Passeio de bonde em Manaus, na década de 1930. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte
Por quase seis décadas, os bondes de Manaus (AM) – Manáos Tramways – foram mais que um simples meio de transporte: representaram um marco da modernização urbana na capital amazonense. Implantado no fim do século XIX, o sistema foi pioneiro na adoção do bonde elétrico no Brasil, colocando Manaus entre as primeiras cidades do país a oferecer esse tipo de serviço público, ao lado de Campos e do Rio de Janeiro.
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De acordo com o historiador Abrahim Baze, o impulso para essa modernização veio com o governo do urbanista Eduardo Ribeiro, que, vislumbrando uma cidade alinhada aos padrões europeus, promulgou em 1895 a Lei nº 124, autorizando a concorrência pública para a instalação dos bondes.
O vencedor foi o engenheiro inglês Frank Hirst Habbletwhite, que assinou um contrato para a construção de 20 quilômetros de trilhos, com subvenções escalonadas nos primeiros quinze anos.
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A Manaus Railway Company foi a primeira a operar o sistema, promovendo uma inauguração experimental em 1896. Os dados do período informavam que a cidade já contava com 16 km de linhas, 35 bondes, sendo 10 destinados a passageiros, e mais de 170 mil pessoas transportadas em um único ano. A tarifa? Apenas 250 réis (moeda da época). A inauguração oficial ocorreu em 1º de agosto de 1899 e mantinha dezenas de viagens diárias.
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Em 1902, o Estado assumiu o controle do sistema, repassando-o depois a diferentes administrações até a criação, em 1908, da Manaus Tramways and Light Company Limited, de capital inglês. A nova concessionária, que também cuidava da iluminação pública, deu continuidade aos serviços a partir de 1909.
Decadência
O declínio do sistema começou a partir da Primeira Guerra Mundial (1914–1918), quando o conflito dificultou a importação de peças e materiais essenciais para a manutenção dos bondes.
Assim, com baixa lucratividade, os investimentos foram encerrando e o sistema passou a se deteriorar lentamente.

Em 1950, já com as usinas de energia elétrica defasadas e os bondes em condições precárias, a Manaus Tramways foi encampada pelo governo estadual. A crise energética que se seguiu obrigou a suspensão dos serviços, mergulhando Manaus em um apagão literal e simbólico.
Uma tentativa de reativação ocorreu em 1956, com a criação da Companhia Elétrica de Manaus (CEM), que colocou nove bondes em operação. A frota, porém, era insuficiente, e não havia recursos para expansão. Em meio a disputas judiciais com a antiga empresa inglesa, os trilhos do passado foram definitivamente desativados em 28 de fevereiro de 1957.
Novo fôlego?
O prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou em novembro do ano passado um projeto em que os bondinhos devem voltar a circular no Centro de Manaus. A estação inicial, de acordo com a prefeitura, seria o prédio histórico da BoothLine. A proposta, segundo Almeida, é para dar incentivar o turismo no Centro Histórico, que já conta com outros pontos revitalizados e criados pensando em atrair o público da capital e de fora.
