Os festejos acontecem nos meses de maio, junho e julho nos bairros do Laguinho, na Favela e na comunidade do Curiaú.
Cores, dança, gengibirra, música e expressão cultural amapaense. São alguns dos significados do Marabaixo, comemorado no dia 16 de junho e regulamentado pela Lei Estadual nº: 1521/2010, de autoria do deputado Dalto Martins, já falecido.
O Marabaixo também é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2018, com o título de Expressão Cultural Amapaense.
O fato é uma vitória para as comunidades, grupos festeiros de Macapá, Mazagão, Campina Grande, Ilha Redonda que, em 2009, protestaram contra a falta de apoio do poder público ao Ciclo do Marabaixo.
Pesquisa de doutorado
Anualmente, nos meses de maio, junho e julho, nos bairros do Laguinho, na Favela e na comunidade do Curiaú acontecem os festejos em Macapá. A amapaense Célia Souza, doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR, incluiu em sua pesquisa informações detalhadas sobre o Marabaixo e curiosidades pouco divulgadas.
Ela destaca que é um movimento de resistência que nasce e é organizado dentro das comunidades além de ser também um movimento de educação popular. “Dentro das comunidades também existem atos de solidariedade, empoderamento e organização social”, pontuou.
Célia acredita que para realizar uma pesquisa, é preciso estar próximo e vivenciar o tema. Por isso, hoje, ela faz parte do grupo de Marabaixo, Santa Luzia do Maruanum. “As minhas pesquisas e atividades de extensão são escolhidas de acordo com o mundo da vida. E no Amapá, esta é a nossa maior tradição, ele nos representa, nos constitui como ser amapaense e ressalta nossa história. Por isso decidi pesquisar o marabaixo, as comunidades quilombolas, os movimentos de educação popular, porque acredito que a pesquisa nada mais do que o mundo da vida revelado”, contou. “O marabaixo é nosso! É tipicamente amapaense, corre nas nossas veias, nosso patrimônio”, completou.
“É importante que a população pare de demonizar, pois não é uma religião, é um movimento amplo de empoderamento das comunidades quilombolas. Uma construção histórica e que vem sendo “tecido” pela comunidade para a comunidade. Precisamos acolher esse patrimônio”,
concluiu.
Registros na história e na literatura
A história do Marabaixo também foi registrada em obra literária, pelo escritor Fernando Canto, que lançou em 2017 ‘O Marabaixo através da História’. De acordo com o autor, o livro surgiu por conta da falta de informações oficiais a respeito do Marabaixo, com linguagem acessível e didática, para minimizar especulações e disponibilizar materiais para pesquisas.
Fernando Canto utiliza artigos e publicações desde 1988, para falar sobre a manifestação para que estudantes também tenham acesso.
“O leitor poderá encontrar uma leitura agradável e bem explicativa. Claro que não tem todas as características, mas, como ele nasceu de uma palestra, ele foi abordado da forma mais pedagógica possível para entender o que é marabaixo no Amapá. Outras informações ficam por conta de quem quiser pesquisar mais a fundo, já que existem mais publicações sobre o tema”,
comenta.
Canto também adianta que será lançado, em breve, a 3ª edição do livro ‘Água benta e o diabo’, que conta sobre o conflito entre os manifestantes do marabaixo e a igreja católica.
Contexto histórico do Marabaixo
Com dados do Iphan, quanto a origem do nome Marabaixo, existem várias versões atribuindo significados à palavra. A mais conhecida é que negros escravizados na travessia do Atlântico cantavam nos navios negreiros, “mar acima e mar abaixo”. Outra versão é que Marabaixo é originado do Morabit ou Mourabut significando “sacerdotes dos vales”; ou ainda está ligado ao Marabutoou Marabut, do árabe Morabit: “sacerdote dos malês”. Os Malês foram negros escravizados de origem islâmica que também foram transportados para o Brasil para servir aos interesses da exploração.
De acordo com o Instituto, a autoria do Marabaixo está atribuida aos negros escravizados por meio do sincretismo religioso, quando começaram a fazer promessas aos santos e assim que a graça era alcançada, para comemorar faziam um Marabaixo. “Fruto da organização e identificação predominante entre as comunidades negras do Amapá, o Marabaixo é uma expressão cultural de devoção e resistência que representa tradições e costumes locais”, informa o Iphan.
No Amapá, as comunidades marabaxeiras atribuem o significado da dança a memória do sofrimento de negros jogados dos navios negreiros “Mar-a-abaixo”. Assim, o Marabaixo surge como uma herança da formação de comunidades afro e como um movimento de resistência cultural.
*Por Camila Karina Ferreira, do g1 Amapá