Pará avança estruturação da bioeconomia no estado

O governo paraense tem procurado caminhar em duas trilhas: ações de comando e controle para reduzir o desmatamento e políticas de desenvolvimento verde

O governador Helder Barbalho, do Pará, tem-se valido dos avanços na produção de cacau e cupuaçu para divulgar o sucesso que vem alcançando a produção de chocolate no Estado. Num evento de sustentabilidade num hotel de luxo em São Paulo, em março, o governador fez distribuir barras de chocolate, afirmando: “Aquitem bioeconomia do Pará duas vezes. No cacau e no cupuaçu”. Cada pessoa na plateia recebeu amostras do chocolate da marca Gaudens para degustar e também uma pequena brochura com o sumário do “Plano de Bioeconomia do Estado do Pará”. Durante a COP27, no Egito, em novembro, uma versão em inglês do material foi distribuída aos participantes. O governador vem adotando semelhante estratégia mercadológica em eventos nacionais e internacionais, durante os quais empunha a bandeira da economia da floresta em pé. O propósito último é viabilizar a realização da COP30/2025 na Amazônia, com sedes compartilhadas em Belém e Manaus.

Pará avança estruturação da bioeconomia no estado – Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

O governo paraense tem procurado caminhar em duas trilhas paralelas: ações de comando e controle para reduzir o desmatamento, de um lado, e políticas de desenvolvimento verde, de outro. As duas estão contempladas sob o guarda-chuva do Plano Amazônia, anunciado em 2020. O documento reúne metas de redução de desmatamento e de emissões — visando, assim, tornar carbono neutro no uso do solo e das florestas até 2036. E também lançar as bases de políticas de desenvolvimento a partir dos ativos ambientais. “Desprovidos de comando e controle, não iremos a lugar nenhum; apenas com comando e controle, também não avançaremos”, diz Barbalho.

O site do governo paraense informa que as iniciativas para destravar valor dos ativos florestais têm chamado atenção da iniciativa privada. A estratégia compreende a criação de cadeias de valor a partir de insumos , a chamada bioeconomia, e de projetos de preservação e recuperação de florestas degradadas, bancados por mecanismos financeiros de pagamento por serviços ambientais, como os créditos de carbono. O plano de bioeconomia, o primeiro elaborado por um Estado brasileiro (atualmente o governo federal trabalha o seu), identificou 43 produtos que podem gerar receitas de US$ 120 bilhões por ano.

“Com toda a nossa biodiversidade, a Amazônia responde por apenas 0,2% da receita com bioeconomia no mundo. É insignificante”

Elder Barbalho, governador do Pará

O plano indicou 89 ações a serem tomadas para criar condições de atrair investimentos, como a incubação de startups, a implantação de um bioparque para ser um centro de conhecimento e pesquisas, e a criação de políticas públicas e linhas de financiamento para a pesca artesanal, entre outras. Uma das frentes mais aguardadas por investidores e empresas tem por alvo o programa de concessão de áreas públicas para reflorestamento no qual o governo está trabalhando. O Estado tem uma meta de restaurar 5,4 milhões de hectares até 2030.

Conforme anunciado em Londres há duas semanas, durante a posse do Rei Charles III, da Inglaterra, o Pará está retomando um plano para conceder à iniciativa privada áreas públicas de floresta destinadas ao desenvolvimento de projetos voltados à geração de créditos de carbono a partir do “desmatamento evitado”, o chamado REDD+, conduzidos individualmente por empresas privadas, de acordo com metodologias desenvolvidas por certificadores internacionais totalmente auto regulados.

Pará avança estruturação da bioeconomia no estado – Foto: Divulgação

Um dos principais pressupostos da operação diz respeito a concessões florestais para restauração ambiental. Conceito que se refere à obrigatoriedade do retorno ao estado original da área, da mesma forma que eram antes de serem modificadas pela interferência do homem. “A ideia é tomar grandes maciços de áreas públicas não destinadas, desmatadas ilegalmente, e proceder a regularização e reintegração de posses, transferindo-as posteriormente à iniciativa privada para o restauro”. Há entre 7 milhões a 8 milhões de hectares de terras estaduais não destinadas, cerca de 20% a 30% deles desmatados clandestinamente.

A elaboração do plano, em curso, está a cargo de um um grupo de trabalho integrado por representações do setor público e da iniciativa privada. 

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/INPA) e do Conselho Regional de Economia do Amazonas (CORECON-AM).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

1° do Norte: autor amapaense Gian Danton recebe principal título dos quadrinhos no país

Com mais de 30 anos de carreira, Gian Danton consolida posição de Mestre do Quadrinho Nacional entre os principais nomes do país. Título é considerado o mais importante do Prêmio Angelo Agostini.

Leia também

Publicidade