Foto: Rennan Oliveira/Prefeitura de Cuiabá
Os cuiabanos preservam um conjunto de tradições linguísticas, gastronômicas e culturais que se destacam dentro do Centro-Oeste brasileiro. A identidade regional se manifesta na forma de falar, nas comidas típicas e nas manifestações artísticas que atravessaram gerações.
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A variedade de costumes observada em diferentes bairros da capital mato-grossense demonstra o quanto elementos históricos e influências de distintos povos moldaram o cotidiano local. Entre expressões, pratos e ritmos, muitos hábitos são reconhecidos de imediato por quem nasceu ou cresceu no município.
O Mato Grosso é um dos estados que compõem a Amazônia Legal e o modo de vida dos cuiabanos reúne referências indígenas, africanas e europeias, que se misturaram ao longo do tempo e contribuíram para uma identidade própria. Essa combinação aparece na linguagem, nas receitas tradicionais e nas festas populares.
Essas características tornaram-se marcantes e grande parte delas só é plenamente compreendida pelos próprios cuiabanos, que vivenciam esses costumes na rotina familiar ou comunitária.
Gastronomia que marca gerações
A culinária típica é um dos pilares culturais mais conhecidos pelos cuiabanos. Entre os pratos mais lembrados está o baguncinha: lanche preparado na chapa que mistura carnes, temperos e complementos, geralmente acompanhado da tradicional maionese temperada. O preparo tornou-se uma referência entre vendedores de lanches e é encontrado em vários pontos da cidade. E mais: o baguncinha e a maionese temperada são reconhecidos como patrimônio cultural e imaterial do município desde março de 2022.

Outro ícone gastronômico é o prato Maria Izabel, feito com carne seca e arroz. O prato é facilmente identificado nas casas e restaurantes da região e costuma ser preparado em grandes porções. A receita, de origem histórica ligada a trabalhadores rurais e viajantes, tornou-se parte do repertório culinário dos cuiabanos.

A farofa de banana, feita com banana-da-terra madura (pacovã), farinha de mandioca, manteiga, cebola, alho e temperos, é outro acompanhamento presente em almoços e eventos tradicionais. O sabor marcante e o uso de ingredientes regionais reforçam a ligação da comida com o território.
Também faz parte do repertório o pixé – ou piché, doce preparado com milho torrado, açúcar e canela, frequentemente vendido enrolado em cones de papel. Já o quebra-torto é um café da manhã reforçado, composto por carne com arroz, ovo frito e farofa, consumido principalmente por pessoas que trabalham nas primeiras horas do dia.
Expressões que identificam os cuiabanos
O vocabulário regional é uma das características mais reconhecidas pelos cuiabanos. A expressão “vôte” é usada para demonstrar espanto, surpresa ou repulsa, sendo mencionada em diversas situações cotidianas. A palavra é lembrada por moradores de diferentes faixas etárias.
Outro termo comum é “pau-rodado”, usado para se referir a pessoas que vieram de outras cidades. A palavra é associada à imagem de troncos de árvores que desciam rios e só paravam ao encostar em algum ponto, simbolizando alguém que chega e se fixa no local.
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Entre os hábitos linguísticos, aparece também o verbo “rebuçar”, utilizado para indicar a ação de cobrir o corpo com lençol ou cobertor. A expressão “chapa e cruz” é usada para identificar pessoas que nasceram e morreram em Cuiabá, reforçando vínculos familiares locais.
Esses termos circulam entre gerações e se mantêm presentes mesmo com a influência de novas formas de comunicação geradas pela internet e pelas redes sociais.
Ritmos e tradições culturais
A cultura cuiabana abriga manifestações próprias, reconhecidas pelos cuiabanos em diferentes espaços da cidade.
Entre elas, está o lambadão, ritmo e dança de forte presença regional. O estilo musical combina influências do rasqueado, do carimbó e da lambada paraense. Bailes e apresentações comunitárias contribuem para manter o ritmo vivo entre músicos e dançarinos.

As danças cururu e siriri também fazem parte da tradição local. O cururu é executado principalmente por homens e tem forte ligação com expressões religiosas e folclóricas da região. O siriri, por sua vez, é praticado por mulheres e crianças, que utilizam saias rodadas e executam movimentos circulares ao som de instrumentos regionais.
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Outro símbolo cultural é a viola de cocho, instrumento artesanal produzido a partir de uma tora de madeira escavada. A viola de cocho acompanha danças, cantorias e encontros tradicionais.
Esses elementos demonstram como os cuiabanos preservam manifestações transmitidas por famílias, grupos artísticos e comunidades que mantêm vivas práticas populares ao longo do tempo.
Origem e significados do nome Cuiabá
Diversos estudos apontam explicações para a origem do nome Cuiabá. Uma das mais mencionadas é a palavra bororo Ikuiapá, que significa “lugar da Ikuia”, em referência a flechas usadas para pesca em áreas próximas ao córrego da Prainha, ponto onde os bororo desenvolviam atividades de caça e coleta.
Outra versão associa o termo ao guarani Kyyaverá, traduzido como “rio de lontra brilhante”. Há também interpretações ligadas à existência de árvores produtoras de cuia às margens do rio, sugerindo que o nome significaria “rio criador de vasilha”.
As diferentes versões mostram como elementos naturais, povos originários e práticas tradicionais ajudaram a formar a identidade regional reconhecida até hoje pelos cuiabanos.
