Habitantes da região do médio Rio Amazonas, o povo indígena Sateré-mawé pode ser encontrado na divisa entre os Estados do Amazonas e do Pará. Famosos pela cultura do guaraná, foram eles que possibilitaram que a planta fosse conhecida e consumida mundialmente. Mas vão muito além, por manterem uma herança cultural bastante marcante.
De acordo com o Centro de Trabalho Indigenista, os homens da etnia, em sua maioria, são bilíngues, falando o Sateré-mawé e o português, mas a maioria das mulheres, apesar dos 322 anos de contato com os brancos, só falam o Sateré-mawé.
O livro ‘Cantos e danças: uma antropologia da musicalidade Sateré-Mawé’ reúne narrativas, cosmologia e revela a visão de uma mulher indígena deste povo, a escritora Clarinda Maria Ramos.
Lançado no Dia dos Povos Indígenas – 19 de abril – em 2024, o livro descreve a cultura de cantos e danças do povo Sateré-Mawé, demarcando uma trajetória permeada por travessia cheia de desafios e conquistas.
No livro, Clarinda, que é indígena, tem como base as referências antropológicas de sua cultura, uma vez que durante o trabalho de campo junto à sua família reuniu as informações e as relatou por meio de sua narrativa pessoal.
A obra pode ser considerada referência para os campos de estudo da etnomusicologia brasileira. Ao Portal Amazônia, a autora contou que a sua principal motivação foi sua origem.
“A minha existência como Sateré-Mawé me fortaleceu para que eu pudesse escrever e esse livro é o fruto da minha dissertação de mestrado na antropologia social. Já na graduação, fiz pesquisas relacionadas à música, então eu já tinha um pouco de conhecimento sobre pesquisa, sobre a cultura indígena. Vi que muitos pesquisadores já falavam de cantos, de danças, de práticas sociais de outras etnias também, mas não tinha referências na minha etnia”,
destacou Clarinda.
Para a escritora, o livro tem também um importante papel no sentido de trazer o olhar de “uma mulher indígena pesquisadora” e acredita que a importância disso se dá devido a um processo de reconstrução cultural.
“Fazendo esse trabalho, escrevendo sobre cantos e danças, eu vejo como uma reconstrução de tudo aquilo que a gente deixou de praticar por conta da opressão, por conta do preconceito, por conta do racismo. Como mencionei, é um olhar de uma mulher, Sateré-Mawé, como pesquisadora”,
contou.
Crescimento na literatura indígena
A escritora afirma que há um crescimento na literatura indígena – tanto na leitura, quanto publicação de obras – e diz acreditar que é uma tendência positiva para todos os povos.
“Já existe bastante escritores que estão fazendo publicação de seus livros, nós temos já vários indígenas que já escreveram seus livros, publicaram, e a gente pretende, o nosso desejo, é de que venham muito mais indígenas que possa trazer suas obras, tanto na literatura quanto nas artes também”,
finalizou.