Acordos garantem vagas no Polo Industrial de Manaus, com renda menor

  

O enfraquecimento do mercado de trabalho e a crise econômica foram apontados como principais causas para a redução de horas extras na indústria, uma tentativa de frear custos de uma produção que se encontra em marcha lenta. Em junho de 2016, segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) os custos da indústria amazonense com salários, encargos e benefícios sociais (excetuando temporários e terceirizados) foram de R$ 2.612.240.944 (com R$ 160.908,2 apenas para eletroeletrônicos/bens de informática), fazendo com que as expectativas até o fim do ano sejam parecidas com os números de todo o ano de 2015, que teve custos de R$ 5.475.172.861.

Dos empregados nas 457 empresas do PIM em junho de 2016, 30.636 estavam na faixa até um salário mínimo e meio (R$ 1.320); 16.066 entre 1,5 e dois salários; 18.616 recebiam de dois a quatro salários mínimos e 6.119 de quatro a seis s.m.. Nas faixas de seis a 10; de 10 a 15 e acima de 15 salários mínimos, os números foram de 4.337, 1.744 e 1.311, respectivamente.

Reduzir horas extras

Foto: Walter Mendes/Jornal do Commercio

O artifício usado no PIM pode ajudar a conservar vagas, mas representa redução de renda e poder de consumo do trabalhador. Segundo os dados nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o fim do segundo trimestre deste ano, a parcela de pessoas que trabalhavam em jornadas diárias de 10 horas (49 ou mais horas por semana) esteve restrita a 10,9%, ou 6% a menos do registrado em 2012, ano de início da série histórica.

A redução nas horas extras é mais uma das soluções temporárias da indústria para manter vagas, junto com as férias coletivas e o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Segundo o economista Francisco Mourão Júnior, são esses acordos que têm garantido empregos. “No caso da redução de extras, esta é a melhor opção para se manter o emprego. É bom ter essa segurança, o que também viabiliza negócios. Já que o fornecedor de serviços e produtos também estará seguro”, conta o economista.

Mas a redução na renda do empregado acaba criando um círculo de quedas, iniciado nas baixas vendas do comércio. “Com menos vendas a esses trabalhadores, o comércio não aciona a indústria para novos pedidos. O que é perigoso, pois há tempos a indústria não opera em sua capacidade plena. Isso pode refletir no Produto Interno Bruto (PIB), causando demissões”, afirma Mourão. A isso se somam outros fatores, conta o economista. “Inflação em alta, endividamento e a incerteza de estar empregado, inibem o consumo”.

De acordo com Mourão, a espera por dias melhores pode se estender ainda mais. “Os primeiros meses do governo Temer não serão suficientes. A alta no PIB e a estabilidade da economia estão previstas para 2017 apenas. O fim do ano, na questão trabalhista, ainda nos reserva os acordos sobre dissídios. Daí vêm os reajustes, que tendem a acompanhar a inflação, mas ainda é cedo para números”, ressalta.

Comércio atento

A queda da renda dos empregados no PIM (entre efetivos, temporários e terceirizados) afeta principalmente o comércio, conta o gerente de vendas, Wanderley Teixeira. “Muita gente usa das extras para aumentar os ganhos e com a redução destas, há menos renda e menos consumo. Entre os temporários é ainda mais difícil, a incerteza em saber se vai continuar ou não no cargo tem inibido as vendas”, fecha.

Ajustes

Em 2012, com a economia aquecida e grande demanda para a indústria, a saída foi usar de horas extras para acompanhar a produção. Já em 2016, o grupo das 10 horas diárias tenta se encaixar entre os que trabalham 40 e 44 horas semanais. E este mesmo grupo já reduziu as extras em 5,9 pontos percentuais, registrando 11,8% nesse segundo trimestre.

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