Dirigido por Felipe Maya Jatobá, o espetáculo, a ser encenado todas as segundas de agosto, aborda a diferença entre os ideais políticos de uma família
Após o falecimento da avó Angélica, os primos Wlad e Stuart visitam uma casa antiga na fazenda e descobrem um passado escondido do avô Roberto. Descobrem também ser de uma família dividida por diferentes ideais de País – e que guarda um grande segredo. A história, que se passa em 1968 e 2018, é a proposta do espetáculo “E Nós Que Amávamos Tanto a Revolução”, produção teatral amazonense do Grupo Jurubebas de Teatro, que estreia no dia 3 de agosto com transmissão ao vivo, às 20h, no canal do Youtube da companhia (Grupo Jurubebas). A obra será encenada todas as segundas do mês de agosto, sempre no mesmo horário.
“Trouxemos a polaridade política como pano de fundo para esta reflexão. Estamos vendo um Brasil dividido pelos diferentes ideais de nação e muitas famílias divergindo sobre o mesmo tema, fragilizando ainda mais essas relações afetivas. A partir desse princípio, buscamos integrar ao nosso discurso a polarização política histórica, que ocorreu também no período da ditadura militar no Brasil”, coloca ele.
Para compor o texto, foi realizada uma pesquisa documental com base em artigos de historiadores e jornais de 1964 a 1968 em Manaus, onde o grupo pôde analisar, com ajuda profissional do historiador Júlio Silva, a forma como os dois lados se apresentavam à população da época. “Trazemos uma história de um conflito tão complexo quanto a política, marcada por uma relação de cumplicidade e medo. A grande pergunta da obra é: de que lado você está?”, explica o diretor.
O espetáculo é a junção de duas dramaturgias, “E Nós que Amávamos Tanto a Revolução” do paulista Ewerton Frederico, e “Numa Cidade Engolida Pelo Vento” de Caio Muniz e Felipe Maya Jatobá. “O texto de Caio Muniz e Felipe Maya Jatobá parte da teoria do Caos, numa narrativa que se passa em diversos períodos históricos. A trama se passa em 1968 após o AI-5 e em 2018 no período pré-eleição, onde primos se encontram em lados opostos em relação ao pensamento político”, explica Felipe.
Conforme aponta o diretor, a peça se baseia nas coincidências políticas do período que antecedeu o AI-5 e o período atual em que ele enxerga pessoas em atos antidemocráticos e de extrema violência por divergências políticas. “Sempre nos perguntamos durante o processo quantas relações foram perdidas a partir de diferentes posicionamentos, assim como quantas vidas foram perdidas por abusos de um poder totalitário e que não respeitava a liberdade de opinião”, comenta Felipe.
A cenografia do espetáculo será realista, onde o grupo adaptará o espaço de encenação a um quarto abandonado e cheio de lembranças. “A forma mórbida da ambientação em tom amadeirado visa mostrar justamente esse lado sombrio de quem teve ideais interrompidos pela violência militar no período da ditadura. Propomos, através desta cenografia, contar uma história revirada, caótica e antiga, mas de um passado que não está tão distante assim”, coloca ele.
Elementos
A sonoplastia será composta pela Dj Naty Veiga juntando clássicos da música popular brasileira da década de 60 em LoFi, que é um estilo de produção musical que usa técnicas de gravação em low fidelity. “A ideia é mesclar a produção musical mais tradicional da MPB com o Lofi Hip-Hop uma aposta mais atual de sonorização, dando um aspecto vintage à sonoridade deste trabalho”, adianta Jatobá.
A iluminação é um dos elementos fundamentais para o espetáculo. “Serão aplicadas 3 propostas, realizadas pelo iluminador-pesquisador Léo Margarido, que variam entre luz natural, convencional e alternativa, que serão responsáveis pela transição entre uma temporalidade e outra. É a partir da iluminação que o espectador fará sua volta ao passado e vez ou outra voltará ao presente. Encontramos essa alternativa a partir de diversos testes realizados pelo iluminador em sua própria residência no período de isolamento social e que para o palco estará maior e mais completa”, pondera Felipe.
O espetáculo “E Nós Que Amávamos Tanto a Revolução” é o primeiro do gênero Drama que o Grupo Jurubebas apresenta em sua trajetória. “Após anos pesquisando gêneros teatrais pós-modernos, o grupo se volta ao gênero mais conhecido do teatro mundial buscando novos olhares ao seu repertório, de forma que o alcance desta obra seja amplo e diverso. Através da história dos 5 personagens que se apresentam em quase 1 hora de espetáculo, deixaremos o espectador com uma grande reflexão. A peça é um drama moderno, que parte de uma dramaturgia do caos e tem classificação indicativa para 16 anos”, assegura ele.
Sinopse
Angelica (avó), uma jovem de classe média e estudante de moda, é casada com Roberto (avô), um estudante de Letras e militante de um partido de esquerda. Miranda é um delegado militar que tortura presos políticos durante a ditadura. Miranda e Roberto lutaram juntos na Segunda Guerra Mundial e após o AI-5 se encontram em lugares opostos. Até que Roberto é preso e acaba sendo torturado por Miranda. Descobre-se então que Miranda é irmão de Angélica e que, por causa dela, ele salva Roberto da morte.
Mais infos.
A peça será encenada e transmitida ao vivo para todo o território nacional e conta com apoio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos/ Manauscult, através do edital Prêmio Manaus de Conexões Culturais 2018.
Serviço
o quê: Estreia da peça “E Nós Que Amávamos Tanto a Revolução”
quando: Dia 3 de agosto, às 20h
onde: Canal no Youtube (Grupo Jurubebas)
exibição: Todas as segundas de agosto, sempre às 20h