Foto: Reprodução/Facebook-Boi Caprichoso
O Boi Caprichoso recebeu na noite da última terça-feira (25), em Parintins (AM), o Manto Tupinambá, objeto de profundo valor simbólico e espiritual para os povos indígenas que se organizavam no litoral brasileiro, antes da chegada dos portugueses. A entrega da peça ocorreu em cerimônia oficial, conduzida por representantes do Conselho de Arte do bumbá azul e branco, com a presença de membros do povo Tupinambá. A ocasião marcou um momento de conexão entre tradição, espiritualidade e reconhecimento cultural.
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A entrega do Manto Tupinambá foi realizada com rituais e reverência à ancestralidade indígena. Segundo os organizadores, o momento foi precedido por práticas tradicionais que asseguraram a chegada respeitosa do objeto ao Boi Caprichoso, que o integrará ao espetáculo “É Tempo de Retomada” no Bumbódromo de Parintins durante o Festival Folclórico.
O presidente do Conselho de Arte do Caprichoso, Erick Nakanome, explicou que o manto, anteriormente interpretado apenas como uma peça de vestuário cerimonial, passou a ser compreendido como uma entidade sagrada. “Muito recentemente a gente compreende que não é isso. Trata-se de um ser com opinião e vida própria”, declarou Nakanome durante coletiva de imprensa.
O que é o Manto Tupinambá
O Manto Tupinambá é uma peça confeccionada com penas de aves como o guará, historicamente utilizada por lideranças indígenas do povo Tupinambá, que habitava originalmente a região do litoral atlântico brasileiro. Mais do que um elemento estético, o manto possui significados espirituais e sociais profundos: representa liderança, autoridade e conexão com os ancestrais.
Durante o período colonial, diversos mantos foram levados para a Europa, onde ainda hoje permanecem em museus e coleções. Atualmente, o povo Tupinambá e outras lideranças indígenas lutam pela repatriação dessas peças, que são consideradas sagradas. A utilização simbólica de um manto como esse em um espetáculo cultural requer autorização e realização de rituais específicos, conforme os protocolos tradicionais dos povos originários.
Participação e autorização indígena
A cerimônia de entrega do manto ao Boi Caprichoso contou com a presença de lideranças indígenas. Entre elas, estiveram a cacica Paula Denício, a Senhora Iacuí e Naya, representantes do povo Tupinambá. Também participaram Vanda Witoto, Adam e Gilvana Borari. Esta última foi a única pessoa autorizada pelos protocolos tradicionais a tocar e defumar o manto antes de sua entrega.
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Nakanome agradeceu às lideranças indígenas pelo envio da peça e destacou que a aproximação entre o boi-bumbá e os povos originários foi feita de maneira cuidadosa, com escuta e respeito às tradições.
“Foi feita uma escuta verdadeira com os povos. Houve cuidado, respeito e rituais para garantir que essa presença sagrada chegasse até nós”, afirmou.

Segundo o Conselho de Arte, o Manto Tupinambá será utilizado no contexto do espetáculo como uma forma de homenagear e reconhecer a presença ancestral indígena na formação cultural da Amazônia. O uso foi autorizado diretamente pelas lideranças responsáveis, seguindo os protocolos estabelecidos pelos próprios povos indígenas.
Tempo de retomada
O espetáculo “É Tempo de Retomada”, apresentado pelo Boi Caprichoso em 2025, terá o manto como um de seus elementos centrais. A proposta artística busca valorizar a resistência indígena e a reafirmação das identidades tradicionais no contexto da cultura popular amazônica.
O Festival de Parintins é considerado uma das maiores manifestações culturais do Brasil. Realizado anualmente na cidade de Parintins, no Amazonas, o evento reúne os bois Caprichoso e Garantido em uma disputa de apresentações que mesclam folclore, música, dança e narrativas sobre a história e cultura da região.
A inserção do Manto Tupinambá no espetáculo do Caprichoso representa um marco simbólico dentro do festival. A peça estará presente no Bumbódromo sob orientação e conforme os rituais autorizados pelos povos originários envolvidos.
Continuidade e preservação cultural
O Conselho de Arte do Caprichoso informou que outras ações de aproximação com comunidades indígenas estão sendo desenvolvidas como parte de um processo contínuo de valorização das raízes amazônicas. O Manto Tupinambá, nesse contexto, simboliza um elo entre passado, presente e futuro das culturas originárias.
O uso e a exibição da peça seguem acordos e diretrizes definidos coletivamente com os povos indígenas, reforçando a importância do reconhecimento de seus patrimônios simbólicos e espirituais.
