Ilustração de Maria Firmina dos Reis. Imagem: Reprodução/Memorial de Maria Firmina dos Reis
Maria Firmina dos Reis, natural da cidade de São Luís, no Maranhão, nasceu no dia 11 de março de 1822. Firmina era filha de uma escrava liberta, Leonor Felipa dos Reis, e de João Pedro Esteves, um homem negro e sócio do comendador Caetano José Teixeira, que escravizou Leonor.
De acordo com dados do artigo ‘Escritoras, escritas, escrituras’ de Norma Telles (na obra ‘História das mulheres no Brasil‘, organizada por Mary Del Priori), Firmina, em sua infância, passou diversas dificuldades de educação, uma vez que no século XIX as mulheres não tinham o direito de estudar.
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Mesmo com a falta de acesso à educação por direito, Firmina era considerada autodidata e dominava a língua francesa. Ela até mesmo chegou a realizar algumas traduções de textos para jornais quando adulta.
A escritora tinha uma parente, Henriqueta, que tinha uma boa qualidade de vida na época e, de acordo com os estudos sobre a vida de Firmina, Henriqueta é quem a ajudava na área da educação.
Com muita luta, Maria Firmina se tornou a primeira professora concursada do Maranhão a exercer a profissão em educação básica, que ensinou habilidades como leitura e escrita em 1847 na Vila de Guimarães.
A maranhense é considerada a primeira escritora a publicar um romance abolicionista brasileiro, chamado ‘Úrsula’, no período de 1859-605. Esta obra foi denominada pela própria autora como um “romance original brasileiro” escrito por “uma maranhense”.

A luta de Maria pela educação (de outros)
“Um ano antes de se aposentar, com trinta e quatro anos de magistério público oficial, Maria Firmina dos Reis fundou, a poucos quilômetros de Guimarães, em Maçarico, uma aula mista e gratuita para alunos que não pudessem pagar. Estava então com 54 anos. Toda manhã, subia em um carro de bois para dirigir-se a um barracão de propriedade de um senhor de engenho, onde lecionava para as filhas do proprietário. Levava consigo alguns alunos, outros se juntavam. Um experimento ousado para a época. Uma antiga aluna, em depoimento de 1978, conta que a mestra era enérgica, falava baixo, não aplicava castigos corporais nem ralhava, aconselhava. Era estimada pelos alunos e pela população da vila. Reservada mas acessível, toda passeata dos moradores de Guimarães parava em sua porta. Davam vivas, e ela agradecia com um discurso improvisado”, descreve o artigo de Telles.
A maranhense não se casou, mas cuidou de 11 crianças, entre filhos adotivos e afilhados, sendo alguns filhos de pessoas escravizadas. Já no fim da vida, Reis perdeu a visão e vivia com baixas condições financeiras. De acordo com Telles, a escritora faleceu com 92 anos, “na casa de uma ex-escrava, Mariazinha, mãe de um dos seus filhos de criação”. Firmina faleceu em 11 de novembro de 1917, na vila de São José Dos Guimarães, também no Maranhão.
Depois disso, sua vida foi esquecida dos livros sobre literatura no Brasil. Em 1962, o bibliógrafo Horácio de Almeida achou um exemplar da obra ‘Úrsula’ no meio de uma pilha de livros antigos que adquiriu em um sebo do Rio de Janeiro, e a partir daí, a história de Firmina passou a ser estudada e valorizada.
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Obras de Maria Firmina dos Reis
Ao longo da sua trajetória, Maria Firmina escreveu diversas obras, como músicas, romances e contos. No artigo de Camila Kulkamp, ‘Biografia de Maria Firmina dos Reis’, além de ‘Úrsula’ (1859), a autora aborda o caminho literário de Firmina.
- Em 1861, a maranhense publicou um conto indigenista denominado ‘Gupeva’.
- E 1887, publicou outro conto abolicionista: ‘A Escrava’.
- Em jornais, Firmina publicava poemas e contos, nos veículos como: A Imprensa; Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha; e Federalista.
- Em 1861, Firmina publicou dois poemas (‘Por Ver-te’ e ‘Minha Vida’) em uma antologia (coleção de textos em prosa) chamada ‘Parnaso Maranhense’.
- Em 1871, reuniu todos os seus poemas na obra ‘Cantos à beira mar’.
- Em 1888, ‘Hino da libertação dos escravos’ (1888)’.
- De músicas, criou o “Auto de bumba-meu-boi”; “Valsa” (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); “Hino à mocidade”; “Hino à liberdade dos escravos” (1888); “Rosinha, valsa”; “Pastor estrela do oriente”; “Canto de recordação” e “À Praia de Cumã”.
