Se 2016 foi um ano para ser esquecido, o início de 2017 já entrou para a história com o clima de insegurança, no país. Em Manaus, a virada do ano foi marcada por rebeliões nos presídios, deixando reflexos no comportamento do consumidor, que agora evita sair às ruas. O comércio enfrenta a maior crise de todos os tempos.
Lojas, bares, restaurantes, praças, shoppings ficaram praticamente vazios no fim de semana. A população está em pânico com as sucessivas ocorrências policiais. Segundo representantes de classe, a capital amazonense está sitiada. Recentes boatos espalhados pelas redes sociais motivaram uma onda de arrastão que levaram lojistas a fecharem as portas mais cedo no centro da cidade.
De acordo com o presidente da Assembleia Geral da Associação Comercial do Amazonas (ACA), empresário Ismael Bicharra Filho, a cidade de Manaus está sitiada, precisando de intervenção imediata. “O movimento foi terrível no final de semana com esse terrorismo na nossa cidade. Cidade sitiada! Não é só agitação no centro da cidade, é Manaus inteira”, alerta.
Segundo ele, as redes sociais vêm fomentando o terror nas cidades. “O Brasil inteiro está se sentindo acuado, com medo de sair nas ruas. Cada vez mais as redes sociais continuam plantando esse terrorismo, é complicado”, lamentou. Bicharra lembra que o movimento nas lojas estava animador com as vendas de material escolar, mas que foram pegos de surpresa com a propagação de boatos que viram ocorrências policias. “O movimento do sábado e domingo, que é alto, caiu 70%”, lamentou.
O conselheiro efetivo do Conselho Regional de Economia no Amazonas (Corecon-AM), economista Pedro Monteiro, explica que foram as políticas econômicas inadequadas que afetaram todos os setores produtivos ao longo dos anos, no país, impactando o comércio varejista. “Esse resultado é reflexo da crise gerada por toda a questão da ingerência política que ocorreu nos últimos anos, que afeta de forma geral, mas principalmente o varejo”, avaliou.
Varejo
Neste cenário de instabilidade há quem diga que 2016 foi um ano para ser superado. O varejo, por exemplo, contabilizou uma queda de 6,6% no ano passado na comparação com 2015. Segundo dados do Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio este foi o pior resultado do varejo nacional dos últimos 16 anos. No entanto, especialistas afirmam que o prejuízo foi maior, uma média de 15%, em Manaus.
Bicharra discorda dos dados divulgados, afirmando que os indicadores divergem da realidade local, que pode dobrar o percentual apresentado pelo Serasa Experian. “É muito mais do que isso, infelizmente esses indicadores que são divulgados pela Serasa e pelo IBGE, eu não confio muito não. A queda na verdade girou em torno de 10% a 15% dependendo do segmento, sem contar a inflação”, afirma. Bicharra fez um levantamento em mais de 10 empresas de segmentos distintos. “A nossa empresa de cosméticos, por exemplo, fechou 2016 com 9% na comparação com 2015”, completou.
Na avaliação de economistas da Serasa Experian, com juros altos nos crediários, desemprego em alta, confiança ainda em patamar deprimido foram dificuldades enfrentadas pelos consumidores em 2016, impactando negativamente a atividade varejista, ao longo do ano. A maior retração do consumidor foi registrada no segmento de veículos, motos e peças, com queda de 13% em relação ao ano anterior.
Desafio de superação pela confiança do consumidor em cenário recessivo
Para 2017, que começou com clima de insegurança nas ruas, o desafio é superar a crise resgatando a confiança do consumidor através de medidas governamentais eficientes. “Nós estamos com uma situação muito difícil. O ano de 2017 vai ser de muita luta e de muita batalha. Nós estamos vendo o governo tomando medidas essenciais, que em poucos meses, os governos anteriores não tomaram em anos. Já foram elencadas 16 medidas que movimentam a economia e dá mais responsabilidade e proteção jurídica para os investidores”, avaliou Ismael Bicharra Filho.
Para o economista Pedro Monteiro os investimos e as vendas no varejo serão retomados quando a confiança do empresário e do consumidor começar a melhorar. “Esse é um processo lento, não é da noite para o dia que acontece. Na minha análise, a economia vai dar sinais de melhora a parti do segundo semestre de 2017. Mas, um a melhora significativa somente para 2018, mesmo”, disse. “O maior desafio para o varejo está no controle da inadimplência que está muito alta”, alertou.
A empresária Mercedes Braz lembra que, apesar da crise econômica, o mês de janeiro costumava ter movimento satisfatório com o período de férias e com as compras dos materiais escolares. Mas, o começo deste ano foi trágico para Manaus e para o todo o país.
“O ano começou super estranho. Eu tinha acabado de brindar desejando prosperidade para este ano e veio a notícia daquele massacre na penitenciária. Hoje o clima é de insegurança eu sou mediadora dos lojistas do shopping e tenho feito um pedido aos empreendedores: que olhem com carinho para nós lojistas que investimos aqui na cidade. Nós temos que ter esperança, se não nem conseguimos trabalhar. Eu continuo desejando um 2017 muito melhor do quê nós tivemos em 2016”, concluiu.
Indicador Nacional
O Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, aponta queda de 6,6% no movimento dos consumidores nas lojas de todo o país, em 2016 na comparação com 2015. Este foi o pior resultado do varejo nacional dos últimos 16 anos, ou seja, desde o início do levantamento da atividade comércio pela Serasa Experian.
O pior resultado até então havia sido o recuo de 4,9% em 2002 por causa da crise do racionamento de energia elétrica com a “Crise do Apagão”. Ainda segundo o Indicador, a maior retração do consumidor no ano passado deu-se no segmento de veículos, motos e peças, o qual registrou queda de 13,0% frente ao mesmo período do ano passado.
A segunda maior queda foi de 12,6%, observada no movimento dos consumidores nas lojas de tecidos, vestuário, calçados e acessórios. Também houve recuo significativo, de 11,1%, nas lojas de móveis, eletroeletrônicos e equipamentos de informática. Retrações menores ocorreram nas lojas de material de construção (-5,4%) e nos supermercados, hipermercados, alimentos e bebidas (-7,0%).