Mãe e filha transformam sabores regionais em espaço inspirado nos povos indígenas

Com a ideia de transformar a experiência de saborear comida regional, mãe e filha se uniram para criar um espaço mantendo a identidade acreana

Mãe e filha se uniram para criar um espaço diferente, mas mantendo a identidade acreana — Foto: Hellen Monteiro/g1 AC

Com a ideia de transformar a experiência de saborear a comida regional, mãe e filha se uniram para criar um espaço diferente, mas mantendo a identidade acreana. Utilizando a temática indígena, desde às louças até à customização do espaço, Beatriz Castro, de 27 anos, e a mãe Anny Castro montaram seu próprio negócio e realizaram o sonho de empreender no ramo alimentício.

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Tudo começou na pandemia, quando a mãe, que trabalhava como gerente de recursos humanos, saiu da empresa onde era empregada. A partir de então, a filha Beatriz e a companheira de Anny começaram a incentivá-la a fazer a rabada para vender. Em resumo, uma entrou com o tempero e a outra com o investimento.

Caldinho no tucupi já era conhecido pelos acreanos que frequentam eventos públicos — Foto: Hellen Monteiro/g1 AC

“A princípio, pensamos em outro ramo, mas com a pandemia ficou inviável. Como eu já conhecia a rabada dela, achava gostosa e eu sou chata para comida, comecei a incentivá-la e falei para ela fazer e vender que ia dar super certo”, contou Beatriz.

Em 2021, a mãe decidiu seguir o conselho da filha e, junto com a companheira, fazer sua famosa rabada para vender através do sistema de delivery. A primeira fase do empreendimento durou dois anos.

“Mas eu tinha muito problema com entregador. Era muito difícil achar funcionário responsável nessa época e, depois de dois anos, a gente teve a ideia de levar o caldo para um carnaval. Vimos que deu super certo e decidi fechar o delivery para começar a levar o carrinho a diversos eventos”, relatou Anny.

Do delivery ao carrinho

Com a empreitada das empreendedoras, elas decidiram fechar o delivery e levar o carrinho com o caldo a diversos eventos, entre Expoacre, festa junina, carnaval, festas privadas e comemorações de final de ano.

Um item do cardápio que é um dos mais vendidos são os bolinhos de macaxeira com rabo bovino e vem acompanhados de maionese criada por mãe e filha — Foto: Hellen Monteiro/g1 AC

“Era só rabada, aquele caldinho, que é nosso carro-chefe e todo mundo gostava. No começo, a gente só tinha um carrinho e agora temos três. Agora, mesmo com o espaço que temos, não vamos parar de levar o caldo para os eventos da cidade”, pontuou a mãe.

A filha, que deu a ideia inicial, preferiu dar apenas apoio moral no início, mas sempre teve a vontade de empreender em algo. Vendo o sucesso da mãe, a advogada conversou com o marido e os dois decidiram investir no negócio e reestruturar o empreendimento.

“As pessoas gostavam e procuravam um ponto, muita gente no pós-pandemia começou a querer sair, porque ficou muito tempo no isolamento, e a minha mãe tinha essa vontade de ter um espaço. Como a gente tinha a curiosidade de empreender, eu convidei ela: ‘vem com seu tempero e seus clientes que eu entro com o espaço’“, contou ela.

Do carrinho ao local próprio, com outras novidades

O caldinho no tucupi por si só já tem fama. Mas, para abrir um local, as duas não queriam que o espaço servisse apenas rabada e tacacá, como já ocorre em outros estabelecimentos locais.

“O caldinho muita gente já conhecia, mas para os outros pratos, nós fomos buscar a inspiração em Manaus, para conhecer um pouco mais da cultura nortista. A gente não queria que o cardápio ficasse simples. Queríamos implantar umas novidades. Algumas nós criamos, e outras nós buscamos a inspiração de outros lugares”, relatou Beatriz.

Mãe e filha se uniram para criar um espaço diferente, mas mantendo a identidade acreana — Foto: Hellen Monteiro/g1 AC

Uma das inovações trazidas pelas duas é um prato que não é comum no estado, mas que faz sucesso na capital amazonense: o açaí com peixe “Tem gente que gosta, tem gente que se assusta, porque o açaí é picante mas continua sendo doce. Então aqui já está no subconsciente que o açaí é um sobremesa e é doce. Tem muita gente que acha massa [sic.], e que também é de Manaus e vem aqui só comer esse prato. Tem dado super certo também”, comemorou ela.

Outro item do cardápio e que é um dos mais vendidos, segundo as empreendedoras, é o bolinho de macaxeira com recheio de rabo, que é uma releitura da rabada e utiliza a macaxeira, que é muito consumida na região.

“Nós quem inventamos e fizemos essa combinação. Os bolinhos são muito pedidos e muita gente não sai daqui sem experimentar. Também criamos uma ‘maionese fake’ para acompanhar. Isto porque ela [a maionese] não vai óleo, achamos que pesava muito. A maionese tradicional vai muito óleo e nessa, nós fizemos com o jambu”, mencionou Beatriz.

Sobre os produtos a base de tucupi, que tem um sabor muito presente nas receitas, Anny contou que, inicialmente, aprendeu a fazer sozinha a rabada que era sucesso entre amigos e família.

“Até hoje eu me pergunto como foi que eu aprendi a fazer essa rabada. Só sei que foi no dia a dia mesmo, fazendo para mim. A gente ia fazer uma festinha, eu ia e fazia a rabada e todo mundo gostava. Diziam: ”Nossa, que gostoso, que delícia essa rabada’. Aí fui experimentando, mudando minha própria forma de fazer e aprimorando até chegar como é servida hoje”, relembrou.

Ambiente mais personalizado

Dentro do restaurante, para ambientar à temática indígena, mãe e filha decidiram decorar e pintar com grafismos próprios utilizados pela cultura dos povos tradicionais e com a imagem de uma indígena e suas araras.

Até mesmo a louça é feita de cabaça e cerâmica, toda produzida por um oleiro local. Na parede, há também um cocar produzido por um artista acreano.

mãe e filha se uniram para criar um espaço mantendo a identidade acreana
Mãe e filha se uniram para criar um espaço mantendo a identidade acreana

As duas decidiram que a temática homenageada seria a indígena por conta dos ingredientes utilizados na rabada e no tacacá, que são, em sua maioria, vindas dos povos originários.

“A gente queria uma coisa mais personalizada, então a nossa escolha foi por algo mais artesanal. Em relação às cuias e esses copinhos, buscamos artistas que fizessem com a cabaça. Encontramos em Manaus e pedimos tudo de lá. Cada grafismo desse tem um significado e escolhemos esses para compor parte da decoração”, pontuou.

Cabaça é um fruto seco da planta da cuieira, muito comum no Brasil, utilizado há séculos como recipiente para água, alimento ou na produção de artesanato.

Futuro

Sobre os próximos passos, as empresárias contam que pretendem ampliar o negócio que, segundo elas, ainda é pequeno, com menos de 10 mesas “Agora os clientes dizem que o local é pequeno e aconchegante, e sentimos isso também, mas o plano é ter um local maior, talvez outros pontos. No futuro, queremos fazer um ambiente com brinquedoteca para os pais levarem suas crianças”, revelou Beatriz.

A advogada pontuou que trabalhar entre mãe e filha é desafiador, porém acredita que o negócio só tende a crescer “A convivência intensa entre família e trabalho gera um pouco de estresse. Mas aos poucos, a gente aprende a estabelecer limites e tem dado certo”, afirmou a advogada.

Por Hellen Monteiro, g1 AC — Rio Branco

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