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Quinta, 25 Abril 2024

Festa da Moça Nova: conheça o ritual de iniciação das mulheres Tikunas

Festa da Moça Nova: conheça o ritual de iniciação das mulheres Tikunas

A Worecütchiga ou Festa da Moça Nova é um dos rituais de iniciação mais expressivos da etnia Tikuna, constantemente referenciado na produção artística da tribo. Essa expressão é uma maneira de assegurar a tradição além de disseminá-la em todo o mundo.  

O Ritual da Moça Nova começa quando uma indígena Ticuna alcança a primeira menstruação, demonstrando a transição para a vida adulta e a capacidade para ter filhos e formar uma família. Neste momento um ambiente com paredes de talos de buriti é construído para o 'noviciado moçangol', nele, a moça nova recebe ensinamentos místicos e orientações da mãe e das tias, de modo a afastá-la dos maus espíritos enquanto a família começa os preparativos para a festejo.

Durante a festa, curandeiros e chefes dos clãs Tikunas utilizam máscaras figurando os curacas, isso faz parte das etapas da festa de iniciação.

O Worecütchiga é feito pela etnia Tikuna. NovaFoto: Reprodução/Rede Amazônica

Conforme uma pesquisa publicada pelo Museu Paraense Emilio Goeldi, os mascarados fazem parte de algo que relaciona o medo ao divertimento.  A dança dos mascarados (To'ü) são pulos e giros. 

No processo, o pai da indígena iniciada prepara o pajuaru, bebida alcoólica com mandioca fermentada, além de caçar e pescar moqueada (secando ou defumando) os alimentos para a cerimônia. Enquanto isso, os familiares se responsabilizam por convidar outros clãs para o ritual indígena que abarca a cosmogonia dos Tikunas, ou melhor, as crenças sobre a origem da etnia e a "natureza vegetal".

Antes desta performance, muitos mascarados já chegaram à casa de Festas para dançar e receber sua parte em carne moqueada e caldo de pajauaru (bebida fermentada). Alguns deles tentam arrombar as paredes do quarto de reclusão tentando atacar as moças, pulando como macacos. Estes ataques são coibidos pelos parentes mais próximos das moças, especialmente por suas mães e tias.

diz o pesquisador Edson Tosta Matarezio Filho.

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No Amazonas, mas especificamente no Município de Tabatinga (localizado no oeste do Estado do Amazonas, na tríplice fronteira entre o Brasil, Colômbia e Peru) a festa resiste e marca uma importante fase da vida da mulher indígena. Durante o ritual, elas têm os cabelos arrancados como forma de simbolizar a nova vida.

No Amazonas, a festa resiste ao convívio do indígena com a sociedade civil. Foto: Reprodução/Scielo

Simbologia 

Os bastões de dança, as cuias para o pajuaru e as máscaras dos curacas são representados nas estatuetas zoomórficas para decoração de interiores com riqueza de detalhes e demonstram tanto a excelência da produção artística indígena brasileira quanto o poder que possuem como diferenciadores étnicos e como afirmação da identidade cultural Ticuna. As máscaras ritualísticas, em especial, exibem o domínio da tecelagem com fibras naturais de tururi, pintadas com um rico acervo de plantas tintórias e pigmentos minerais.

Para os Tikunas, as imagens de animais figuradas nas máscaras remontam ao tempo em que não havia distinção entre eles e os humanos, de maneira que elas exemplificam essa separação. Outros detalhes da mitologia indígena são levados para o ritual como a crença na imortalidade proporcionada pelo porre de pajuaru que os fazem entrar no céu dos imortais.

Para o pesquisador poderíamos pensar o ritual como uma espécie de atribuição de um "novo significado aos fatos psíquicos existentes" que é reelaborado por um novo significado, construído na festa. Está em jogo um conjunto relacional para esta coconstrução, entre moças, festeiros, mestres de cerimônia (üaü˜cü), cantores etc. O ápice desta reelaboração de significado é – ao contrário da relação predatória com os 'bichos' no cotidiano – as moças 'vencerem' os 'bichos' em suas 'danças' e os despacharem para a floresta. Estes já não podem mais lhes causar mal.

"A iniciação à vida adulta é um caminho sem volta. Em outras palavras, ninguém muda de bom grado, mas porque ele é forçado a fazê-lo"

afirma, Edson Filho.

É precisamente isso que confere à lógica traumática sua força e seu caráter de inelutável. Trata-se de um momento onde afetos e emoções opostos se misturam, contribuindo para potencializar esse 'trauma' e gerar as transformações desejadas nos participantes do ritual.


Parte da matéria foi construída com informações do artigo: Do ponto de vista das moças: a circulação de afetos na Festa da Moça Nova dos Ticuna*

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