Saiba quem foi Roberto Kahane, referência do cinema amazonense

O diretor, escritor e cineasta Roberto Kahane faleceu em Manaus (AM) aos 77 anos, deixando vazio imensurável no meio cultural, sobretudo no cenário regional.

Foto: Divulgação

“Nasci com uma câmera de cinema em cima de mim”. Foi assim, numa entrevista, que o amazonense Roberto Kahane, um dos maiores nomes do cinema brasileiro, descreveu o início da sua paixão pela sétima arte.

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Mas, depois de cinco décadas de vastas contribuições, o diretor, escritor e cineasta faleceu em Manaus (AM) na última sexta-feira (3), aos 77 anos, vítima de um infarto fulminante, deixando vazio imensurável no meio cultural, sobretudo no cenário regional.

Primeiras experiências

Nascido em 7 de setembro de 1948, sua relação com o cinema começou na infância, onde convivia com o hobby do pai, Dr. Salim Kahane. Desde cedo, trocou os brinquedos por películas, equipamentos e o fascínio daquilo que viria fazer parte de cinco décadas de sua trajetória profissional.

Nos anos 1960, Roberto Kahane fez parte de uma geração do movimento cineclubista em Manaus, que revolucionou o cinema amazonense. Ao lado de nomes como Joaquim Marinho e Aurélio Miquiles, foi um dos pilares daquele período que assegurou a conquista de espaço para críticas cinematográfica, realização de curtas-metragens e promoção de festivais.

Suas primeiras experiências cinematográficas aconteceram na segunda metade dos anos 60, com produções coloridas em formato de película de 8 milímetros, algo inovador na área. No 1º Festival de Cinema Amador do Amazonas, em 1966, Roberto realizou três curtas-metragens:

  • “Plástica e movimento”, com Felipe Lindoso, Raimundo Feitosa e Aldísio Filgueiras;
  • “Um Pintor Amazonense”, com Felipe Lindoso;
  • e “Igual a Mim…Igual a Ti”, com Felipe Lindoso.

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Premiação

Em 1969, Kahane participou do I Festival Norte do Cinema Brasileiro, sendo premiado com a obra “A Coisa Mais Bela que Existe ou a trajetória de um seringueiro”, na categoria Melhor Curta-Metragem.

Tal premiação permitiu que o cineasta produzisse, anos mais tarde, o seu primeiro curta de 35 mm, chamado “Manaus”, onde abordou sobre a arquitetura da cidade e o ciclo da borracha.

Foto: Divulgação

Obras e feitos de Kahane

A partir de então, Roberto emplacou mais de 40 produções e participações em projetos audiovisuais, sempre com propósito de unir críticas social e estética experimental, além da valorização do cinema independente local. Entre suas obras estão Como Cansa Ser Romano nos Trópicos (1969) e Noites sem Homem (1974).

Roberto Kahane foi responsável por resgatar o acervo pessoal de Silvino Santos, grande cineasta português pioneiro do cinema e da fotografia na Amazônia. Produziu quatro grandes obras: “Fragmentos da Terra Encantada”, “1922, A Exposição da Independência”, “Vale Quem Tem” e “A Propósito do Futebol”. Elas mostram como era a vida no Rio de Janeiro e em Manaus nos anos 1920.

Já “Silvino Santos – O Fim de um Pioneiro”, de 1970, foi uma outra produção de Roberto que registrou a despedida ao cineasta português, que faleceu em 14 de maio daquele ano.

Televisão

Nas décadas de 1980 e 1990, Kahane dedicou sua vida ao trabalho na televisão amazonense. Casada com Norma Araújo, uma das apresentadoras mais renomadas do cenário local, atuou na produção de programas televisivos de sucesso, entrevistando autoridades, celebridades e ícones regionais. Via de Regra e Programa da Norma, foram algumas das produções realizadas por ambos, onde permaneceram por anos nas grades de programação das emissoras locais.

A Câmera do Dr. Salim

Em 2023, Roberto Kahane finalizou uma obra póstuma do diretor Jean Robert Cézar (falecido em janeiro daquele ano) chamada “Robert Kahane e a Câmera do Dr. Salim”, que retratava a relação do próprio Roberto e seu pai, através de um acervo fílmico guardado por décadas. O documentário abordou a sua vida pessoal e o amor ao cinema, entre latas de filmes herdados de seu pai e negativos raros, além de obras próprias e de terceiros.

Últimos trabalhos

Respeitado por sua relevante contribuição ao cinema local, Roberto Kahane recebeu diversos reconhecimentos nos últimos anos. Em 2019, nove de seus filmes foram exibidos no Cine Teatro Amazonas, reforçando sua importância para a história do cinema. Quatro anos mais tarde, também foi homenageado pelo Cineclube de Arte, que promoveu uma mostra com parte de suas obras.

Em 2023, Roberto foi convidado para dirigir o documentário de aniversário de 125 anos do Teatro Amazonas, para abordar a história da construção do empreendimento e de seus personagens importantes durante o ciclo econômico da borracha. A obra se tornou uma das mais bem produzidas do país.

Em seu último trabalho, Roberto lançou, em maio de 2025, o documentário Etelvina Garcia: A memória Viva, obra que apresenta a trajetória da pesquisadora, jornalista e uma das maiores historiadoras do Amazonas.

Com mais de cinco décadas de vida voltadas ao cinema, Roberto Kahane deixa um enorme legado para as próximas gerações de cineastas, cinéfilos e produtores audiovisuais do Amazonas.

*Com informações do Cineset, Amazônia Incrível e TV Encontro das Águas

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