Os alimentos orgânicos têm ganhado espaço na mesa do consumidor brasileiro pelos benefícios ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Segundo entidades ligadas à agricultura no Amazonas, o Estado tem grande potencial para a produção deste tipo de alimento. No entanto, ainda faltam medidas efetivas e políticas públicas de incentivo. A boa notícia é que o produtor amazonense tem uma vantagem: o padrão da agricultura regional, normalmente associada a plantações com diversas culturas e de característica familiar, é ideal para a produção desse tipo de alimento.
O extensionista rural e responsável pelo setor de Apoio à Agroecologia e Produção Orgânica do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), Mário Ono, conhece de perto a agricultura da região, principalmente de municípios próximos à capital. De acordo com ele a maior parte da agricultura praticada é sem uso de agrotóxicos. “Muitas famílias de agricultores não têm dinheiro e acesso a insumos químicos, por isso acabam plantando com adubagem dos restos orgânicos como galhos, pequenos troncos e folhas”, explica.
De acordo com ele, as famílias também não têm acesso a informação ou formas de aderir a políticas públicas. Assim, acabam vendendo a produção sem saber o potencial dos alimentos orgânicos que produzem. “É muito mais fácil converter essa produção para o sistema de produção orgânico, do que a de outros estados que têm uma cultura de produção já viciada em químicos”, diz Ono.
Potencial
Na opinião do extensionista do Idam, a maioria das frutas e hortaliças cultivadas por agricultores familiares do Amazonas têm potencial para o mercado de orgânicos. E mais, segundo ele, alimentos típicos da região são os que têm maior potencial de vendas.
O engenheiro agrônomo Diego Souza de Carvalho vê em alimentos como carirú, jambú e o marupá as qualidades ideais para uma grande produção. “Elas são extremamente adaptadas ao nosso clima e produzem em grande quantidade. Levar isso para o prato do consumidor seria uma vantagem enorme para a nossa economia”, avalia.
De acordo com Ono faltam ainda políticas públicas para fazer com que o cenário dos orgânicos cresça na região. “Ainda falta muito para conseguirmos virar um grande produtor de produtos orgânicos. E isso passa pela construção de leis estaduais que dêem apoio e assegurem a produção desses alimentos no Estado”, diz.
Mercado em Manaus
Há 11 anos o engenheiro agrônomo, Diego Souza de Carvalho, decidiu investir na produção orgânica para consumo próprio. “Eu via sítios de hortaliças convencionais fazendo uso indiscriminado de agrotóxicos, sem nenhum respeito pelo tempo de carência desses insumos, era triste. Então comecei a produzir alimentos orgânicos para consumo próprio. Aos poucos comecei a receber pedidos de amigos e colegas e hoje virou negócio”, conta.
Diego hoje produz mais 60 tipos de hortaliças e 20 tipos de frutas que são vendidos em feiras e através de um delivery que ele mesmo realiza através do Whatsapp. Para o agrônomo as pessoas hoje estão mais conscientes dos benefícios e existe uma grande procura por frutas e hortaliças cultivadas sem agrotóxicos.
Ele atribui o preço, de 30% a 50% mais caro, do que o produto convencional, ao trabalho quase manual de cultivo. “A produção chega a ser artesanal: a adubação é trabalhosa, tem que catar a praga com mão e utilizar o que temos para permitir que cresçam sem o uso de insumos químicos”, explica.
Certificação
Atualmente não é qualquer pessoa que pode vender produtos orgânicos. É necessário ter selos e documentos emitidos pelo Ministério da Agricultura para realizar a comercialização. Ono explica que existem hoje três formas de venda dos orgânicos.
A primeira é através de uma certificação convencional, onde a propriedade contrata a certificadora que faz uma auditória. Se tudo estiver em acordo com lei, é concedido o selo de produto orgânico. Segundo Mário, o preço é razoavelmente alto, e isso pode ser um impeditivo para pequenos agricultores, os mais interessados nesse tipo de produção.
A outra forma é através dos Sistemas Participativos de Garantia (SPG), que são entidades jurídicas, como associações e organizações não-governamentais, que recebem aval do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para atuar como certificadoras. Mas o Amazonas ainda não possui nenhuma.
A terceira forma de comercializar produtos orgânicos é através da venda direta, feita a partir de uma cadastro que o produtor rural realiza no MDA que dá permissão para a venda diretamente ao consumidor. Não é permitido, entretanto, vender para qualquer intermediário como supermercados e atravessadores.