Rondonópolis sedia primeiro encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso

O evento contará com duas programações principais: as rodas de diálogo “Princípios Introdutórios da Medicina Tradicional Calon” e “Rememorando a Chibe”

Começa nesta sexta-feira (23) o I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso. O evento é organizado pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) e é realizado em Rondonópolis, cidade com a maior comunidade cigana do estado. O encontro segue até domingo (25) e contará com duas programações principais: as rodas de diálogo “Princípios Introdutórios da Medicina Tradicional Calon” e “Rememorando a Chibe”.

O encontro integra as atividades do projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: ontem, hoje e amanhã”, que homenageia a cigana da etnia Calon, Maria Divina Cabral, como mestra da cultura mato-grossense. O projeto foi aprovado no Edital Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz de Figueiredo Leite, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT).

O I Encontro de Mulheres Ciganas será todo gravado e utilizado como disparador para a realização de dois outros produtos: a exposição virtual multimídia “Calin” e a websérie etnodocumental “Diva e as Calins”, composta por cinco episódios. Todos os produtos têm como pano de fundo o universo da cultura cigana Calon, com foco nos saberes das mulheres e na medicina tradicional.

Na roda de diálogo “Princípios Introdutórios da Medicina Tradicional Calon”, Diva transmitirá o conhecimento de como fazer uma garrafada para suas filhas, netas e outras mulheres da comunidade cigana rondonopolitana. As garrafadas são o principal produto da medicina tradicional cigana e são compostas por plantas do cerrado, principalmente raízes e são recomendadas para curar vários tipos de doenças, como infertilidade, anemia, problemas no aparelho digestivo, entre outros.

Já a segunda roda de diálogo “Rememorando a Chibe” é sobre a língua usada pelos ciganos brasileiros do tronco calon. Chibe, que também pode ser chamada de romanon ou romanó-kaló. Além de ser o principal demarcador entre as pessoas ciganas e diferenciador dos não-ciganos, a chibe, atua como uma tática de defesa, frente a população majoritária, guardando resquícios das origens e da identidade Calon.

De acordo com a coordenadora geral do projeto, a também cigana da etnia Calon Fernanda Caiado, as comunidades ciganas possuem culturas ricas e milenares e um longo histórico de migrações e conhecimentos acumulados, mas também de expulsões e perseguições, se constituindo como identidades de resistência.

“Esses saberes são aprendidos na vivência, no cotidiano, nos rituais, transmitidos oralmente de geração em geração, numa configuração em que as mulheres são as principais mantenedoras e educadoras. Daí a importância de implementarmos atividades que reconheçam o importante papel das mulheres na organização sociocultural Calon”, pondera Fernanda.

Quanto à biossegurança em relação a pandemia de Covid-19, a organização do evento destaca que está tomando todas as medidas de prevenção. “Importante pontuar que estamos atentas às questões relativas a pandemia. O encontro será realizado em espaço aberto e respeitará todas as medidas de segurança e higiene relativas ao Covid-19. Todas as pessoas da equipe e as participantes do projeto serão testadas para o coronavírus”, informa a produtora do projeto, Nilva Rodrigues.

“Calin” é o modo como as mulheres da etnia Calon se autodenominam. Assim, “Diva e as Calins de Mato Grosso” mira na r-existência das calins de Mato Grosso, que mantém tradições, sem perder o time da história, lutando para ocupar espaços em todos os âmbitos da sociedade.

“Rompendo com paradigmas racistas e machistas, estamos fazendo história em Mato Grosso, que pela primeira vez tem um material transmidiático e baseado em múltiplas linguagens com foco nas mulheres ciganas, suas narrativas e saberes. Partimos da memória e da tradição, mas também da vida atual e das possibilidades de futuro das mulheres ciganas e suas comunidades”, destaca a diretora de programação do projeto, Terezinha Alves.

Conheça mais sobre a Mestra Diva

O projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: ontem, hoje e amanhã” visa registrar e fortalecer a cultura cigana, por meio da realização de ações que reconhecem os saberes das mulheres da etnia Calon, especialmente representadas por Maria Divina Cabral, a Diva.

Diva nasceu em 25 de setembro de 1954, em uma barraca num acampamento na cidade de Mineiros (Goiás). Filha de Lázaro Alves Pereira e Lourdes Rodrigues Pereira, casou-se dentro da tradição cigana, com o seu primo (filho da irmã do pai), Jair Alves Cabral, construindo e mantendo um profundo conhecimento da filosofia Calon e seu sistema de ação e organização sociocultural.

A Calin viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando pelas cidades dos Estados da região Centro-Oeste, até que no início da década de 70 fixou residência com sua mãe, pai, irmãos e parte de sua comunidade no município de Rondonópolis (MT).

Mãe de duas filhas, Selma e Cleide, avó de quatro netas (Lorraine, Suiani, Leidiane e Cristiane) e três bisnetas (Cristina, Paula e Isabela); atualmente é a principal raizeira e benzedeira cigana no Estado, mantendo viva a medicina tradicional Calon.

Integrante do conselho de anciãos e membra fundadora da AEEC-MT, Diva é respeitada e ouvida por todos da comunidade, por sua experiência e sabedoria na condução e salvaguarda de diversos costumes, narrativas e saberes da filosofia cigana. 

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