Veja o antes e depois de construções históricas do início da capital de Roraima

Alguns prédios nos arredores do centro da cidade têm estruturas originais preservadas até hoje, mas com funcionalidades diferentes.

Ao caminhar pelo Centro de Boa Vista, nos arredores das avenidas Floriano Peixoto, Jaime Brasil e Sebastião Diniz, é possível se deparar com alguns prédios em que a arquitetura se destaca em meio às estruturas comerciais da atualidade. São os patrimônios históricos da capital de Roraima, que completa 133 anos neste 9 de julho de 2023.

O centro histórico que um dia foi um pequeno povoado que se tornou vila, depois município e, por fim, a capital de Roraima – a única do Brasil acima da linha do Equador.

Confira abaixo a história das construções e como elas estão atualmente, em relação à quando foram construídas. Todas as fotos históricas são parte do acervo pessoal do doutor, colecionador e professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Maurício Zouein.

Fazenda Boa Vista – Meu Cantinho 

A sede da Fazenda Boa Vista do Rio Branco foi construída em 1830 pelo capitão Inácio Magalhães. O espaço foi primeira casa em alvenaria da cidade, onde hoje é a rua Floriano Peixoto. Dessa construção, originou-se um pequeno povoado ao redor, que em 1858, virou da freguesia de Nossa Senhora do Carmo. 

Fazenda Boa Vista com a Paróquia Nossa Senhora do Carmo (Igreja Matriz) ao fundo, em 1904. Foto: George Huebner/Acervo de Maurício Zouein

Em 1890, a freguesia se tornou o município de Boa Vista do Rio Branco e a aglomeração em torno da fazenda passou se chamar vila de Boa Vista do Rio Branco. Em 1926, a vila ganhou status de cidade e em 1943 a cidade foi escolhida para ser a capital do então Território Federal de Roraima.

Hoje, a casa que era a antiga Fazenda Boa Vista do Rio Branco funciona o Bar e Restaurante Meu Cantinho, estabelecimento familiar fundado em 1968 – o espaço atualmente é gerido pela terceira geração dos atuais proprietários. 

Bar e Restaurante Meu Cantinho com a Igreja Matriz ao fundo, em 2023. Foto: Rayane Lima/g1 Roraima

Igreja Matriz 

Ainda na rua Floriano Peixoto está a Igreja Matriz de Boa Vista. Inicialmente, ela surgiu em 1725, como capela. Depois, em 1856 passou a ter um espaço maior e foi transformada em igreja matriz dois anos depois. Em 1920, os padres beneditinos reformaram o espaço, que virou oficialmente igreja e recebeu o nome pelo qual é conhecida até hoje.

Entre 2005 e 2007, a igreja matriz passou por uma restauração, onde teve as características arquitetônicas germânicas preservadas. Na época da reforma, foram encontradas pinturas originais nas paredes e elas foram restauradas.

Características da Igreja Matriz foram preservadas desde 1920 até hoje, julho de 2023. Fotos: (Esquerda)Autor Desconhecido/Acervo de Maurício Zouein – (Direita) Rayane Lima/g1 Roraima

Prelazia 

Com o objetivo inicial de ser um hospital, a construção da Prelazia ocorreu no início do século passado pela Ordem dos Beneditinos, em 1909. Em seu acervo, o pesquisador Zouein guarda uma foto do local ainda na década de 30. 

Prelazia na década de 30 — Foto: Autor Desconhecido/Acervo de Maurício Zouein

Em 1909, os padres beneditinos chegaram a Roraima para realizar o trabalho de evangelização. Em 1920, foram eles os responsáveis pela reforma da pequena paróquia de Nossa Senhora do Carmo, que viria a se tornar a Igreja Matriz.

A prelazia possui estilo neoclássico tem a arquitetura original preservada até hoje. O local nunca chegou a funcionar como hospital, como era previsto na época da construção. Por muito tempo, funcionou principalmente como residência dos padres e bispos da Ordem dos Beneditinos. 

Atualmente a Prelazia funciona como sede da Diocese de Roraima. Foto: Rayane Lima/g1 Roraima

No ano de 1946, o governador Ene Garcez utilizou a construção como sede do governo do então Território Federal. Hoje, a Prelazia é a Sede da Diocese de Roraima. 

Casa Petita Brasil 

Construída a partir de 1886 e concluída em 1888 pelo Coronel Bento Ferreira Marques Brasil, a Casa Petita Brasil foi a segunda construída em alvenaria em Boa Vista. Por isso, é considerada a casa mais antiga da cidade ainda de pé e permanece com a estrutura física original preservada até hoje. 

Antes e depois da vista da frente da Casa Petita Brasil, a primeira foto é da década de 70. 

O piso de madeira ainda é o mesmo da época da construção, assim como os cômodos, as esquadrilhas, os móveis e até os puxadores das portas.

De arquitetura neoclássica, todo o alicerce, inclusive o porão e colunas, construídos em pedra jacaré por meio de uma técnica de mistura de pedra com barro, chamada adobe, permanece intacto. Móveis originais, de origem europeia, também permanecem preservados na casa. 

Isso se deve à atual proprietária, Luiza Carmem (Petita) Brasil, filha de Adolpho Brasil. Guardiã do lugar e da história da família Brasil em Roraima, Petita readquiriu a casa, que já não pertencia aos donos originais.

Em 1924, o lugar hospedou as primeiras madres beneditinas, responsáveis pela construção do Colégio São José. A Casa Petita Brasil Recebeu também a visita do ex-presidente Juscelino Kubitschek na época da campanha eleitoral, em 1955, e também já foi hospital e sede da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Casa Bandeirante 

A Casa Bandeirante foi construída em 1898 para ser uma filial dos Armazéns Rosas, empresa do comendador Joaquim Gonçalves Araújo, conhecido como J.G Araújo, que comercializava mantimentos entre a Província do Rio Negro (Manaus) e a freguesia de Nossa Senhora do Carmo (Boa Vista). 

Casa Bandeirante, à época filial do Armazéns Rosas, de J.G Araújo, início dos anos 1900. Foto: Autor Desconhecido/Acervo de Maurício Zouein

Quando era dono da Casa Bandeirante, J.G também chegou a ser dono da Casa Petita Brasil. À época, ele cedeu o casarão ao gerente dos Amarzéns Rosas, Antônio Augusto Martins. Martins passou a Casa Petita Brasil para seu filho, José Augusto Martins, que a vendeu de volta para Petita Brasil, atual proprietária – há 40 anos.

Em 1958 o prédio comercial foi adquirido pelo migrante libanês Said Salomão – foi ele quem deu o nome do espaço para “Casa Bandeirantes”.

Casa Bandeirante atualmente funciona como depósito de uma loja multinacional. Foto: Rayane Lima/g1 Roraima

Hoje, o local que já foi o maior comércio da cidade, é anexo e depósito de uma loja de departamentos multinacional instalada na Avenida Jaime Brasil. A estrutura interna foi completamente alterada.  

Casa das 12 portas 

A Casa das 12 Portas, localizada no cruzamento das avenidas Jaime Brasil e Bento Brasil, no mesmo quarteirão da Casa Bandeirante, é até hoje um prédio comercial. 

Casa das 12 portas na década de 70. Foto: Autor Desconhecido/Acervo de Maurício Zouein

O local passou por muitas reformas ao longo dos anos, que alteraram principalmente a parte interna. Apesar disso, o número de portas que renderam o nome do local permanece até hoje. 

Hoje a casa das 12 portas funciona como assistência técnica de produtos eletrônicos. Foto: Rayane Lima/g1 Roraima

Atualmente, o lugar, que também já foi loja de celulares, funciona como assistência técnica de produtos eletrônicos. 

Preservação da história 

A Fazenda Boa Vista, a Igreja Matriz, a Casa Petita Brasil, a Casa Bandeirante e a Casa das 12 portas foram tombadas pela Prefeitura de Boa Vista, por meio do decreto nº 2614 de 1993. Apenas a Prelazia foi tombada em 1990, pela Lei n° 231.

Lugares de interesse cultural e ambiental são tombados pelo poder público com o objetivo de preservar a memória coletiva do local que representam – neste caso, o início da capital Boa Vista. A medida evita que bens materiais de valor histórico, cultural ou arquitetônico sejam destruídos ou descaracterizados ao longo dos anos.

No caso da Casa Petita Brasil, que junto com a Igreja Matriz, é o patrimônio histórico que mais teve suas características originais preservadas. A conservação do casarão hoje é feita por Luiza Carmem Brasil, a Petita Brasil – neta de Bento Brasil, que construiu a casa, ela mora na residência imponente às margens do roo Branco. 

*Por João Gabriel Leitão e Rayane Lima, do g1 Roraima

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