Entender as assimetrias geopolíticas do Setentrião brasileiro requer familiaridade com obras seminais relativas à história, àcultura, à antropologia, à sociologia
Como exercício intelectual, dedico-me intensamente a escrever artigos ou ensaios, muitos deles transcritos no meu livro “Economia do Amazonas – Visões do Ontem, do Hoje e do Amanhã”, de 2016. A cada livro lido, contudo, sentia falta de uma literatura que envolvesse os dois ciclos referenciais da economia estadual: o da borracha (findo por volta de 1912/1914) e o da Zona Franca, iniciado em 1967. Entre os dois (de 1914 a 1967), o extrativismo, que se ocupa à caça e produção de peles de animais selvagens, de óleos essenciais de pau rosa, andiroba, copaíba, cumaru, extração e exportação de madeira, breu, balata, sorva, piaçava, borracha, castanha do Brasil, pesca. Não obstante o primitivismo que as caracteriza, essas atividades garantiram relativa estabilidade sócio-econômica e alguns serviços essenciais como educação, saneamento e saúde ao amazonense.
“Da Economia da Borracha à Zona Franca de Manaus”, que acabo de lançar em parceria com a EDUA/UFAM, pauta a questão de forma encadeada e conexa, num só volume, simplificando a análise e o entendimento dos fundamentos conjunturais. Em síntese, configura um esforço de pesquisa com vista a desvendar certos parâmetros obscuros que cerceiam uma melhor compreensão de nossa história econômica. A obra destina-se, essencialmente, a professores e alunos do segundo grau, a estudantes e profissionais da Economia, Administração, Direito, História, Geografia, Literatura, Comunicação Social, etc.
Com Prefácio do empresário Jaime Benchimol, Apresentação do economista Rodemarck Castello Branco, Orelha do professor Sérgio Freire, diretor da Edua, e quarta capa do reitor da Ufam, Sylvio Puga, o livro detém-se, sem receios, sobre vácuos que, no meu entendimento, impediram à ZFM alcançar ritmo de crescimento mais consistente. Evidentemente, o modelo deu certo, porém parou no tempo, defasou-se por fadiga de materiais. Tanto num ciclo quanto noutro, observa-se forte dose de improvisação de gestão com visão de futuro, fator que vem contribuindo fortemente para manter a região na condição de mecanismo de espera. Não se sabe até quando, mas a triste realidade decorre de que enquanto o Brasil permanece de costas para a Amazônia, a região mantém-se firme, porém indefesa e fragilizada de frente para o mundo e para o futuro. Daí a obrigatoriedade de se conhecer as bases conceituais de sua história econômica, passo fundamental para entender o passado, compreender o hoje e projetar o futuro.
De fato, entender as assimetrias geopolíticas do Setentrião brasileiro requer familiaridade com obras seminais relativas à história, à cultura, à antropologia, à sociologia, e por extensão às vocações da economia regional, onde se insere a bioeconomia. Nesses termos, torna-se obrigatório estudar os clássicos, os desbravadores dos mistérios do pensamento amazônico. Na linha de frente, Ferreira de Castro, Alberto Rangel, Arthur Cézar Ferreira Reis, Sócrates Bonfim, Cosme Ferreira Filho, Samuel Benchimol, Bertha Becker, Armando Dias Mendes, Leandro Tocantins, Alfredo Homma, Etelvina Garcia, Ozório de Menezes Fonseca, Adalberto Val, Márcio Souza, dentre outras inteligências que despontam como precursores, uns; difusores, outros, das bases do conhecimento científico do bioma.
Forçoso reconhecer, aqui e alhures, alto grau de desconhecimento da região. Pergunte-se a governadores, vereadores, deputados, alunos do ensino médio ou de cursos superiores, a membros do IGHA ou da Academia de Letras, o que é Zona Franca de Manaus? A maioria superlativa tem apenas parcos, meros e distanciados conhecimentos a respeito, o que torna ainda mais difícil a adoção de políticas públicas adequadas à correção dos pontos de estrangulamento que emperram a modernização e o avanço do modelo. O fato leva à óbvia conclusão de que chefes do Executivo, ocupantes de cargos públicos e políticos têm ou deveriam conhecer o “modelo”para ter certeza do que fazer na cadeira que eventualmente ocupe.
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