Arte na cidade: grafites em prédios no Centro de Manaus resgatam identidade indígena

Movimento busca transformar o espaço urbano em um museu aberto e vivo, aproximando a arte da população.

Nos últimos anos, a arte urbana tem crescido e ganhado visibilidade em todo o mundo. Caracterizada por manifestações artísticas por meio de pinturas, grafites, apresentações de rua, dentre outras ações, esse tipo de manifestação ocorre, como o nome sugere, nas ruas, no ambiente urbano.

Dentre todas as modalidades, uma tem se destacado: a arte em empenas e fachadas de prédios. As empenas são as paredes laterais de um edifício, sem janelas ou aberturas.

Em Manaus (AM), esse tipo de arte surgiu com a pintura de viadutos e se popularizou em meados da pandemia de Covid-19, com pinturas em homenagem aos profissionais que não pararam nesse período.

Foto: Divulgação

Em agosto, o movimento ganhou popularidade com o Centro Urbano de Arte (CURA), evento que surgiu em Minas Gerais e ocorreu pela primeira vez na Amazônia.

O CURA busca transformar o espaço urbano em um museu aberto e vivo, aproximando a arte do público ao se tornar um evento cultural de relevância artística e histórica.

Piracema – Denilson Baniwa 

Saindo do âmbito de viadutos, as obras tem ganhado as alturas. Literalmente. O trabalho do artista amazonense Denilson Baniwa, por exemplo, possui 48 metros de altura e 396 m² de área, é um dos dois murais realizados durante o CURA Amazônia e cobre a fachada do Edifício Cidade de Manaus, localizado na Rua Eduardo Ribeiro.

Para Denilson, a ‘piracema’ é uma metáfora da resistência dos povos indígenas no Brasil.

A proposta do mural, segundo artista é: assim como os peixes  – que mesmo diante do avanço de questões ambientais como o mercúrio nos rios e a implantação de hidrelétricas, seguem subindo o rio para manter e renovar o ciclo da vidas -, os povos indígenas amazônidas seguem contra a correnteza, resistindo ao esquecimento do poder público e a todo tipo de violência colonial.

“O mural é a nossa piracema. É a nossa subida do rio, nosso seguir em frente. A gente tá nessa eterna subida de rio pra não morrer. Pra não morrer com uma hidrelétrica, ou contaminado com mercúrio ou soterrado pelo assoreamento”,

comenta o artista

Cosmos y Energia Amazónica – Olinda Silvano

Pensado pela artista Olinda Silvano, do povo Shipibo-Konibo, do Peru, pertencente à Amazônia Internacional, a outra obra representa o caminho de seus ancestrais através da arte Kené. Um caminho traçado por seus avós, com olhos voltados para as estrelas e o universo.

O mural, de 40 metros de altura e 394 m² de área, compartilha a cosmovisão Shipibo-Konibo no coração da capital amazonense.

Suas cores vibrantes e padrões geométricos, característicos da estética indígena Kené, estampam a fachada do edifício Rio Madeira, localizado Rua Costa Azevedo.

“Este mural foi feito para sensibilizar as pessoas que não pertencem ao mundo indígena, para que vejam do nosso ponto de vista como seguimos vivendo neste planeta, mas amando a natureza, cuidando, protegendo e respeitando. É nosso dever compartilhar nosso amor pela natureza e recordar, para que não caia no esquecimento, a memória de nossos avós”,

diz Ronin Koshi, filho de Olinda Silvano.

Além do CURA 

Fora do contexto do evento, outras manifestações estão sendo produzidas. A artista Deborah Erê conta ao Portal Amazônia um pouco sobre o movimento.

“A pintura de empenas, que são as laterais cegas dos prédios, é uma tendência mundial que vem crescendo. No Brasil a gente tem o Kobra, o grafiteiro mais famoso do mundo. Essa tendência de mega murais começou em Manaus desde a pintura dos viadutos e agora os grafiteiro tem despertado essa vontade de pintar essas empenas e tem surgido projetos via edital que visam essas pinturas”,

relata a artista.

O mural em que ela está trabalhando é de um projeto de rua nacional chamado ‘Contemporâneas Vivara’, que convida mulheres artistas a criarem trabalhos para serem expostos em algumas cidades do Brasil. Confira como está o processo:

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