COP 28, mais um final melancólico sem acordo sobre os temas centrais do clima

A delegação brasileira, segundo alguns de seus expoentes, reconheceu que o resultado da COP28, foi forte em sinais, mas fraco em substância.

COP, ou Conferência das Partes, reunião anual dos 197 países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança do Clima (UNFCCC), refere-se ao tratado ambiental internacional adotado em 1992 para estabilizar as emissões globais de gases de efeito estufa. O termo “Parte” refere-se a um país ou bloco de países (como a União Europeia) que aderiu a um acordo internacional, como a UNFCCC ou o Acordo de Paris, de 2015. Desde que entrou em vigor, representantes dos países signatários passaram a se reunir normalmente no fim de cada ano para discutir o progresso relativo à implementação do tratado e dar continuidade às discussões sobre a melhor forma de monitorar as modificações climáticas e ambientais. 

Entre os grandes objetivos das COPs está a mitigação das emissões de gases do efeito estufa, que geram as mudanças climáticas. A mitigação pode significar o uso de novas tecnologias e fontes de energia renováveis, tornando os equipamentos mais antigos mais eficientes em termos energéticos ou mudando as práticas de gestão ou o comportamento do consumidor. Autoridades, líderes ambientalistas e a comunidade internacional esperam que os países mostrem como estão planejando implementar a chamada do pacto de Glasgow (2020), revisar seus planos climáticos e criar um programa de trabalho relacionado à mitigação. Isso significa apresentar metas de emissões mais ambiciosas para 2030, já que a UNFCCC destaca que os planos atuais ainda não são suficientes para evitar um aquecimento catastrófico.
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), em Dubai. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A primeira edição foi a “ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro entre os dias 3 e 14 de junho de 1992. Chamada também de “Cúpula da Terra” reuniu chefes de Estado, representantes de 179 países, organismos multilaterais, milhares de organizações não governamentais e contou também com a participação direta da população. A ECO-92 representou um marco nas discussões sobre preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Dois importantes documentos resultaram da Conferência: a “Declaração do Rio”, integrada por 27 princípios universais, e a “Agenda 21”, instrumento de planejamento voltado à construção de sociedades modernas viabilizadas por ações de suporte técnico que permitissem aos países signatários, a partir dele, elaborar e implementar medidas orientadas ao desenvolvimento sustentável, a ser alcançado por meio de um conjunto abrangente de frentes determinadas.

Segundo observadores especializados da cena ambientalista predominante nas COPs, e particularmente durante a COP28, realizada em Dubai, Emirados Árabes Unidos, encerrada na quarta-feira, 13, só há uma certeza sobre a crise climática: a de que deverá piorar. Convicções originárias da escalada de fenômenos extremos que há décadas vêm se multiplicando em ocorrências e magnitude. A despeito do alto nível de autoridades presentes à COP28, o que mais despertou atenção foi o fato inexorável segundo o qual a Cúpula mais uma vez não conseguiu fechar compromissos objetivos e definitivos. O acordo de Dubai, após duas semanas de negociações, para ambientalistas, falhou ao não ter conseguido “enviar potente sinal aos investidores e formuladores de políticas públicas de que o mundo agora está unido para dar fim ao uso dos combustíveis fósseis, algo que os cientistas afirmam ser a última e melhor esperança para evitar uma catástrofe climática”.

O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, reconheceu que “nas discussões do texto, mais de cem países fizeram lobby por uma linguagem forte, para incluir a expressão “eliminar gradualmente” o uso de petróleo, gás e carvão, mas encontraram oposição do grupo de produtores de petróleo liderado pela Arábia Saudita, a Opep. Além de ter afirmado não haver critério científico para eliminação dos combustíveis fósseis, ponderou: “Nós trabalhamos muito para garantir um futuro melhor para nosso povo e nosso planeta. Devemos nos orgulhar de nossa conquista histórica, pois a Conferência foi “inclusiva” e acolheu nomes de governos e do setor privado”.

A delegação brasileira, segundo alguns de seus expoentes, reconheceu que “o resultado da COP28, forte em sinais, mas fraco em substância, significa que o Brasil precisa assumir a liderança até 2024 e estabelecer as bases para um acordo da COP30, em Belém, de sorte a atender “às comunidades mais pobres e vulneráveis do mundo e à natureza”. A Cúpula no Brasil, em 2025, acreditam autoridades, ambientalistas e o empresariado engajado “terá a missão de atualizar as metas climáticas dos países, as chamadas NDCs, trabalhando em sintonia estreita com a presidência da COP28 e da COP29, que se realizará em 2024 em Baku, capital do Azerbaijão”. 

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/INPA) e do Conselho Regional de Economia do Amazonas (CORECON-AM).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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