Uma mulher que revolucionou a política maranhense, mas que também causa arrepios por sua história no Estado.
Enquanto Josephina Conte, a ‘Moça do táxi’, é uma lenda popular no Pará, no Estado do Maranhão outra mulher assombra as ruas da capital São Luís, mas de carruagem. Trata-se de Ana Joaquina Jansen Pereira, ou simplesmente Ana Jansen.
A história popular relata que, no século 19, viveu em São Luís uma senhora comerciante que, tendo acumulado grande fortuna, exerceu forte influência na vida social, administrativa e política da cidade.
Mas a imagem de “Donana Jansen” – como era comumente chamada – não era nada boa.
Conta-se que ela cometia as mais bárbaras atrocidades contra seus numerosos escravos, os quais submetia a suplícios e torturas em sessões que, não raro, terminavam com a morte.
Ela não era uma pessoa “bem quista” e por suas ações assustadoras e desumanas, sua morte não foi lamentada. Porém, alguns anos após o falecimento de “Donana”, passou a ser contada na cidade a fantástica história em que, nas noites escuras das sextas-feiras, boêmios e notívagos costumam se deparar com uma assombrosa e apavorante carruagem.
Esta carruagem estaria em desenfreada correria pelas ruas de São Luís, puxada por muitos cavalos brancos sem cabeças, guiados por uma caveira de escravo, também decapitada, conduzindo o fantasma da falecida senhora, penando, sem perdão, pelos pecados e atrocidades, em vida, cometidos.
Os alertas são muitos e é preciso ter cuidado para não cruzar o caminho da assombrosa carruagem que corre pelas ruas levando a alma da mulher. E quem tiver a infelicidade de encontrar a diligência de Ana Jansene não orar pela salvação da alma dela, ao deitar-se para dormir, receberá das mãos de seu fantasma uma vela de cera que quando amanhecer, estará transformada em descarnado osso humano.
A história por trás da lenda
Ana Jansen era filha de Vicente Albuquerque e Rosa Maria Jansen Müller. Foi uma rica proprietária de terras e imóveis, Ativista Política e dos Movimentos Sociais. Descendente da nobreza europeia, sua família se instalou na Província de São Luís do Maranhão.
Ainda adolescente, teve um filho de um desconhecido e foi expulsa de casa pelo pai com o filho recém-nascido. E após grandes dificuldades, torna-se amante por muitos anos do rico coronel Isidoro Rodrigues Pereira. Depois que ele ficou viúvo casou-se com Ana. Com o militar, ela teve seis filhos.
Ela, que tinha um tino comercial notável, multiplicou a fortuna do marido. Com a morte do coronel, Ana, então com 38 anos, transformou-se na poderosa “Donana, a rainha do Maranhão”. Firmou-se como uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, além de possuir o maior número de escravos da região.
Conta-se que ela fazia os escravos distribuírem água pela cidade, cobrando pelo serviço, quando já existiam métodos mais modernos. Ao tentar implantar um sistema de distribuição para a água, Donana tanto fez que levou o sistema à falência.
Política habilidosa, costurava acordos nos bastidores e chegou a financiar os exércitos do duque de Caxias durante a Balaiada, revolta que ocorreu no Maranhão.
Perseverante e ambiciosa, Ana transforma o dinheiro em poder e assume a liderança política da cidade, reativando o partido liberal Bem-te-vi. Na época era um escândalo uma mulher envolvida com a política, mas ela queria ter posse dos poderes públicos e lutar por seus direitos de exercer a cidadania.
Viveu com outro homem com quem teve quatro filhos. Casou-se novamente aos 60 anos com um rico comerciante paraense.
Era voz corrente, então, que ela cometia as mais bárbaras atrocidades contra seus numerosos escravos. Mas a família garante que tudo é “intriga da oposição” porque naquela época uma mulher não podia ter o mesmo poder de mando que um homem.
Ana morreu aos 71 anos, de causas naturais.
Documentário
A TV Assembleia do Maranhão produziu em 2022, com idealização e direção-geral do então diretor de Comunicação da Assembleia Legislativa do Maranhão, Edwin Jinkings, um resgate sobre tudo que se sabe desta história e transformou em um documentário. Confira:
*Com informações do programete História Hoje, da Radioagência Nacional/EBC e da TV Assembleia Maranhão