Denildo Piçanã se despede como tripa do Garantido após 30 anos e passa legado ao filho

A revelação da troca de gerações foi feita de maneira poética, no meio da apresentação do Garantido na última noite do festival.

Foto: Mauro Neto/Secom AM

A última noite do 58º Festival Folclórico de Parintins, realizada neste domingo (29), foi marcada por um dos momentos mais simbólicos e emocionantes da história recente do Boi Garantido: a despedida de Denildo Piçanã do posto de tripa do boi e a passagem oficial do legado para seu filho, Denison Piçanã.

Denildo José Matos Ribeiro, conhecido no universo do bumbá como Denildo Piçanã, encerrou sua trajetória como intérprete do item 10, função que exige não apenas preparo físico, mas domínio cênico, conexão com o público e profundo conhecimento da tradição do boi-bumbá. A atuação de Piçanã por quase três décadas o tornou uma das figuras mais emblemáticas da história do Garantido.

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A revelação da troca de gerações foi feita de maneira poética, no meio da apresentação do espetáculo “Garantido, Boi do Brasil”. Coube ao amo do boi, João Paulo Faria, anunciar a passagem do bastão em forma de verso:

São 30 anos de história que agora eu vou recordar, foi no ano de 95, que começou a bailar, de Parintins, o boi de pano, o melhor tripa que há”.

Leia também: Quanto pesa um boi-bumbá? Saiba como é a preparação dos tripas para dar vida ao item 10 no Festival de Parintins

Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia

Em seguida, o apresentador oficial do bumbá, Israel Paulain, confirmou a transição: “O lugar, carregado de tradição familiar, agora passa a ser ocupado pelo filho, Denison Piçanã”.

A surpresa provocou forte reação nas arquibancadas do Bumbódromo, que vieram abaixo com aplausos, gritos e lágrimas de emoção dos torcedores do boi vermelho e branco. Muitos acompanharam atentos a evolução do novo tripa, que deu seus primeiros passos como sucessor do pai naquele mesmo instante, dentro da arena.

A família Piçanã, natural de Parintins, mantém um vínculo profundo com a história do Garantido. Denildo assumiu o posto de tripa em 1995, e desde então se destacou pela maneira como dava vida ao boi de pano durante as apresentações. Sua performance era marcada pela fusão de força física, leveza nos movimentos e ritmo sincronizado, resultando em uma interpretação que encantava o público e mantinha viva a essência do item.

Durante os 30 anos em que esteve à frente do personagem, Denildo Piçanã ajudou a construir a identidade do Garantido no Festival de Parintins. Cada entrada na arena era aguardada com expectativa, e sua forma de conduzir o boi era vista como parte central da magia do espetáculo.

Nas redes sociais, torcedores manifestaram carinho e reconhecimento: “Foi de arrepiar, difícil segurar a emoção. Amor puro pela arte que atravessa gerações. A arte transforma. A arte é vida”, escreveu um dos seguidores da página oficial do boi nas plataformas digitais.

Além da emoção causada pelo gesto, a cerimônia improvisada dentro do espetáculo marcou a continuidade da tradição familiar Piçanã dentro do item 10 do Garantido. Denison, agora responsável por carregar o peso simbólico e artístico do cargo, deu início a uma nova era, assumindo publicamente o compromisso de manter vivo o espírito do boi encarnado.

O espetáculo apresentado naquela noite, “Garantido, Boi do Brasil”, fez parte do projeto artístico mais amplo deste ano, com o tema “Boi do Povo, Boi do Povão”. A apresentação exaltou as raízes populares do Brasil, com homenagens à cultura indígena, afro-brasileira e aos bois de outras regiões do país.

O momento da despedida de Piçanã foi cuidadosamente encaixado dentro do espetáculo, representando não apenas o fim de um ciclo pessoal, mas também a continuidade de uma linhagem cultural profundamente ligada à identidade do Festival de Parintins.

Com a saída de Denildo e a entrada de Denison, o nome Piçanã continua presente na arena. A família segue representando um dos elementos mais tradicionais do festival: o homem por trás do boi, responsável por dar movimento, vida e emoção ao símbolo maior da disputa folclórica entre os bois de Parintins.

A entrega do posto reforça o papel da transmissão geracional no Festival de Parintins, onde arte, cultura e identidade caminham juntas, ano após ano, na maior celebração folclórica do Norte do Brasil.

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