Todos os anos, no final de junho, a Ilha de Parintins se transforma em um vibrante epicentro cultural. O tradicional Festival Folclórico de Parintins, que marca o embate dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido, atrai milhares de visitantes, fazendo com que a população da ilha aumente significativamente. Esta movimentação, que traz alegria e prosperidade para a região, também levanta uma preocupação que se espalha como um rumor: a possibilidade da ilha afundar devido ao peso excessivo das pessoas e estruturas temporárias.
A origem do boato sobre o afundamento de Parintins durante o festival não é clara, mas é associada ao grande aumento populacional temporário e à percepção visual das mudanças geográficas causadas pela cheia dos rios amazônicos. Durante o festival, a cidade, que normalmente tem cerca de 113 mil habitantes, pode quase dobrar de população com a chegada dos turistas. Em 2023, por exemplo, o evento atraiu 110 mil pessoas para a Ilha Tupinambarana.
Mas não é apenas o peso excessivo que pode afundar a ilha de Parintins. De acordo com as lendas, a serpente Boiúna dorme abaixo da Catedral Nossa Senhora do Carmo. E toda vez que a cobra se mexe, um tremor pode ser sentido pelos moradores da ilha tupinambarana.
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Nem o peso. Nem a cobra grande. A equipe do Portal Amazônia conversou com o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Rogério Ribeiro Marinho, que afirmou que não existe risco de Parintins afundar.
Segundo o especialista, há muito tempo, as populações tradicionais percebem os movimentos bruscos de erosão na marcha dos rios, porém, atribuem isso a um folclore que é da cobra grande. “Os tremores não são exclusivos de Parintins. Em Óbidos (PA), por exemplo, também existe esse folclore”, disse.
Tremores
A dinâmica dos tremores está relacionada aos rios, que sofrem este processo de erosão, transporte e deposição. Marinho explica que essas erosões são comumente atribuídas à presença de mitos, ou seja, questões fabulosas como a da própria cobra grande. Porém, é bom lembrar que a erosão é um processo natural.
“As ilhas se formam em processos lentos, onde geralmente predominam os processos de deposição do rio, que são áreas onde existem, no momento de formação das ilhas, baixa energia do rio. Por esse motivo, o rio não tem capacidade de erodir”, explicou o geógrafo.
Marinho destaca ainda que no tempo geológico, um pouco mais longo, na escala de milhares de anos, pode ser que o rio mude a sua dinâmica. Entretanto, não existe a possibilidade da quantidade de pessoas que ocupem a ilha, de forma normal ou durante o Festival Folclórico, possam afundá-la.