Em Belém, cine Olympia comemora 108 anos com programação virtual

O Olympia tem 434 lugares e uma tela de dez por quatro metros, bem grande se comparada à tela de 1912.

O cinema mais antigo em funcionamento no país, o Cine Olympia, completa na próxima sexta-feira (24), 108 anos de existência, numa história que transita do cinema mudo até a era dos efeitos especiais. Para celebrar a data, a Prefeitura de Belém vem desde o dia 19, exibindo seis episódios nas redes sociais e grupos de whatsapp com mais de 700 pessoas. As exibições vão até o dia 24.

Olímpia chega aos 108 anos com programação virtual. (Foto:Fernando Sette/Agência Belém)

São temas dedicados às memórias do Cine Olympia. A ideia é interagir com os cinéfilos que conhecem e os que ainda não conhecem o cinema, oficializado como patrimônio histórico e cultural no ano de 2012, quando completou 100 anos. Para conferir os episódios basta acessar: no Facebook; Instagram e Twitter.

“Todos os anos comemoramos o aniversario do Cine Olympia por tudo que ele representa para nós, paraenses. E todos os anos o público se faz presente na comemoração. São saudosistas, cinéfilos, críticos de cinema, estudantes, entre outros. Pela atual conjuntura este público não vai poder ir ao Olympia porque o momento é pra ficar em casa para vencermos a pandemia da covid-19. Mas vamos presentear este público com muitas histórias e emoções que o Olympia já proporcionou com filmes memoráveis que passaram no Olympia. Então vamos às redes sociais para aproveitar tudo isso e comemorar os 108 anos do mais antigo cinema em atividade do Brasil”, disse Nazaré Moraes, gerente do cinema.

História

O espaço foi fundado em 24 de abril de 1912 pelos empresários Carlos Teixeira e Antônio Martins, donos do Grande Hotel e do Palace Theatre. O Cine Olympia foi idealizado para receber a elite de Belém daquele período, no ciclo da borracha. Os filmes vinham da Europa para o território paraense.

Com inúmeras dificuldades econômicas e administrativas, o Grupo Severiano Ribeiro, último proprietário do espaço, quase fecha as portas do cinema em 2006. A Prefeitura de Belém resolveu então atender aos apelos da sociedade, que compareceu em massa à sessão de despedida, assinando um contrato com o proprietário da casa para mantê-la como espaço cultural.

O Cine Olympia é vinculado à Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) desde 2015, quando recebeu um novo projetor de longo alcance e um sistema sonoro mais moderno. Atualmente, a Fumbel está finalizando o processo de licitação do restauro do Olympia, por financiamento da Prefeitura junto ao PAC das Cidades Históricas/Iphan, com projeto da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb).

Com foco na valorização cultural e educativa, o Cine Olympia mantém cinco projetos: “Cinema e Música”, “A Escola Vai ao Cinema”, “Curta Olympia”, “Cinema Olympia Itinerante” e “A Universidade Vai ao Cinema”. Todos incentivam e difundem a cultura do cinema.

Desde que o Olympia passou a ser administrado pela Prefeitura, espaço se tornou referência pública cultural em Belém. (Foto:Fernando Sette/Agência Belém)

Curiosidades

Para quem hoje entra no cinema, é inevitável a sensação de voltar no tempo, a uma época em que ir ao cinema era um acontecimento envolvido pelo glamour das elites do século passado, principalmente, por conta da Belle Époque, decorrente da opulência proporcionada pela borracha. Caminhar pelos corredores e atravessar as cortinas para buscar o melhor lugar em poltronas vermelhas bordô refinadas também aumenta a expectativa de vivenciar a cultura audiovisual. O Olympia tem 434 lugares e uma tela de dez por quatro metros, bem grande se comparada à tela de 1912.

“O cinema só parou em 2006 para uma reforma rápida e agora, com a pandemia. Mas nunca parou de fato. Sempre tivemos um grande público. Quando fizemos a exibição “O Menino e o mundo”, ocupamos todos os lugares e ainda tivemos gente sentada no correndo. Em todos os aniversários as sessões são lotadas, sempre. O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro também levou um grande público”, disse Nazaré, que ainda ressalta que festivais como o de Cinema de Terror e, o projeto “Cinema e Música” também tiveram sessões lotadas.

O cinema foi tema de livros como “Cinema no Tucupi”, de Pedro Veriano, que conta outras histórias, incluindo o costume disseminado no Cinema Olympia de ser palco da fofoca social da época, registrada nas publicações sociais locais.

O primeiro filme sonoro exibido em Belém foi “Alvorada do Amor”, opereta da Paramount Picture, com Maurice Chevalier e Jeanette Mac Donald, dirigida por Ernest Lubitsch, em 30 de novembro de 1930. O maior sucesso de bilheteria do cinema Olympia na década de 30 foi o filme “King Kong”, de Mirian C. Cooper e Enest B. Schoedsack, com Robert Armstrong e Fay Wray.

Em 1974 Belém foi palco de acontecimentos importantes e filmes memoráveis. Sediou o I Festival de Cinema Brasileiro, com as exibições diárias dos filmes participantes do evento, que iriam concorrer ao Prêmio Muiraquitã.

Em 1980, o Olympia exibiu o filme “O Império dos Sentidos”, dirigido por Nagisa Oshima, controverso e polêmico, que bateu recorde de permanência em cartaz na década de 80, ficando 13 semanas em exibição.
 

Público

A jornalista, Dedé Mesquita, especialista em Estudos Sobre Cinema e Sociedade, lembra: “Vi grandes filmes nessa sala, e posso dizer que derramei muitas lágrimas e ria também em maior dimensão”. (Foto:Fernando Sette/Agência Belém)

A jornalista Dedé Mesquita, especialista em Estudos Sobre Cinema e Sociedade pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) desde 2005, relembra um pouco da sua vivência com o cinema. “Tenho um carinho imenso pelo Cine Olympia porque ele foi uma das primeiras salas de cinema que frequentei em Belém. Naquela época, eu não tinha ideia da importância dele para Belém e para a Sétima Arte. Vi grandes filmes nessa sala, e posso dizer que derramei muitas lágrimas e ria também em maior dimensão”, disse Dedé, que atualmente mantém o blog Jornalistas Paraenses em Ação.

Para a jornalista, o protesto contra o fechamento do Cine Olympia foi um marco na sua história. “Quando foi anunciado que ele iria ser fechado e que seria vendido, a turma ligada ao audiovisual em Belém organizou um protesto dentro da maior classe: fomos todos vestidos com roupas ‘de noite’, bem à caráter, para relembrar os bons e velhos tempos do Olympia, quando frequentá-lo era um ‘acontecimento’ e as pessoas de arrumavam para ir como se fosse a um baile”, relata Dedé.

Orgulhosa de ter participado desta demonstração de amor ao Olympia, Dedé ainda acrescenta “O protesto, o mais elegante a que já fui, deu certo e o Olympia continua sendo o cinema mais antigo do Brasil, funcionando sempre no mesmo local, e levando alegria e diversão a quem ama o cinema acima de tudo. Longa vida ao Cine Olympia, porque tenho certeza que ela tem ainda uma longa carreira de exibições pela frente”, disse, dando os parabéns ao ícone da história cultural da capital paraense e do Brasil.

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Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

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