“Escrever é necessidade de resistência”, diz escritora indígena amazonense

Márcia Wayna Kambeba lança livro sobre o papel da mulher indígena no Fliparacatu dia 27 de agosto.

A escritora Márcia Wayna Kambeba lança, no dia 27 de agosto, durante a primeira edição do Festival Literário de Paracatu (Fliparacatu), o livro ‘De almas e águas kunhãs’, com ensaios e poemas sobre temas como resistência de povos originários e respeito à natureza na Amazônia. Ela apresentará a palestra ‘Narrando ancestralidades’, ao lado da também escritora e pesquisadora indígena Trudruá Dorrico, a partir das 11h30, na Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Centro de Paracatu (MG).

“Escrever e compor (ela tem mais de 30 músicas autorais) são necessidades para expressar resistência, comunicar e respeitar a cultura da gente, a natureza, o nosso olhar e compreender o entendimento que temos do mundo”, 

afirmou a autora.

Foto: Márcia Wayna Kambeba/Acervo pessoal

Ela explica que a inspiração para a arte veio da ancestralidade: a avó. “Ela me motivava a escrever. Ela comprou minha primeira máquina de datilografia. Me colocou em um curso. Ela sempre apostou e apoiou para que eu me tornasse uma poeta, uma escritora”.

Incentivada, aos 14 anos de idade ela começou a escrever os primeiros poemas. A avó morreu quando ela tinha 21 anos. Só foi depois de concluir o mestrado que conseguiu publicar os primeiros livros. Ao todo, são seis impressos. Mais três devem ser publicados em setembro (esses para o público infantil).

Mulher

“O meu livro trata do papel da mulher indígena em todas as relações estabelecidas em que nós adentramos, a mulher indígena como pajé, na política, na proteção do meio ambiente e de nosso território”, disse a escritora, que é também pesquisadora de geografia. Com 44 anos de idade, ela é da etnia Omágua Kambeba, nasceu na Aldeia Belém de Solimões, do povo Ticuna, no interior do Amazonas, onde morou até os oito anos de idade.


Ela enfatiza que a literatura é voz contra as adversidades e violências que os povos indígenas sempre enfrentaram no Brasil. “Nós sofremos violências das mais diversas formas, nos aspectos culturais e territoriais, por exemplo. A própria natureza, quando é violentada, também nós sentimos dentro das aldeias”. Nesse sentido, ela explica que a mulher indígena tem ocupado mais espaço, como ser liderança, cacique e pajé.

“A gente não quer ser melhor que os homens e também não quer ficar atrás deles. Os nossos parentes, homens indígenas, têm compreendido bem esse posicionamento das mulheres. Não aquela que fica em casa, mas a que lidera”, diz. 

A pesquisadora explica que a literatura entrou na vida dela quando a avó recitava poemas que ela mesmo escrevia: “Ela era compositora da aldeia. Eu cantava para os turistas que visitavam nosso povo”.
Com nove anos de idade, mudou-se para São Paulo de Olivença e depois para Tabatinga, onde cursou geografia. Depois, fez mestrado na mesma área. Mas, encantada pelas poesias, foi para Belém cursar doutorado em letras.
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