Clima afetará mais a economia do Amazonas

Pensar os desastres naturais causados pelas cheias e secas na região, além da ótica socioambiental, como fatores que afetam também a economia regional, foram temas levados à discussão durante a abertura do seminário ‘Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima’, na última quarta-feira (14) em Manaus. Os debates sobre as mudanças do clima do país e questões relativas à vulnerabilidade das populações, segundo setores da sociedade e pesquisadores, pedem também a criação de políticas públicas sobre o tema. Algumas projeções dos estudos inéditos para o Amazonas apontam para os próximos 25 anos, dias mais quentes e mais secos, e para Manaus um aumento de mais de 4°C e uma redução percentual de até 15% no volume de chuvas. 

Foto: Walter Mendes/ Jornal do Commercio

Para o coordenador do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, Ulisses Confalonieri, algumas particularidades do Estado tornam o quadro catastrófico também para a economia. “Apesar de o Amazonas não ser uma potência agrícola, muitos dependem do extrativismo e qualquer mudança climática afeta essa produção. Existem ‘amazônias’ dentro da Amazônia, realidades diferentes de Estado para Estado. E aqui, a dependência dos rios é ainda maior, principalmente pela falta de estradas que impedem a chegada de bens aos municípios”, comenta.

De acordo com Confalonieri, mesmo que os estudos não levem em consideração aspectos econômicos, nada impede de que sejam usados por secretarias de produção e abastecimento, por exemplo. “Nossos estudos apontam municípios mais vulneráveis e os dados servem para basear ações preventivas e dar respostas mais rápidas e eficientes. Um desastre natural, como as cheias, afeta toda a cadeia produtiva do Estado, do abastecimento ao transporte, além de prejudicar saúde e educação”, ressalta.

Um dos aspectos estudados pelo projeto diz respeito à capacidade adaptativa dos municípios. Manaus e Presidente Figueiredo foram considerados os mais adaptados para lidar com as mudanças climáticas, devido à existência de infraestrutura de saúde, como leitos hospitalares, plano de contingência de desastres e presença da Defesa Civil. “Esses aspectos são levados em conta quando vemos os índices de desenvolvimento dos municípios. É comum, inclusive que estes recebam mais recursos federais, garantindo melhor qualidade de vida e a chegada de investimentos”, afirma Confalonieri. Ainda no estudo, a região do Vale do Rio Negro, representada por Santa Isabel do Rio Negro seria a cidade menos adaptada.

Políticas públicas

As previsões fazem com que se pensem em políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, explica o secretário Executivo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), Luís Henrique Piva. “É hora de um novo olhar do Estado sobre o tema, hora de saber como isso se encaixará nas estratégias do governo, seja em produção, defesa civil ou saúde”, disse.

Segundo o secretário executivo, as mudanças se aproximam rapidamente. “Em pouco tempo, esse compromisso com o aquecimento global e outros fatores, deixará de ser voluntário, passando a ser mandatório. O Amazonas foi pioneiro com a Lei Estadual de Mudanças Climáticas em 2007. A proposta foi inovadora e serviu de exemplo para 12 outros Estados na construção de suas Leis”, lembra Piva.

Para Confalonieri, ações como a criação da Lei afirmam os compromissos dos gestores, mas a sociedade tem papel fundamental no processo. “No interior, o que sugiro é a criação de conselhos que tratem do assunto, assim como há conselhos de comércio, indústria e outros. Isso é fundamental para o recebimento de recursos”, disse o coordenador.

Compartilhando conhecimento
A instabilidade institucional é um dos fatores que dificultam a formação de políticas públicas. “Tem sido difícil. Muitas vezes as propostas são apresentadas e recebem acenos positivos, mas quando acontece a sucessão dos gestores, temos que começar do zero. Aí entra a importância das universidades federais e estaduais na atração e retenção de pesquisadores e no compartilhamento das ideias, já que não dependem de bandeiras partidárias”, conclui Confalonieri.
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