Entenda como a construção da EFMM deu início ao Carnaval em Porto Velho

Historiadores revelam que foi durante a construção do maior patrimônio histórico da cidade, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que a festividade começou na capital rondoniense.

O Baile Municipal abre alas para o período de folia mais esperado por muitos moradores de Porto Velho: o Carnaval. Historiadores revelam que foi durante a construção do maior patrimônio histórico da cidade, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), que a festividade começou na capital rondoniense.

Foi a partir do movimento dos trabalhadores, com o ‘Desfile de Mascarados’, que festividade começou e evoluiu ao longo do tempo para os atuais e tradicionais blocos de rua. Este ano, mais de 20 blocos devem desfilar pelas ruas da capital, do dia 2 ao dia 17 de fevereiro.

História do Carnaval em Porto Velho. Foto: Rita Vieira/Acervo pessoal

De acordo com a pesquisadora e historiadora Rita Vieira, as primeiras manifestações carnavalescas surgiram em Porto Velho durante a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), entre 1900 e 1912. Naquela época, a cidade era dividida entre: trabalhadores (mão de obra) e elite (engenheiros, médicos e empresários).

As celebrações passaram a ser organizadas por essas pequenas populações consideradas ‘elitistas’, em locais como o Clube Internacional (atualmente conhecido como ‘Ferroviário’), e em vários outros “bordeis”.

Os trabalhadores, ao observar as festas promovidas pela ‘elite’, sentiram o interesse de festejar também. A partir disso, surgiram as primeiras manifestações populares nas ruas, nas quais as pessoas se vestiam com cores vibrantes, fantasias e máscaras nos desfiles carnavalescos.

De acordo com o professor e historiador da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Marco Teixeira, foi durante a ditadura Vargas, em 1930, que as práticas carnavalescas, vistas como ‘imorais’ em todo o país, passaram a ser ‘disciplinadas’. “Foi inevitável que, após a ditadura, o Carnaval ganhasse novamente fortes contornos populares e de liberação corporal e mental’, explica.

Após o período da ditadura, o Carnaval popular, como o ‘Bloco de Mascarados’, voltaram a tomar conta das ruas. Os bailes de salão, organizados pela elite, readquiriram suas características originais e surgiram vários outros clubes na cidade, como o ‘Ipiranga’ e o ‘Garfo de Ouro’. 

Foto: Rita Vieira/Acervo pessoal

Escolas de samba e os ‘blocos sujos’ 

Influenciada pelo estilo carioca, surgiu em Porto Velho, em 1958, a escola de samba Grêmio Recreativo ‘Os Diplomatas do Samba’, que representava funcionários públicos e ferroviários.

Na mesma época, as rodas de samba e danças de terreiro também se tornaram comum nas periferias da cidade, que se formavam nos arredores dos bairros planejados da capital.

Segundo Marco, nesses bairros populares, os ‘Blocos Sujos’ e outros grupos começaram a organizar cortejos pela cidade. O primeiro registro é do bloco ‘O Triângulo Não Morreu’. Em seguida, surgiram outros, como o ‘Bloco da Cobra’, no bairro Mocambo.

Nesse período, as figuras marcantes do carnaval eram a Dona Labibi Bartolo, Bola Sete (Eliezer Santos) – fundador do bloco ‘Deixa Falar’, que evoluiu para a primeira escola de samba exclusivamente masculina da cidade.

“Pouco tempo depois, a força dos Diplomatas do Samba levou à união da escola ‘Deixa Falar’ e do bloco ‘Triângulo Não Morreu’ à escola de samba”, explica o historiador. 

Foto: Livro ‘História do Carnaval em Porto Velho’

Competições das escolas de samba 

Com as cores vermelha e branca, os Diplomatas do Samba dominaram todos os títulos do carnaval de rua de Porto Velho. A hegemonia foi desde a sua fundação até 1970, quando surgiu uma escola ‘rival’, explicam os historiadores.

Em 1964, após o desfile da Diplomatas, moradores do bairro Caiari formaram a escola ‘Os Pobres do Caiari’, satirizando suas condições financeiras.

Marco Teixeira explica que esse evento e o surgimento de outras escolas, marcou o ápice dos desfiles de samba em Porto Velho, entre o final dos anos 60 e o início dos anos 90.

As competições entre as escolas passaram a ocorrer em diferentes avenidas da cidade, após o período de 7 de setembro.

Em 1971, surgiu também um novo ‘bloco de sujos’, formado por funcionários da antiga usina de asfalto localizada no bairro da Embratel, que decidiram realizar um desfile improvisado após concluírem o recapeamento de uma avenida.

Considerados pelo público do carnaval como sucesso, decidiram continuar o desfile por anos seguintes, até oficializarem a criação da entidade com o nome de ‘Escola de Samba Asfaltão’, em homenagem ao piche de asfalto em que trabalhavam no dia em que tudo começou.

Foto: Jaíne Quele Cruz/Rede Amazônica

‘Na brincadeira entra quem quiser’ 

De acordo com o professor, a decadência do Carnaval de rua teve início nos anos 90, com o surgimento de eventos pagos, como o Carnaval na Praça. A insegurança gerou a busca por blocos mantidos por cordas de isolamento e com mais seguranças.

“Apesar desse declínio, a Banda do Vai Quem Quer, fundada em 1981, manteve-se como um evento de rua acessível a todas as classes sociais, desfilando nos sábados de carnaval até hoje”, explica.

Em 1981, um grupo de amigos boêmios e apaixonados pela cultura discutia os problemas dos carnavais na capital. Assim, nasceu a ‘Banda do Vai Quem Quer’. Entre os amigos, estava Manoel Mendonça, o Manelão, que ficou conhecido como o “General da Banda”.

Segundo Silvio Santos, um dos fundadores do bloco carnavalesco, a Banda surge como uma espécie de protesto sob inspiração de um bloco carioca. A ideia deu tão certo que a Banda, hoje, é patrimônio cultural do estado.

Além disso, outros blocos surgiram para desfilar em dias específicos na semana carnavalescas e animar o período de festividades, como o ‘Galo da Meia-Noite’ do bairro do Caíari e ‘Pirarucu do Madeira’ dos bairros Arigolândia e o Caíari.

Conhecido pelas cores, os bonecos gigantes, fantasias e ausência de cordas e abadás, em 2023, o bloco ‘Pirarucu do Madeira’ se tornou Patrimônio Cultural de Porto Velho.

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