Padre Júlio: líder católico no Amapá está em processo de beatificação

Sacerdote que dá nome a via que corta Macapá de sul a oeste ficou conhecido pelo trabalho desenvolvido junto aos mais vulneráveis.

Amapaense ou não, quem circula por Macapá em algum momento já passou pela tradicional Avenida Padre Júlio Maria Lombaerde, via que corta a capital do Centro à Zona Oeste, e leva o nome do sacerdote Júlio Emílio Alberto De Lombaerde, que chegou ao Estado em 1913 e atualmente passa pelo processo de beatificação.

Padre Júlio, como ficou conhecido, nasceu na Bélgica, mas se naturalizou brasileiro. Ele é lembrado pela sua dedicação à religião, acolhimento aos mais vulneráveis, distribuição de medicamentos e combate a crimes sexuais contra crianças.

O líder religioso que morreu num acidente de carro às vésperas de natal em 1944, em Minas Gerais, passa pelo processo de beatificação desde 2015. A canonização respeita quatro etapas que vão desde a abertura da ação até o reconhecimento de milagres. Entenda o processo:

Sacerdote que dá nome a via que corta Macapá de Sul a Oeste passa por canonização. Foto: Reprodução

Testemunha

É apresentada ao Bispo uma biografia cronológica do falecido, seus escritos – neste caso, Padre Júlio deixou uma espécie de diário –, além disso, uma lista com os nomes de testemunhas que possam falar sobre seus possíveis milagres.

Fase Romana

Em Roma, a Congregação para as Causas dos Santos recebe o material enviado, estuda e a partir daí concede o decreto de validade, se preencher os requisitos.

Nesta fase, uma pessoa também é nomeada como relator da canonização. Esse líder deve elaborar um documento chamado de Positio, que busca comprovar que o Servo de Deus praticou as virtudes teologais.

Votos

Pronto, o Positio, o documento, fica aguardando análise da comissão dos teólogos da Congregação para as Causas dos Santos, que podem lhe dar três tipos de votos: positivo, suspensivo ou negativo (precisa ser reestudada ou refeita).

Em caso de voto positivo, a documentação passa para os Cardeais e Bispos da mesma Congregação que a estudam e procedem a uma nova votação. Se todos votarem positivo, a beatificação segue para outra análise.

Santo Padre

A 4º e última fase, chamada de Santo Padre, é a confirmação dos processos anteriores. Se comprovados os milagres, é marcada a data da beatificação. A cerimônia é presidida pelo próprio Papa ou por um legado seu, em Roma ou onde o Padre Júlio viveu, entre o Amapá e Minas Gerais.

Entre suas atuações no Amapá, é possível destacar que em 1916 o religioso fundou a congregação das Filhas do Imaculado Coração de Maria, as Cordimarianas, com sede na área Norte de Macapá, local onde atualmente funciona uma espécie de museu em memória do Padre.

“A partir de uma espiritualidade e carisma, ele sentiu a necessidade quando chegou aqui de criar um grupo para agregar junto à igreja. Ela bateu em várias portas para pedir ajuda, mas ninguém teve a disponibilidade para ajudar, pois naquele tempo ninguém queria vir para o Amapá”, afirmou Maria de Jesus Barroso, missionária Cordimaria.

Quem conviveu com Júlio Maria de Lombaerd destaca a sua devoção e amor. Os milagres e bênçãos atribuídos a ele são, principalmente, cura de doenças, que à época foram registrados em um jornal católico internacional.

“Era um missionário que tinha preocupação social. Imagina Macapá, ainda no contexto da vila de São José, com pouco recursos há mais de anos, então ele veio e fundou escola e bandas de música para jovens. Era um líder que, por onde passava, deixava seu legado”, 

relembrou o Padre Geraldo Mayrink.

Reconhecimento histórico

Do Centro à Zona Oeste, a Avenida Padre Júlio “corta” a capital. Entre o vai e vem dos carros, diferentes histórias marcam a criação de uma área nobre de Macapá. No local encontram-se desde pontos comerciais até residências que modificaram sua arquitetura para acompanhar o avançar dos anos.

Quem é amapaense “raiz” já ouviu falar da esquina do “Chapéu de Palha”, um lugar que marca a história do comércio amapaense. Entre lojas de material de construção e estabelecimentos que trabalham com reparos de diferentes produtos, há a antiguidade, onde no espaço havia um bar popular da noite boêmia de Macapá.

“Existia um bar chamado chapéu de palha localizado na região, ele era um pouco mais isolado do resto da cidade. Era um nicho de pessoas que visitavam aquele bar, inclusive ele funcionou por anos. O dono, que também era proprietário da maior parte dos terrenos daquela região, cobriu o telhado com palhas em formato de chapéu, então o nome pegou, chapéu de Palha”, detalhou o historiador Marcelo Clei da Silva.

Casa da Memória fica localizada na Avenida das Bacabas, número 658, no bairro do Açaí. Foto: Reprodução

O historiador destaca que a homenagem é justa. Ele classifica Padre Júlio como “uma celebridade em Macapá no sentido da religiosidade”.

Na divisa entre a área Sul e Oeste, ainda há moradores que relembram a época. A lembrança se confunde entre o passado e as modificações de décadas. “Estou aqui desde 1969, nasci e me criei aqui. A gente viu as transformações acontecerem aqui, hoje posso dizer que está muito melhor que antigamente, mas as lembranças são muito vivas”, disse Kembel Assis, comerciante do local.

A quem deseja visitar o passado e conhece em algum momento já passou pela tradicional Avenida Padre Júlio Maria Lombaerdw, via que corta a capital do Centro à Zona Oeste, e leva o nome de um sacerdote que chegou ao Estado em 1913 e as Bacabas, número 658, no bairro do Açaí.

*Por Mariana Ferreira, do g1 Amapá

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