Armadilhas para o endividamento

Quatro em cada dez consumidores brasileiros (38%) afirmaram finalizar 2017 sem conseguir pagar todas as contas, dizem os dados do Indicador de Propensão ao Consumo calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). No Amazonas, em média, 68% das famílias se encontram endividadas, segundo o presidente do Sindicato dos Economistas do Amazonas (Sindecon -AM), Marcus Evangelista.

  Para o especialista, o motivo principal do endividamento, é o mal uso do cartão e do cheque especial, pois a grande parte das pessoas confunde o limite desses dispositivos com o salário.
“Esse limite oferecido pelas operadoras não faz parte da renda familiar, e sim, das financeiras. Elas querem que as pessoas usem seus cartões e cheques, e se aproveitam das mídias com a indução de emoções para que as mesmas comprem mais do que podem. Com isso, esse cliente acaba se enganando na compra parcelada, achando que as pequenas parcelas não irão se somar. Quando chega a fatura, essas parcelas estão, na maioria das vezes, acima da capacidade financeira do usuário”, afirma Evangelista.
Segundo o economista, é nessa hora que a maioria se enreda ainda mais com as dívidas. “O endividado opta por pagar o valor mínimo, ficando a mercê no juros de 200% ou 400% ao ano, sendo juros impagáveis. É justamente neste ponto que ocorre o trampolim do endividamento. Um vez que quando a pessoa entra nesse processo, ela não sai mais”, explica.
Para quem deseja sair da inadimplência, Evangelista indica que o primordial é que se tenha a ciência da dívida. “Muitas vezes, as pessoas sabem que estão endividadas e continuam fazendo novas dívidas. O segundo passo, é que tirem o cheque especial e o cartão de dentro da carteira, guardem ou cortem, para não caírem em tentação. Posteriormente, liguem para a financeira buscando o levantamento do quanto é o total da dívida”, disse. 
O próximo passo, segundo o economista, é conversar com a família para sugerir cortes de despesas como cabeleireiro, lavagem de carro, restaurantes e compra de luxos para ver o quanto sobra no mês, após essas medidas. “Dentro dessa sobra, indico que as pessoas liguem para financeira para negociar um parcelamento que fique dentro do valor que sobrou no corte mensal delas. E se negociar acima do valor economizado no mês, elas ainda irão ter problemas maiores no futuro”, salientou.  

Foto: Divulgação 
Levantamento
Para o coach, educador financeiro e assessor de investimentos da Dsop Educação Financeira, André Torbey, a dica primordial para iniciar o ano sem dívidas no cartão de crédito ou cheque especial, é fazer o levantamento das dívidas e ver qual é a real capacidade de pagamento delas. “Também é válido as pessoas verem se é possível, ou válido, realizarem o refinanciamento destas, para que as parcelas caibam no orçamento. Na sequência, sugiro fazer aquele bom e velho mapeamento financeiro para a pessoa saber onde e como ela tem gastado o dinheiro, para que possa realmente controlar mais as finanças”, explica.
Torbey indica que esse mapeamento financeiro pode ser realizado tanto com uma agenda, quanto por aplicativo de celular e planilha de computador. “Só não pode esquecer de fazer a reflexão em cima de suas dívidas e como pagá-las, gerando uma transformação onde ela terá o controle de suas dívidas, para que até o final do ano seus objetivos sejam alcançados”, finalizou especialista.

Dados Nacionais
De acordo com a Dsop Educação Financeira, mais de 59,9 milhões de pessoas no Brasil estão com contas em atraso ou nomes negativados. Sendo 39,5% da população com idade entre 18 e 95 anos, segundo dados do SPC Brasil e da CNDL (referentes a novembro do ano passado). A Dsop indica cinco passos para que as pessoas saiam das dívidas em 2018:
1– É preciso, com determinação e coragem, encarar os números e analisar a situação, colocando tudo no papel. Portanto faça um diagnóstico financeiro completo, anotando todas as suas dívidas, nome do credor, valor devido, taxas de juros, prazo e característica. Em seguida, separe os itens “essenciais” (como água, luz, telefone, condomínio) e “não essenciais” (como um contrato de TV a cabo ou conta de celular dos filhos, se tiverem).
2– Em um momento de acúmulo de dívidas e dificuldade em pagar todas, é preciso priorizar as contas essenciais, evitando o corte de serviços indispensáveis para a família, e verificar o que pode ser eliminado ou ter seu custo reduzido. Além disso, é preciso ter atenção com as dívidas sobre as quais incidem maiores juros, como cheque especial e cartão de crédito.
3– Para sair das dívidas é importante fazer um diagnóstico financeiro, anotando por 30 dias todos os gastos separando por categorias (como alimentação, transporte, vestuário, educação, guloseimas, etc.). Analise as despesas tendo a certeza de que você tem condições de reduzir, em média, 25% do valor de cada uma delas ou até mesmo eliminá-las. O comportamento é a raiz do problema do endividamento, então considere que este é o momento de mudar seus hábitos para sair dessa situação de forma definitiva.
4– Antes de procurar os credores, é preciso ter certeza do quanto, advindo da economia mensal, você irá dispor para pagar as parcelas da dívida após a renegociação. Se não houver condições de pagar, é melhor nem procurar os credores, e sim organizar a situação primeiro. O ditado popular se aplica a esse caso: “devo, não nego, pago quando puder”. 
5– É indicado procurar primeiro os credores das dívidas essenciais e de juros mais altos e só fazer o acordo se a parcela couber em seu orçamento mensal. O ideal é que pague o valor renegociado e dê início a estratégia de poupar dinheiro mensalmente, para ter maior força para sair dessa situação. O hábito de poupar é algo que deverá levar consigo por toda a vida, deixando de ser endividado e inadimplente e se tornando alguém educado financeiramente, que se planeja para conquistar sonhos constantemente.
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