Saiba quem são os personagens históricos representados pelos bustos na entrada do Teatro Amazonas

Originalmente eram sete personalidades, que contribuíram artisticamente e tiveram grande influência para o teatro, mas após uma mudança, um oitavo personagem passou a fazer parte da fachada.

São tantos detalhes que compõem o Teatro Amazonas, em Manaus (AM), que centenas deles passam sem serem percebidos até mesmo para os mais atentos. Quem repara na fachada principal já pode ter se perguntado, inclusive, quem são os homens representados por aqueles bustos, quais foram seus papéis para serem destaque na entrada. 

“Originalmente são sete bustos da concepção posterior de quando chega Crispim do Amaral, um multiartista pernambucano contratado pelo governador à época, Eduardo Ribeiro, a partir de 1893. O projeto tem o feeling, a concepção dos dois”, responde o historiador Allan Diego Carneiro, que trabalha com o Acervo Histórico do Teatro Amazonas.

Originalmente são sete figuras do mundo as artes, mas em algum momento houve uma alteração que colocou mais um personagem na linha de frente do teatro. O Portal Amazônia mostra quem são essas personalidades: 

Foto: Allan Diego Carneiro/Cedida

J.M. de Macedo


Joaquim Manoel de Macedo nasceu em São João de Itaboraí, atualmente Itaboraí (RJ), em 24 de junho de 1820. Ele se formou em medicina, mas foi professor, escritor e jornalista. Seu primeiro romance, ‘A moreninha’, é uma das obras que marcou o romantismo brasileiro em 1844. Também é o autor de diversas outras obras como ‘O moço loiro’, ‘Os dois amores’, ‘Rosa’, ‘Vicentina’ e ‘O culto do dever’; da sátira ‘A carteira de meu tio’; e da peça ‘A Baronesa do amor’. Sempre retratando a vida cotidiana da burguesia carioca da época. 

Foi preceptor dos netos do Imperador Pedro II e é o Patrono da cadeira nº. 20 da Academia Brasileira de Letras. Teve também passagem pela vida política e morreu em 11 de abril de 1882.
H. Mesquita

Henrique Alves de Mesquita foi um artista, compositor e maestro negro. Primeiro aluno do Conservatório de Música do Rio de Janeiro a ser enviado à Europa para completar seus estudos. Ele escreveu óperas como ‘La Nuit au Chateau’, apresentada em Paris, mas foram as operetas que marcaram sua maior produção, como ‘Ali-Babá’. Mesquita nasceu no Rio de Janeiro em 15 de março de 1830 e morreu na mesma cidade em 17 de julho de 1906. 

J. Caetano

João Caetano dos Santos foi um ator e empresário teatral considerado por muitos o primeiro técnico da arte dramática brasileira. À ele é atribuída a responsabilidade pela profissionalização da profissão no Brasil. Foi cadete no batalhão do imperador por sete anos, mas deixou o Exército para se tornar ator amador e interpretou peças de dramaturgos como Shakespeare e Victor Hugo. Ele nasceu em 27 de janeiro de 1808, em Itaboraí (RJ), e morreu em 24 de agosto de 1863.

C. Gomes

Antonio Carlos Gomes foi um compositor e regente brasileiro, autor da mais famosa ópera de um compositor nacional: Il Guarany (1868). Nasceu na Vila de São Carlos, hoje Campinas (SP), em 11 de julho de 1836. Estudou música desde cedo com o pai, Manuel José Gomes, e integrou a Banda Marcial sob a regência dele. Em 1859 mudou-se para o Rio de Janeiro e estudou no Conservatório de Música, onde apresentou suas primeiras óperas: as Cantata I e II (1860), encomendadas por Francisco Manoel da Silva para execução em presença do Imperador. 

Ganhou uma bolsa para estudar na Europa e em Milão terminou de musicar Il Guarany (1868), baseada no romance homônimo de José de Alencar. Gomes também compôs missa, modinhas, fantasia, operetas e óperas. Mais tarde, foi nomeado Diretor do Conservatório de Música de Belém do Pará, onde, já muito doente, morreu em 16 de setembro 1896. É o Patrono da Cadeira n. 15 da Academia Brasileira de Música.

F. Vasques 

Francisco Correa Vasques foi um dramaturgo e ator brasileiro negro ligado aos movimentos abolicionistas. Nasceu em 1839 no Rio de Janeiro e estreou como autor de teatro em 1858. Em sua trajetória, aproximou-se do teatro musicado, tendo se dedicado principalmente ao gênero das cenas cômicas com abordagem humorística de assuntos cotidianos e fez parte da companhia de teatro de João Caetano. Vasques escreveu mais de 60 cenas cômicas, muitas delas publicadas como pequenas brochuras vendidas a preços acessíveis. Ele morreu em 1892.

H. Gurjão 

Henrique Eulálio Gurjão, compositor e regente paraense que trabalhou com Carlos Gomes, nasceu em Belém (PA) dia 15 de novembro de 1834. Teve ajuda do Governo Provincial em 1851 para estudar na Europa e retornou para a capital paraense em 1861. Ele compôs óperas como ‘Idália’, sua criação mais conhecida, além de hinos, cantatas, novenas. Ele morreu em Belém no dia 27 de julho de 1885.

Allan Diego comenta que a história de Gurjão tem uma peculiaridade. “Alguns comentam que ele era militar e por isso o chamavam de General Gurjão. Fui pesquisar e vi que ocorrem alguns desvios, pois o confundem com o General Hilário Gurjão. Ele foi herói de guerra no Paraguai, mas pelo que procurei eles não tem ligação”, explica.

Eduardo G. Ribeiro 

Eduardo Gonçalves Ribeiro nasceu no dia 18 de setembro de 1862 em São Luís (MA) e pouco se sabe sobre sua infância ou como mudou-se para Manaus. Ele foi o primeiro negro a governar o Amazonas, em 1890, e também foi deputado e presidente da Assembleia estadual.

Foi o responsável por iniciar as obras do Teatro Amazonas, a Construção do Reservatório do Mocó, a Ponte de Ferro, da então Rua 7 de setembro, e também do Palácio da Justiça. Morreu em Manaus, em circunstâncias não esclarecidas, em 14 de outubro de 1900.

Foto: Reprodução/Fundaj

Troca sem data

Eduardo Ribeiro é a sétima figura, mas antes, em seu lugar, ocupava o busto de outra personalidade artística brasileira: José de Alencar. José Martiniano de Alencar é um escritor que nasceu no Ceará em 1 de maio de 1829. Em 1843, mudou-se para São Paulo para estudar na Faculdade de Direito, mas sua paixão pela escrita o fazia dar mais atenção à literatura, com autores como Joaquim Manoel de Macedo e a obra ‘A Moreninha’, recém-publicada.

Tornou-se um dos mais famosos autores brasileiros, com obras como O Guarani, Iracema e Senhora, fazendo parte da geração do movimento literário romantismo. Ele morreu no Rio de Janeiro (RJ) em 12 de dezembro de 1877.

“Ao certo, eu não vou dar uma data de quando foram trocados os bustos, não temos essa informação registrada, um documento oficial, mas colocaram Eduardo Ribeiro pela representatividade política que ele teve”, explica o historiador Allan Diego. 

Para ele, essa mudança tem uma representatividade significativa para o Estado historicamente. Por isso, é preciso estudar e analisar os fatos para que a construção da história atual também tenha essa representatividade: “A gente tem que fazer essa construção da história sempre coletivamente. Nós todos vamos fazer parte dessa memória coletiva e a partir disso difundir essa memória, pra que outros também tenham acesso”.
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