No Amazonas, cadeias produtivas voltadas à produção de alimentos, exploração dos recursos da biodiversidade, ao ecoturismo, ao manejo florestal sustentável podem florescer desde que se realizem os investimentos necessários em P,D&I.
Estudos especializados da Embrapa e das mais importantes escolas agrícolas do Brasil concluem, a uma só voz, não haver dúvidas de que um dos maiores desafios da humanidade no século XXI consiste em compatibilizar a oferta de alimentos e energia a toda a população do planeta, preservando-se os recursos naturais. Nesse intrincado desafio, cabe ao agronegócio posição de destaque. Entidades de alta respeitabilidade mundial, como o USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, fundado por Abraham Lincoln em 1862, 105 mil funcionários, vem mostrando que nos próximos dez anos a oferta mundial de alimentos vai continuar crescendo.
Dados da FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, concluem que até 2050, quando a população global ultrapassará 9,3 bilhões de pessoas, a produção de alimentos deverá aumentar em mais de 50%. Para o USDA, o Brasil, onde a produção do agronegócio vem se expandindo de forma mais consistente, deverá responder por 41% do esforço mundial. Estudos do ex-ministro da agricultura e professor da Esalq, Roberto Rodrigues, indicam ser possível o alcance da meta levando em conta três pilares principais: tecnologia, disponibilidade de terra e gente capaz em todos os elos das cadeias produtivas. O primeiro tem a ver com a tecnologia tropical sustentável de nossos órgãos de pesquisa e desenvolvimento, liderados pela Embrapa e implementados por universidades, instituições públicas e privadas atuando em todo o território nacional.
De fato, a agropecuária brasileira vem fortemente sendo beneficiada por tecnologias de ponta desenvolvidas desde a fundação da Embrapa, em 1972. Com efeito, o país passou a experimentar crescimentos extraordinários impulsionados por ganhos de produtividade por hectare. No período, explica Roberto Rodrigues, enquanto a área plantada com grãos cresceu 61% no país, a produção aumentou 312%, cinco vezes mais. Esses números são ainda mais expressivos ao se considerar que, se a produtividade por hectare fosse a mesma de 1990, seriam necessários mais 95 milhões de hectares para colher a safra 2016/17.
Em outras palavras, segundo Roberto Rodrigues, “estes 95 milhões de hectares de florestas ou cerrados não foram desmatados, provando a sustentabilidade da nossa atividade rural”. Hoje a safra de grãos do país aproxima-se de 250 milhões de toneladas, enquanto o uso da terra gira em torno de 29% do território nacional. É, portanto, imenso o potencial de crescimento do agronegócio brasileiro. O mesmo desempenho se repete em culturas permanentes (frutas, café) e semipermanentes como a cana-de-açúcar. Em todos os casos, a área plantada cresceu menos do que a produção, poupando florestas do desmatamento.
Os saltos tecnológicos, entretanto, prosseguem. O mercado, salienta Rodrigues, aguarda uma espetacular onda de inovações no campo, sobretudo no que diz respeito à conectividade, que fará as máquinas e equipamentos agrícolas conversarem entre si, e em breve haverá colheitadeiras trabalhando sem operador, manejadas remotamente do escritório. Há centenas as startups em busca de soluções de TI na gestão das fazendas e empresas do agro, cooperativas e agroindústrias. Drones já voam sobre os campos do país identificando áreas que precisam de combate a pragas e doenças, reduzindo custos operacionais.
Nanotecnologia e biotecnologia aplicadas ao campo reduzirão ainda mais os custos com melhoria de produtividade, observa o ex-ministro. Esta mesma lógica vem sustentando o desenvolvimento do agronegócio na Amazônia. No Amazonas, cadeias produtivas voltadas à produção de alimentos, exploração dos recursos da biodiversidade, ao ecoturismo, ao manejo florestal sustentável podem florescer desde que se realizem os investimentos necessários em P,D&I. Estudos do Inpa concluem que o mercado mundial de madeira, por exemplo, pode ser abastecido pela região durante ao menos 100 anos. Sem derrubar um hectare sequer de floresta.
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