Criação de abelhas gera trabalho e capacitação para detentos no Pará

A produção de mel é um instrumento de ressocialização e profissionalização de internos custodiados pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Ssusipe), na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (Cpasi). Por meio do Projeto Nascente, desenvolvido desde 2013 pela Susipe, os detentos recebem orientações sobre meliponicultura – criação artesanal de abelhas sem ferrão -, para extração de mel.

Atualmente, 5 mil abelhas, das espécies Melípona flavolineata, conhecida como ouriço amarelo, e Melípona fasciculata, chamada de ouriço cinzento, são criadas em 40 caixas. Ambas são nativas da região amazônica. O período de coleta do mel geralmente é entre os meses de junho e janeiro.

Foto: Divulgação
Os internos são responsáveis pela limpeza da área e da caixa coletora, onde ficam as colmeias. Todo o mel retirado das caixas coletoras é vendido nos feirões promovidos pela Susipe no Museu Paraense Emílio Goeldi, no estacionamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e no estacionamento da sede da Susipe.

Assim como as borboletas, as abelhas também sofrem metamorfose, levando 40 dias para atingir a fase adulta. Após esse período, precisam de mais 40 dias para desenvolver suas funções, como rainha, operária ou zangão.

Mudanças

Nascido em Bragança, município do nordeste paraense, Francineis Pinheiro da Silva já tinha experiência no trato com outro tipo de abelha, mas com um processo diferente do que aprendeu no projeto. Para ele, a experiência está sendo positiva pelo novo aprendizado, e mais ainda pelo que está proporcionando em sua vida.

“Hoje eu penso muito diferente, tudo graças ao meu trabalho aqui dentro. Uma coisa que eu venho aprendendo muito é lidar com as pessoas. Muitas vezes, a pessoa diz que a cadeia é pra morte. Pra mim tá sendo uma coisa pra refletir na minha vida. A gente vê muita coisa má e muita coisa boa. O mal deixa passar, e fica só com as coisas boas, que é o que eu quero pra mim. Aprendi muita coisa que eu não sabia. Tá sendo ótimo!”, relatou o interno.

Além de ocupar o tempo ocioso e aprender um ofício, o trabalho na meliponicultura possibilita ao interno a redução da pena, pois de acordo com a Lei de Execução Penal (LEP) a cada três dias trabalhados, um dia da pena é remido.

Segundo Ivaldo Capeloni, diretor de Reinserção Social (DRS) da Susipe, a ocupação agregada ao aprendizado é sinônimo de bons frutos. “É muito importante para qualificar o ser humano, para que ele possa com essas qualificações exercer as ações da agropecuária. Mesmo na condição de preso ele está sendo produtivo, e o material está sendo comercializado e servindo para financiar a continuidade do projeto”, explicou.

O lugar destinado à atividade é semelhante ao habitat natural das abelhas. Mas para garantir uma boa produção alguns cuidados devem ser tomados, como manter sempre a área limpa, evitando a presença de predadores (formigas, tamanduás e mucura). Cuidados que, para os internos, se tornam aprendizado.

Foto: Divulgação
Charles Pereira, técnico assistente agropecuário que atua com os internos na meliponicultura, ressaltou que a teoria caminha junto com a prática. “Geralmente, são dois ou três internos que trabalham com as abelhas. Eles são responsáveis pela manutenção das caixas e colheita do mel. Enquanto eles fazem, eles aprendem, despertando curiosidades, estimulando as perguntas e a ampliação do aprendizado”, acrescentou.

Oportunidade

Na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel trabalham aproximadamente 160 internos em projetos, dentro e fora da unidade. O trabalho é uma oportunidade para os detentos retornarem à sociedade com qualificação. Para preencher uma vaga de trabalho é feita a triagem pelos setores técnicos, que incluem assistente social, psicólogo, fisioterapeuta e outros profissionais. Após a triagem, o detento é encaminhado ao projeto em que melhor se adaptar.

“Isso tudo facilita a vida dos internos. Quando eles retornam para a sociedade, é mais uma oportunidade de gerar um futuro digno e deixar para trás atos ilícitos”, concluiu o diretor da Colônia Penal Agrícola, Cláudio Matias.
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