os resíduos vegetais gerados nas obras públicas do governo do Amazonas. Em 2013, a primeira experiência com o descarte sustentável da madeira proveniente de obras públicas, destinou ao polo ceramista os resíduos das obras de ligação da avenida das Torres a avenida das Flores, no km 1 da AM-010.

Ainda que sustentável, o uso de madeira residual ainda é pouco, sendo o gás natural da região uma das saídas, conta a empresária do setor oleiro Hyrlene Ferreira. “Em certas épocas do ano, não podemos contar com a lenha por conta das cheias da região e a madeira residual ainda é pouca. O gás seria a opção mais viável e mais sustentável para a cadeia produtiva”, conclui.

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