Bois de Maués. Foto: Reprodução/ Facebook dos bumbás
Na comunidade da Ilha de Vera Cruz, em Maués, no Amazonas, a cultura pulsa com força própria. O tradicional Festival Folclórico de Vera Cruz transforma a cidade em um palco de celebração e memória, reunindo moradores e visitantes em torno de apresentações que valorizam a ancestralidade amazônica e o espírito comunitário.
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Inspirado nas lendas, mitos e costumes ribeirinhos, o festival abriga manifestações como o Boi-Bumbá e as tradicionais cirandas.
No centro da festa, destacam-se três bois: Boi Malhado, Boi Brilhante e Boi Garantido do Laguinho, cada um com uma história singular que fortalece a identidade local.
Boi Garantido do Laguinho

O Boi Garantido do Laguinho possui em sua história fortes influências indígenas e negras, sendo um verdadeiro quilombo amazônico, ainda não oficializado. O boi foi ocupado por famílias negras fugidas das senzalas da região do Grão-Pará e por indígenas Mawé e Munduruku. Desses encontros culturais e espirituais, surgiu um território de resistência, fé e celebração.
Fundado por Dona Bebé em 1984, o Garantido do Laguinho nasceu à luz de uma fogueira em uma noite de São José. Os brincantes do boi atravessavam o rio de canoa, vendendo língua de boi e animando as festas das redondezas.
Desde a sua fundação, o boi se tornou um símbolo de orgulho e resistência, tornando-se o boi mais vitorioso do festival.
“No Laguinho, o território é vermelho Garantido e não há espaço para outra cor senão o vermelho e branco”, afirmam os organizadores do bumbá.
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Boi Brilhante

Fundado em 20 de junho de 1995, sob a sombra de um cajueiro e nas mãos de comunitários apaixonados pela cultura popular, o Boi Brilhante nasceu como uma brincadeira de terreiro, em uma roda simples e com um desejo coletivo de um compromisso com a identidade local.
Ao longo do tempo, o que começou como informal e despretensioso, transformou-se em uma das agremiações protagonistas do Festival Folclórico de Vera Cruz, evento cultural que movimenta a ilha com arte, tradição e economia.
Atualmente, o Boi Brilhante carrega o diferencial de ser o único entre os três bois com CNPJ registrado, uma conquista administrativa que o transforma em associação cultural formal.
“Isso significa responsabilidade. Quem vier depois vai ter que entender que não tá assumindo só um Boi, mas uma entidade com missão cultural”, Declarou Rony Von, presidente do Boi do Brilhante, ao Portal Amazônia.
A gestão do bumbá também inovou ao iniciar a criação de toadas próprias, um marco simbólico e artístico que consolidou a identidade sonora do Boi, já que durante anos o grupo se apresentava com músicas emprestadas de outros festivais.
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Boi Malhado

Fundado no ano 2000 por um grupo de amigos em uma roda de conversa na casa do senhor ‘Piró’, o Boi Malhado nasceu da necessidade de expandir as opções culturais na Ilha de Vera Cruz. Na época, os bois Brilhante e Garantido do Laguinho já faziam história, mas a comunidade crescia e pedia mais representatividade.
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Entre os fundadores do bumbá estão nomes como Wallace Brasil, Jandir Gundin, Ivone Rolim e Raimundo José. Com as cores amarelo e branco, o Boi Malhado segue ativo e, segundo seus organizadores, “comprometido com a valorização cultural”, preparando-se para o festival, que acontece em agosto, com apresentações que misturam arte e memória.
“Eu tenho na lembrança dos anos que fomos campeões do festival de 2011, 2018 e 2019, mas ele tem mais títulos. Só que eram outras pessoas que eram responsáveis na época, outros presidentes que já passaram, e esse ano sou professora, trabalho aqui na comunidade e estou lutando para dar continuidade a esse trabalho’’, declarou Ângela Lopes, Presidente do Boi Malhado, ao Portal Amazônia.
Festival Folclórico da Ilha de Vera Cruz

O festival foi institucionalizado a partir dos anos 2000, com o Boi Brilhante sendo um dos dois fundadores ao lado do Boi Garantido do Laguinho. Mais tarde, o Boi Malhado somou-se ao trio de bois que hoje disputam anualmente o coração do público em dois dias intensos de festa, geralmente realizados no mês de agosto.
Apesar da incerteza de datas, que muitas vezes são alteradas conforme a gestão pública, o festival resiste. A edição de 2025, por exemplo, está marcada para os dias 1 e 2 de agosto, com direito a ensaio técnico e a grande noite da disputa.
Além de preservar a memória cultural da comunidade, o festival é motor econômico em uma cidade marcada por múltiplas festas: Carnaval, Divino Espírito Santo, São Pedro, Santo Antônio, Festival de Verão e Festa do Guaraná são apenas alguns dos eventos que fazem de Maués uma terra em constante celebração.
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*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
