‘Mulheres que Benzem’: benzedeiras de Santarém são protagonistas em vídeo clipe 

A equipe de direção e assistência é toda composta por santarenas. No total, estão a frente do projeto cerca de 30 mulheres. O lançamento do clipe está programado para o final de agosto.

As benzedeiras da Amazônia fazem parte da vasta história cultural da região. Era uma prática que costumava ser passada de geração para geração, mas os mais jovens tem perdido essa proximidade com a medicina da flora e as rezas usadas para identificar e conter as doenças do corpo e do espírito. Esta forma de cura está perdendo espaço para a medicina convencional e as poucas benzedeiras que ainda restam são procuradas para benzer ‘carne rasgada’, ‘quebranto’, ‘espinhela caída’ ou ‘peito aberto’. 

As mulheres benzedeiras sobrevivem a modernidade revelando a potência feminina, assim como a equipe de audiovisual que está produzindo o clipe ‘Mulheres que Benzem’, totalmente composta de mulheres, cujo objetivo é preservar a cultura secular. As gravações começaram no dia 7 de junho e devem encerrar até julho.

O clipe está sendo dirigido pela diretora de cinema indígena Priscila Tapajowara e estrelado pelas cantoras Priscila Castro e Ádria Góes. As gravações iniciais foram feitas no igarapé da comunidade de São Raimundo, no Eixo Forte, em Santarém (PA). A canção ‘Mulheres que Benzem’ é a mais ouvida do álbum de Priscila Castro no Spotify.

“Essa música já é muito conhecida na nossa região, é do artista Wander de Andrade e do Newton Moda, que narra sobre a vida e história e das benzedeiras aqui da nossa região. Essa música fez parte do meu primeiro álbum, que ganhou o Prêmio Amazônia de Música, e é a música mais ouvida no Spotify desse álbum. Então merecia esse clipe, foi escolhida também para reforçar o protagonismo das mulheres amazônicas na manutenção da nossa cultura”, disse a cantora.

Foto: Divulgação

A música ‘Mulheres que Benzem’ no ritual do Boi Garantindo em Parintins? 

“Eu conheci essa música há 15 anos. Acho que eu devia ter uns 19 anos quando eu conheci o Wander e a Adria Gosch, que gravou esta canção comigo, ela era esposa do Wander, em memória. Ele me apresentou essa música que já ganhou um festival da canção aqui da nossa região, inclusive já fez parte de algum ritual do Boi Garantido durante o festival de Parintins”, conta Priscila.

“É uma música conhecida e que me apaixonei, até porque a minha vivência também é de uma criança que quando estava ‘desmentida’, que a nossa gente acredita nisso, a minha avó me levava na benzedeira, minha mãe leva minha filha na benzedeira, então eu quis muito gravá-la”.

Para ela, quando tivesse a oportunidade de gravar um áudio, um álbum, essa era uma canção que precisava estar nele. “Eu vou gravar essa música e foi dito e certo. Gravei e convidei a Ádria, porque sem ela não faria muito sentido. A gente já cantou ela em diversos festivais”, completou Priscila. 

A cantora relata que o projeto era criar uma equipe especial formada somente com mulheres. Assim, no total, são 30 mulheres que trabalham de forma direta na produção do clipe. 

Foto: Divulgação

“A escolha de uma equipe totalmente feminina foi para ser mesmo um marco aqui na nossa região. Nós ainda não tínhamos um clipe produzido completamente por uma equipe totalmente feminina. Então quando eu escrevi o projeto para Lei Paulo Gustavo, para Priscila, a gente pensando aqui em produzir esse projeto juntos, a gente pensou que a gente podia marcar esse território, porque as mulheres aqui do baixo Amazonas já estão produzindo há muito tempo audiovisual e mereciam esse destaque. Então foi algo pensado para o projeto sim, é uma equipe que a gente formou só para fazer esse clipe”, explicou Priscila.

Sobre a vivência 

Muito se fala da energia que essas mulheres benzedeiras trazem consigo, em especial no ato da benzeção. Priscila conta como foi poder vivenciar esse momento com toda a equipe.

“No roteiro a gente filma o ritual de benzeção, as mulheres puxadeiras que fazem aquelas massagens que curam a gente das dores do mundo, a gente vem sentindo a partir dessa vivência, a importância do registro da nossa cultura, que isso é ancestralidade pura, e o quanto essas mulheres podem ensinar para nós, mulheres que estamos aqui escrevendo nossa história, o quanto elas são donas das suas próprias histórias. Então, na filmagem a gente sentiu sim uma energia diferenciada, nós estávamos no Rio, só com mulheres, em um momento de benzeção, então não tinha como não sentir uma energia diferenciada no set de gravação”, concluiu.

Foto: Divulgação

*Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

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