Além de um desrespeito ao Amazonas, que, há décadas luta pelo estabelecimento de uma integração rodoviária com o resto do país, a Veja traiu a confiança de uma fonte.
A revista Veja, no dia 10 de fevereiro, por meio do repórter Eduardo Gonçalves, entrou em contato comigo, informando estar “fazendo uma matéria sobre a BR-319 para a edição desta semana. Podemos conversar rapidamente?”. Em seguida, prossegue informando quanto ao interesse em “um ponto de vista histórico sobre o processo de desenvolvimento do Amazonas”, e ainda que “Professores de história e de economia que estudam o tema me indicaram o senhor como a melhor fonte para falar sobre isso. Pode ser hoje por telefone? Que horas é melhor para o senhor?”. Em seguida, Gonçalves enviou um questionário com seis itens, como segue:
1) Como o senhor vê o debate que acontece há anos sobre desenvolvimentismo versus ambientalismo na Amazônia? Acha que um anula o outro ou não? Como fazer esse equilíbrio?;
2) Como o senhor vê a infraestrutura do Amazonas em comparação com outros estados e até países vizinhos? Construir ou reconstruir rodovias, como a BR-319, seria uma solução básica para enfrentar essa situação de isolamento? Há outras soluções possíveis?”;
3) “Além da BR-319, há outras estradas, pontes ou projetos viários abandonados no Amazonas que deveriam receber a atenção do poder público?;
4) Independente dos governos, a Amazônia continua sofrendo com o desmatamento e as queimadas;
5) Na sua opinião, o que o senhor pensa sobre a reconstrução da BR-319, e, finalmente,
6) Com base nos livros que escreveu e na experiência dos cargos que ocupou, gostaria de pedir que o senhor fizesse um panorama histórico da economia no Amazonas, relacionando a infraestrutura da região com as diferentes visões de mundo que imperaram em cada época dos anos 70 até agora. É possível?”.
Excelente temática, reconheça-se. Assim, elaborei extenso documento técnico a respeito, enviado ao repórter Eduardo Gonçalves. Desgraçadamente, porém, a reportagem da revista resultou num tremendo fiasco, considerando a ênfase política conferida à matéria, essencialmente centrada em críticas contundentes ao governo Federal, fora completamente do foco proposto. Além de um desrespeito ao Amazonas, que, há décadas luta pelo estabelecimento de uma integração rodoviária com o resto do país, o repórter de Veja traiu a confiança de uma fonte que trabalhou alguns dias para lhe enviar, sem qualquer interesse comercial, relatório circunstanciado sobre o drama da BR-319 e as frustrações do amazonense acumuladas há décadas face aos adiamentos sem fim da conclusão de uma obra essencial ao crescimento econômico do Estado.
A rodovia BR-319, informei à Veja, é essencial à integração do Amazonas ao complexo geopolítico e econômico brasileiro. Por que ser contra à sua revitalização, uma estrada existente desde os anos 1970? Ao que penso, por simples e rasteira mania a qual se agarram certos setores do governo, da mídia desinformada e de Ongs radicais, cuja visão de Amazônia restringe-se ao que assistem em eventos promovidos aqui e alhures. Sim, porque a grande maioria desses pretensos “salvadores” da região jamais puseram os pés em nosso solo, mas dão palpites como se soubessem em que bacia hidrográfica se situa o rio Pauini, por exemplo.
O Brasil ora realiza vasto programa de obras do complexo rodoferroviário, essenciais à integração da matriz e logística de transporte de cargas e passageiros, saneamento básico, integração do Rio São Francisco, construção do canal adutor do Sertão Alagoano, integração de bacias hidrográficas, construção, conservação e recuperação de estradas, etc. Quantas destas obras beneficiam exatamente o Amazonas? Fora a BR-319, nenhuma.
Enquanto isso, o gigantesco déficit infraestrutural do Estado alarga-se exponencialmente. Visões distorcidas e mal intencionadas sobre nossa economia, todavia, deverão persistir indefinitivamente no vácuo da ausência de planejamento estratégico e da adoção de políticas públicas realísticas, instrumentos essenciais à promoção do desenvolvimento econômico sustentável, ao fim e ao cabo a única forma de preservação efetiva do bioma amazônico.
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