3 locais que protegem documentos históricos do Amazonas

Manaus, Tefé e Parintins são cidades que se destacam no Amazonas em relação às suas preservações históricas. Confira um pouco do que cada uma delas guarda sobre sua própria história:

Foto: Walter Mendes/Acervo Jornal do Commercio

Documentos são registros que guardam informações sobre o passado e ajudam a compreender como sociedades, instituições e pessoas atuaram ao longo do tempo. No Amazonas, esses materiais estão espalhados em diferentes arquivos e acervos, formando fontes de pesquisa fundamentais para historiadores, estudantes e cidadãos que buscam entender a memória regional.

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A produção e a conservação de documentos no Amazonas remontam ao século XIX, período no qual as instituições públicas começaram a registrar informações administrativas, legais e sociais de maneira mais sistemática. Esses documentos variam de decretos, legislações, registros administrativos, até periódicos e atas oficiais.

O acesso a esses materiais, em muitos casos, depende de políticas de preservação e digitalização desenvolvidas por órgãos públicos e iniciativas de pesquisa. A organização desses acervos, no entanto, é trabalhosa e demanda recursos técnicos para que os papéis antigos possam ser consultados sem risco de dano físico, sendo digitalizados quando possível.

Neste contexto, alguns dos documentos mais antigos do Amazonas foram identificados em três localidades: Manaus, Tefé e Parintins. Conheça:

Manaus: arquivos centenários e documentos do período imperial às primeiras décadas republicanas

Em Manaus, a capital do estado, o Arquivo Público do Estado do Amazonas é uma das principais instituições que guarda documentos antigos referentes à administração e à história do Amazonas. Criado em 1897, esse arquivo tem como missão coletar, organizar, armazenar e recuperar documentos que preservam a atividade pública estadual desde o período imperial brasileiro até os anos iniciais da República.

Entre os documentos mais antigos estão peças datadas do início do século XIX, incluindo materiais do período imperial que abrangem leis, decretos e registros administrativos que datam de 1821 e 1852, conforme relatado em iniciativas de reorganização do acervo.

Além disso, o acervo público em Manaus conta com edições históricas do Diário Oficial do Estado que remontam à década de 1890, antes mesmo da formalização do próprio Arquivo Público, evidenciando séries documentais contínuas que registram atos oficiais do governo estadual ao longo de mais de um século.

Tefé: registros históricos e organização de acervos paroquiais e municipais

Os documentos do Acervo de Tefé estão sob a guarda da prelazia de Tefé, no prédio da Rádio Rural. Foto: Divulgação/ Fapeam

No município de Tefé, no interior do Amazonas, projetos de pesquisa e programas de organização de acervos têm resgatado documentos que remontam ao século XIX, integrando fontes que compõem a memória local. A pesquisa sobre o acervo bibliográfico e documental dessa região inclui materiais que registram eventos e informações históricas importantes para a compreensão das transformações sociais e econômicas.

Livro de batismo da Vila de Ega em 1800, nome atigo dado ao município de Tefé é umas das obras presentes no acervo de Tefé. Foto: Revista Confluências – Luciano Teles, Tenner de Abreu e Alcemir Teixeira

Esses documentos, muitos deles ligados a instituições locais tais como igrejas e órgãos municipais, incluem registros de natureza civil e paroquial, que foram sendo reunidos e organizados ao longo do tempo por meio de iniciativas que visam higienizar, catalogar e disponibilizar o acervo para consulta pública e acadêmica.

Um dos documentos é o Livro de Batismo da Vila de Ega (1800) — Vila de Ega sendo a Tefé colonial — um registro paroquial conservado no acervo da Prelazia de Tefé e frequentemente citado por pesquisadores como fonte primária para a reconstrução da história local; esses livros documentais contêm nomes, datas, filiação e informações sociais essenciais que ajudam a mapear famílias, vínculos sociais e até aspectos da escravidão e da demografia regional nos séculos XVIII–XIX, por isso são usados em estudos históricos e genealógicos sobre a região.

O acervo de Tefé não se limita aos arquivos oficiais, pois documentos relacionados à vida cotidiana, atividades comunitárias e descrições de eventos importantes da região também fazem parte das coleções que estão em processo de preservação.

Os documentos estão sob a guarda da prelazia de Tefé, no prédio da Rádio Rural. O projeto de intervenção do acervo está sob a direção de uma equipe composta por três professores da área de História e estudantes de graduação do curso de Licenciatura em História, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Parintins: museu eterniza a história da cidade

Foto: Centro de Cultura e Memoria de Parintins (CCMP) – Divulgação

O Museu da Cidade de Parintins, instalado no Palácio Cordovil — um dos mais importantes patrimônios públicos do município, é um dos espaços mais modernos dedicado à preservação e à apresentação da memória local. O prédio, que já sediou o Poder Executivo em 1969, compõe um conjunto arquitetônico histórico ao lado da Praça Eduardo Ribeiro, reunindo elementos que auxiliam na compreensão da trajetória política e cultural da cidade.

O acervo do Museu da Cidade de Parintins reúne peças que preservam a história e a identidade cultural da ilha Tupinambarana, com destaque para fotografias, objetos, indumentárias e artesanatos relacionados ao folclore dos bois-bumbás muito além dos bois que competem em junho, mas especialmente do Caprichoso e do Garantido, que simbolizam a tradição local e a memória coletiva da cidade. Entre os itens do acervo estão peças doadas pelas próprias agremiações Boi Campineiro, VeludinhoAz de OuroDiamante NegroEstrela de Fogo e Marronzinho.

De acordo com a historiadora e administradora do museu, Larice Butel, o espaço reúne dois ambientes estruturados a partir de áreas distintas do antigo prédio público. O Paço Municipal, tombado e oficializado em 1968, integra a área mais recente, enquanto o setor correspondente ao antigo fórum de Parintins preserva detalhes arquitetônicos ecléticos que foram mantidos durante o processo de adaptação do imóvel. Essa combinação permite que o visitante tenha contato tanto com documentos e materiais históricos quanto com aspectos estruturais que representam períodos diferentes da construção da cidade.

Ao todo, o museu possui sete salas organizadas por temas, como cultura popular, história do município, influência de grupos estrangeiros e uma sala audiovisual com capacidade para 25 pessoas. O funcionamento ocorre diariamente, com horários ampliados nos fins de semana, especialmente para atender o aumento do fluxo turístico durante o Festival de Parintins. A primeira sala, destinada a exposições provisórias, apresenta obras do artista visual parintinense Evanil Marciel, que retrata elementos do cotidiano local por meio de técnicas como a pintura com espátula e o hiper-realismo. As obras expostas, que permanecem por seis meses antes de serem substituídas por novas mostras, destacam situações da vida tradicional de bairros como a Francesa e representações religiosas, como o milagre da multiplicação dos peixes.

Leia também: Arquivo Público do Pará é reaberto ao público

A exposição também aborda a presença dos povos indígenas que compõem a origem histórica de Parintins. Artefatos dos Sateré-Mawé, como porantins, inhanbés, luvas e formigas do ritual da Tucandeira, ocupam a segunda sala e permitem ao visitante conhecer elementos da cosmogonia e tradições desse povo. Em outra seção, os bois-mirins Estrelinha, Tupi e Mineirinho dividem o espaço com os bois Garantido e Caprichoso, exibindo fantasias utilizadas por artistas como Paulinho Farias e Arlindo Júnior. Entre os itens expostos, destacam-se o boi Caprichoso utilizado em visitas a torcedores durante o período de isolamento na pandemia e o boi Garantido que evoluiu no centenário do festival.

A história multicultural de Parintins também está representada no museu por meio dos objetos e documentos de famílias estrangeiras que contribuíram para o desenvolvimento local. Entre eles, itens pertencentes às famílias Minami e Sato, figuras influentes na cidade em décadas passadas. O acervo inclui ainda peças relacionadas ao promotor público Marcos Salomão Zagury (1883–1938), cuja sala reúne objetos pessoais organizados sob curadoria de Leão Azulai. Com essa diversidade de materiais, o Museu da Cidade de Parintins se consolida como um espaço onde diferentes épocas e influências socioculturais são preservadas, oferecendo ao público acesso a importantes referências sobre a formação do município.

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