O Brasil divulgou, por meio da Embrapa, o potencial e as soluções para produzir de forma sustentável, minimizando impactos de mudanças climáticas
Durante o encerramento da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), na sexta-feira, 12, o Brasil divulgou, por meio da Embrapa, o potencial e as soluções para produzir de forma sustentável, minimizando impactos de mudanças climáticas por meio dos mapas de carbono orgânico do solo, com ênfase no exemplo da fixação biológica de nitrogênio, ambos desenvolvidos em seus laboratórios. Enquanto isso, sobre a liberação de recursos do Fundo de US$ 100 bilhões anuais aprovado na Paris 2015, nenhum avanço, além das promessas de sempre. Igualmente, o affair Fundo Amazônia, bloqueado desde 2019 por seus subscritores, Noruega e Alemanha, continua insoluto.
Inobstante manifestações agressivas contra o Brasil, protagonizadas por correntes políticas que torcem pelo pior, contra o país, e suas conexões negativistas interacionais, o próprio presidente da COP26, Alok Sharma, em visita à Embrapa Cerrados, em agosto passado, chamou a atenção para a importância de compartilhar a experiência da nossa ciência com outros países”. Para ele, a agricultura é parte da solução e não dos problemas que causam as mudanças climáticas”, disse o pesquisador, referindo-se ao potencial da ciência para garantir sustentabilidade, antevendo desafios e antecipando soluções para o mundo.
A propósito, sobre devastação das florestas e degradação do meio ambiente, estudos da Embrapa Territorial informam, ao contrário, que, considerando áreas protegidas e preservadas agregadas às de vegetação nativa das terras devolutas e militares, e dos imóveis rurais ainda não cadastrados ou disponíveis no CAR, num total de 564 milhões de hectares, o equivalente a 43 países e 5 territórios da Europa. Isto é, 66,3% do território nacional está destinado e/ou ocupado com as várias formas de vegetação nativa, cuja natureza e estado variam bastante entre os diversos biomas.
Em relação à Amazônia, após duas semanas de exacerbadas discussões, protestos, promessas, falsos compromissos, restou o mesmo das Conferências e Protocolos predecessores. Excetuando-se as propostas brasileiras apresentadas por CNA, CNI, governo e pesquisa, não foi apresentada nenhuma solução disruptiva concreta, em termos tecnológicos e de aportes internacionais de recursos para juntar-se ao esforço próprio da ciência e dos empreendedores brasileiros voltados ao trinômio produzir, preservar, desenvolver. De todo modo, na sexta-feira, 12, último dia da COP26, durante o Painel Científico para a Amazônia (SPA) foi lançado um Relatório de Avaliação sobre os nove países integrantes da Pan-Amazônia.
Confirmando o descaso e o desrespeito desses foros em relação à inteligência local, nenhum pesquisador ou cientista amazônico, os que efetivamente formulam e sistematizam conhecimentos técnicos sobre a região, tomou parte do Painel SPA. Como discutir Amazônia descartando nossas universidades, centros de pesquisa, a Suframa, a Sudam, os governos estaduais, as representações empresariais e políticas? Indiscutivelmente, uma afronta ao Brasil e à nossa região. Frustrado com tal desconsideração, o cientista Adalberto Luiz Val, ex-diretor geral do Inpa, membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC) e eleito semana passada como membro da Academia Mundial de Ciência ((TWAS, na sigla em inglês), discutindo comigo o assunto, afirmou: “Por que chamar alguém da UnB para falar quando aqui temos muitos cientistas, entre eles Niro Higuchi e Philip Fearnside que ganharam o Prêmio Nobel em conjunto com outros pelo belo trabalho que fizeram no IPCC?”
Um ultraje, inaceitável prova de indiferença e descaso em relação à comunidade científica amazônica. O mais estranho ainda é o fato (recorrente) de que tal desapreço não desperta indignação da Academia ou da pesquisa localmente. As coisas acontecem porque acontecem, simplesmente aceitas são? Em resumo, o documento do SPA, de 10 itens, considera o óbvio: a) o estoque de carbono na Floresta equivale a cerca de 10 anos de emissões globais de gases de efeito estufa; b) o balanço de carbono nas áreas intactas da floresta é negativo; c) os incêndios e a degradação florestal a longo prazo estão reduzindo a qualidade dos solos, emitindo gases causadores de efeito estufa, reduzindo a capacidade da Amazônia de funcionar como um sumidouro de carbono. Com pequenas variantes, as mesmas constatações de COPs anteriores. O ambientalismo, longe da realidade e ignorando as propostas do governo brasileiro, da CNA, CNI e da Embrapa e de alguns estados, apenas se repete, frustrando expectativas de governos parceiros e da comunidade internacional.
Enquanto isso, o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em discurso na segunda-feira, 8, em Glasgow, citou o Brasil como um dos países que precisa liderar o debate sobre a questão climática e do meio ambiente. Obama foi definitivo: “Precisamos de economias avançadas como os EUA e a Europa liderando essa questão. Mas também precisamos da China, Índia, Rússia, Indonésia, África do Sul e Brasil. Não podemos permitir ninguém à margem”, afirmou ao criticar a ausência dos presidentes Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia. “Foi particularmente desanimador ver os líderes de dois dos maiores emissores do mundo, China e Rússia, se recusarem a comparecer ao evento, um indicativo, de ambos os países, da vontade de manter o status quo”, concluiu.
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