Pelo menos duas fabricantes de componentes do Polo Industrial de Manaus (PIM) estudam a viabilidade de transferência de operação de Manaus para o território do Paraguai. O motivo é o maior volume de encargos tributários exigidos no Amazonas em relação à s cobranças estrangeiras e ainda a concorrência com os produtos importados de países do continente asiático.
Segundo os empresários, a instalação das empresas no país vizinho pode representar redução significativa de custos a itens como a mão de obra, a infraestrutura e a logística. O gerente comercial da empresa GK&B, Júlio Sato, afirma que a produção industrial de uma fabricante instalada no Paraguai demanda gastos em um volume 40% menor do que é exigido pelo sistema tributário brasileiro imposto às empresas do PIM.
Sato informa que a empresa, que fabrica cabos de força e chicotes, desenvolve um estudo com uma simulação da possível transferência da fábrica para o solo estrangeiro.
Segundo o gerente, no levantamento a empresa analisa questões tributárias incidentes, no Paraguai, sobre a mão de obra, o frete dos produtos, questões de infraestrutura como a energia elétrica, entre outros. Somente na taxa de energia elétrica a empresa poderá economizar 50% sobre o valor cobrado atualmente na capital amazonense; além da redução de 40% com os gastos com a mão de obra. “ Trabalhamos com a esperança de obter resultados e se isso não acontecer até o segundo trimestre a empresa poderá fechar as portas. Estudamos a de transferência para o Paraguai. Estamos analisando os custos da operação no território vizinho. A unidade estrangeira deverá atender às fábricas brasileiras da região Sudeste com preço mais competitivo em relação ao fabricado em Manaus. Os encargos têm nos levado a repensar sobre a continuidade das atividades em Manaus”, disse.
Outro agravante citado pelo empresário à operação das fabricantes de componentes no Estado é a questão logística. Ele explica que em Manaus só é possível embarcar produtos, por meio da cabotagem, para a comercialização uma vez por semana com trajetos que duram 24 dias. Enquanto as cargas que saem do Paraguai são entregues após 36 horas aos Estados brasileiros. “ A logística nos permitiria maior fluxo de caixa. Indústrias multi nacionais que funcionavam nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro migraram as atividades para o Paraguai e enviam produtos para o Brasil. No nosso caso,c onseguiríamos ter redução de até 4% no preço do produto final, metade do que pagamos em Manaus”, frisou.
Sato relata que a empresa registra queda no faturamento nos últimos 3 anos em decorrência da crise econômica que atingiu o país. De acordo com o empresário, no primeiro bimestre deste ano o resultado foi 40% menor do que o registrado em igual período de 2016. Há três meses a fabricante funciona em um turno e a partir deste mês deverá iniciar um segundo turno com apenas uma linha de produção composta por 30 colaboradores. A empresa conta com 360 funcionários.
De acordo com o presidente da Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas (Aficam) , Cristóvão Marques, cinco empresas já fecharam as portas na capital amazonense e mudaram as instalações para o Paraguai. Agora, ele afirma que mais duas anunciaram a pretensão de mudanças, uma delas é a GK&B . “Os encargos tributários cobrados no Amazonas são altos em comparação às taxas exigidas no Paraguai. Por outro lado, há diversas taxas que não são cobradas no estrangeiro, o que reduz significativamente os gastos. É preciso, também, considerar a questão da importação dos componentes. Montadoras compram quites com embalagens, cabos e demais itens de países como a China a preços mais baixos e tiram a oportunidade de geração de renda do Amazonas”, ressaltou.
As fabricantes estrangeiras fornecem produtos como cabos, chicotes, embalagens e injeção plástica, similares aos produzidos no Amazonas por preços bem mais baixos. Na avaliação do economista e consultor, Francisco Mourão Júnior, a situação é preocupante e põe em risco a continuidade do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM). Para ele, o governo deve se preocupar em implementar as reformas tributária e trabalhista, além de analisar os custos demandados por infraestrutura. “ É necessário haver uma discussão ampla entre o governo e os representantes da Câmara dos Deputados e o Senado para tentar defender a ZFM. Estamos em um momento de ameaças e é preciso tornar o modelo atrativo. Como poderemos pensar em desenvolvimento econômico se não pensarmos em política de longo prazo? ”, questiona.