Criadora de conteúdo negra comenta importância da discussão sobre questões ambientais nas redes sociais

O ativismo contra o racismo é pauta permanente, mas a influenciadora Sarah Mariah explica como outros temas também precisam de atenção e como ela tem trabalhado eles nas mídias.

Se você acompanha algum influenciador digital nas redes sociais já deve ter percebido que existem diversos nichos de conteúdo. Os nichos têm a função de reunir um público interessado em um determinado assunto, como moda, culinária e até pautas mais complexas como política e meio ambiente.

Mas você já parou para pensar quantos influenciadores digitais negros você segue e acompanha?

Apesar de 54% da população brasileira se autodeclarar preta ou parda e se concentrar consideravelmente na Região Norte do país, esse número não se reflete quando se analisa a quantidade de pessoas negras no mercado digital com uma quantidade significativa de seguidores e engajamento.

Além disso, o senso comum faz com que muitas pessoas acreditem que influenciadores negros debatem apenas pautas raciais. Se engana quem pensa assim. Dentre os tantos assuntos, eles também abordam pautas climáticas de interesse para a Amazônia.

Agora, como são abordadas as pautas climáticas? Que cuidados se deve ter ao levar questões ambientais como desmatamento, clima e até políticas ambientais para as redes sociais?

O Portal Amazônia conversou com a criadora de conteúdo Sarah Mariah, de 23 anos, que contou um pouco sobre como é a produção desse tipo de conteúdo da perspectiva de uma mulher negra, nortista e engajada em várias pautas sociais.

Humor para enfrentar a desigualdade 

Com foco na conscientização por meio do humor, Sarah, que além de influencer é acadêmica de marketing e redatora em planejamento, não tem como nicho apenas interessados nas questões ambientais: ela se posiciona sobre tudo – ou quase. Segundo ela, não há receio de “perder seguidores” ou engajamento ao mesmo tempo que quando se posiciona, tem domínio sobre o que está falando.

A influenciadora comenta que utiliza do humor para dar um ar suave em suas postagens e tenta estabelecer um relacionamento com seus seguidores – em sua maioria jovens – de uma maneira que todos entendam e interajam.

“Quando eu produzo algum conteúdo do gênero é de forma mais humorística ou então mais emocional porque eu acho que a gente precisa ter uma abordagem com o nosso público de uma maneira que ele entenda. Se eu venho com o discurso mais crítico, acadêmico, eu não vou conseguir alcançar uma maior quantidade de pessoas até porque a gente precisa conhecer o nosso público e o meu público é formado majoritariamente por pessoas mais novas e pessoas que ainda estão entrando no mundo acadêmico, estão desenvolvendo esse senso crítico”,

relata.

Pautas ambientais e políticas

Com dados de desmatamento na Amazônia cada vez mais alarmantes, o mês de novembro foi o segundo pior novembro da série histórica, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com o acumulado de 554km², maior que o tamanho de Rondônia e Roraima juntos.

Atrelado às problemáticas ambientais, lembra a influenciadora, a questão política esse ano foi intensa: “Nesse último ano. diante do cenário político, as minhas pautas também envolveram questões ambientais pelo fato de estarmos no coração ambiental do mundo, então o meu público sempre abraçou muito as pautas que defendi”.

Sarah acredita que 95% dos seus seguidores tem o posicionamento semelhante ao dela e se aproximaram mais quando viram os valores deles refletidos nos dela. “Eles engajam muito sempre quando eu compartilho algum vídeo, algum conteúdo, sempre estão comentando, salvando, é uma rede muito consolidada, felizmente. É uma rede pequena mas é uma rede sólida”, garante.

Críticas

Por considerar seu posicionamento “sólido”, Sarah perdeu seguidores ao produzir conteúdos mais críticos e decidiu não compartilhar os comentários “para não disseminar o ódio” nas redes sociais. 

“Eram pessoas que chegavam e diziam que eu não prestava, que eu deveria procurar alguma coisa pra fazer e eu só ignorava porque quanto mais você alimenta essas pessoas, mais combustível você dá pra elas te atingirem. Mas eu nunca senti um hate muito pesado. Como disse antes, meu público é majoritariamente meu aliado e eu ganhei mais seguidores por me posicionar do que perdi”,

assegurou.

Sarah destacou também que, nos últimos anos, com o crescimento da utilização de diversas mídias sociais como forma de disseminação de conteúdos, devido ao potencial de interação e engajamento, é necessário estar bem informado sobre os conteúdos abordados, para não ter o risco de disseminar a desinformação. 

Para isso, ela conta que já fez alguns cursos e sempre se informa em sites de notícias confiáveis. Por ser redatora, tem afinidade com a comunicação, o que facilita seu processo criativo e o contato com o público, porém, o fato de ser uma mulher negra e nortista, relata, também pode dificultar seu engajamento.

Opinião invalidada

Com sua experiência, a criadora de conteúdo revela que a comunicação no Brasil e na Região Norte é majoritariamente dominada por homens héteros, brancos e cisgêneros.

“A nossa opinião é constantemente invalidada não só na comunicação como em todos os ambientes por onde a gente passa, seja no meio acadêmico, no meio pessoal. Mas a gente vai crescendo e desenvolvendo com o tempo uma expertise de não permitir mais que certos comportamentos se predominem sobre nós”,

evidencia.

Ainda assim, Sarah luta para que outras mulheres negras que também vieram da periferia como ela tenham a oportunidade de chegar em lugares que ela já chegou e lutar por uma Amazônia e um Brasil melhores. 

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