Livro reúne detalhes da história da construção da centenária Paróquia de São Sebastião em Manaus

Próxima ao Teatro Amazonas, a paróquia dá nome a uma das principais praças da cidade e peculiaridades de sua construção já levantaram diversas hipóteses.

A paróquia de São Sebastião é uma das construções que embelezam a arquitetura do Centro Histórico de Manaus (AM), juntamente com o largo do São Sebastião e o Teatro Amazonas. Localizado na rua 10 de julho e próximo a outras construções históricas da cidade, a centenária obra de estilo gótico atrai a atenção de turistas e dos residentes que passam pelo Centro.

Por conta de sua localização privilegiada, muitos chegam a acreditar que ela é a igreja Matriz da cidade. Apesar de não ser uma afirmação verdadeira, muitas curiosidades estão associadas à paróquia, que já possui mais de 150 anos. 

Como ocorreu sua construção? Por que conta com apenas uma torre e não duas? Quem é o santo homenageado pela paróquia? Para responder estas questões, o Portal Amazônia conversou com Aristóteles Comte de Alencar Filho, atual presidente da Academia Amazonense de Letras e escritor do livro ‘Centenário da Igreja de São Sebastião’.

Igreja de São Sebastião vista do Largo de São Sebastião. Foto: Rickardo Marques/Acervo g1 Amazonas

Cronologia da fundação  

O inauguração da paróquia ocorreu no ano de 1888, entretanto, o início de sua história tem data anterior, começando oficialmente em 1859. À época, o santo São Sebastião havia sido escolhido como padroeiro do Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil. Por conta disso, o nome acabou se espalhando por diversas cidades e povoados país adentro.

Com Manaus não poderia ser diferente. A capital do Amazonas foi lar de idealistas cristãos que, em 1859, formaram a ‘Irmandade de São Sebastião’. A primeira capela era uma pequena construção de madeira, também considerada a primeira capelinha de que se têm registro na cidade. No entanto, por conta do clima amazônida, a capelinha não durou muito tempo, pela dificuldade de se preservar a madeira.

Abóbada com claraboia da igreja. Foto: Aristóteles Alencar/Acervo pessoal

Em 1868, Leonardo Ferreira Marque, presidente em exercício da província do Amazonas, anunciou oficialmente a construção da segunda capelinha. A roça adjacente ao local da construção ficou conhecida como ‘Praça de São Sebastião’. A construção da segunda ermida (denominação dada as pequenas igrejas) foi concluída em 1870.

Também construída em madeira, a segunda capela não estava resistindo aos intempéries climáticos da região – exposta às constantes chuvas e ao sol escaldante dos trópicos. Em 1875, a mesa presidencial da Irmandade optou pela construção de uma terceira capela, desta vez em alvenaria. 

Encabeçada pelo arquiteto manauara João Carlos Antony, a nova capela, inaugurada em 1888, possuía um estilo eclético, com  inspirações tanto góticas quanto neoclássicas na sua construção.

“O templo possui forma de Cruz latina, ligeiramente romboidal [quadrilátero de lados adjacentes com tamanhos diferentes] , em alvenaria. Apresenta uma cúpula de cimento armado, encimada por um zimbório [parte mais alta de uma cúpula], também de cimento, que serve de claraboia. Possui uma torre com seis sinos”, descreve o autor sobre os detalhes da construção.

As torres da igreja 

Um dos principais boatos a cerca da capela diz respeito a sua ‘segunda torre’, que nunca foi construída. Os motivos são alvo de especulação até hoje, já que a obra deveria, sim, contar com duas torres.

A principal crendice popular é de que a torre teria afundado junto ao barco que trazia os materiais de sua construção, que vinham de barco da Europa. Outros dizem que não teria duas torres por não ter como público os nobres e a ‘alta-sociedade’. 

Por mais que sejam hipóteses conhecidas, a verdade é que novamente o clima amazônico foi o “vilão”. Por conta das chuvas frequentes, a segunda torre teve uma paralização em suas obras, que nunca foi retomada, já que na época a nave central da construção precisava de um ‘reforço extra’, por um risco de ser tombada. 

“Frei Fulgêncio desmistifica todas as teorias existentes. Explica que faltou dinheiro para sua construção, pois a quantia disponível teve que ser usada para a recuperação da Igreja”, 

diz o autor.

O santo dos mártires 

São Sebastião, padroeiro da paróquia, está entre os santos mais venerados pelo povo brasileiro, sua história de devoção diante das adversidades inspira a fé cristã. 

De acordo com informações da Arquidiocese de Manaus, o santo nasceu em Milão, no século terceiro. Tendo sido um soldado do Império Romano, São Sebastião precisava professar sua fé em segredo, já que à época, no Império de Dioclesiano, a Igreja e os cristãos eram duramente perseguidos.

Por conta de sua grande aptidão física e mental, São Sebastião ascendeu ao posto de primeiro capitão da guarda do Império. Utilizando de sua influência ele consolava os cristãos que eram presos, sendo considerado o apóstolo dos mártires. 

Foto: Reprodução/Arquidiocese de Manaus

Posteriormente, o santo foi denunciado ao imperador e condenado pelo crime de traição. Sentenciado à morte por flechadas, enquanto amarrado a um tronco. Apesar de levar ter sido alvejado por inúmeras flechas, São Sebastião foi encontrado ainda com vida, por uma fiel cristã. 

Ainda assim, após sua recuperação, ele voltou a se apresentar ao imperador, com a inteção de professar sua fé. Entretanto, desta vez ele foi duramente martirizado, no ano de 288 d.C..

O santo é considerado um exemplo de devoção para a fé católica, justamente por não ter abandonado sua crença mesmo diante da ‘segunda chance’ que recebeu, por ter sobrevivido a primeira pena.

‘Centenário da Igreja de São Sebastião de Manaus’ 

O livro ‘Centenário da Igreja de São Sebastião de Manaus 1888-1988’, lançado em 9 de dezembro, conta com uma riqueza de detalhes toda a história da construção e das figuras célebres que participaram de alguma forma da cronologia da paróquia. 

O livro foi escrito pelo atual presidente da Academia Amazonense de Letras (AAL), o médico Aristóteles Comte de Alencar Filho, inspirado pela obra de Frei Fulgêncio Monaceli. 

Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia

“São diversas as histórias contadas por Frei Fulgêncio em seu livro. A cronologia dos fatos colocada por ele necessita ser lida. Tem a história da segunda torre, a da invasão da Igreja pelos policiais, a diminuição do tamanho geográfico da Paróquia, entre outras”,

recomenda Aristóteles.

Frei Fulgêncio ao lado de Aristóteles Alencar. Foto: Aristóteles Alencar/Acervo pessoal


*Estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar


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