Além do sabor: confira os impactos econômicos e culturais do guaraná

O seu cultivo data da época pré-colombiana, ou seja, antes da chegada dos europeus no continente americano, pelos Sateré-Mawé. 

Nativo da Amazônia, o guaraná é uma planta ‘rica’ em muitas coisas: sejam as lendas que o cercam, a “energia” vinda da quantidade de cafeína presente na planta ou até mesmo pelo seu valor econômico, afinal, o Brasil é o único produtor de guaraná do mundo.

De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a planta é nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide com o território dos “filhos do Guaraná”, como é conhecido o povo indígena Sateré-Mawé.

O seu cultivo data da época pré-colombiana, ou seja, antes da chegada dos europeus no continente americano, pelos Sateré-Mawé. 

Em entrevista ao Portal Amazônia, o pesquisador André Luiz Atroch, da Embrapa Amazônia Ocidental, na área de genética e melhoramento do guaranazeiro, explica que o primeiro relato da planta pelos europeus data do século XVII.

Capital Estadual do Guaraná

No interior do Amazonas, o município de Maués é considerado a “Terra do Guaraná” e recebeu, no ano de 2023, da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), o título de Capital Estadual do Guaraná.

Isso se dá em decorrência da sua importância histórica e cultural na região. Devido a fatores geográficos e físicos, como o solo, vegetação, clima e relevo, a região onde está localizada Maués é considerada um ambiente privilegiado para o surgimento de uma espécie única e efetiva adaptação e reprodução do guaraná. 

Leia também: Saiba como o guaraná se tornou símbolo da cultura de Maués

Produção econômica

Para além da importância cultural, sobretudo na região amazônica, o plantio do guaraná é economicamente significativo. O guaraná pode ser consumido e comercializado de diversas formas: através da sua semente, pasta seca, pó, xaropes, extratos, papel e para a produção de sucos e refrigerantes.

“O Brasil hoje possui em torno de 13 mil hectares de guaraná, com a produção de mais ou menos 3 mil, 3.500 toneladas, sendo que metade dessa produção é consumida pela indústria de refrigerantes. E o restante da produção, a parte é exportada em forma de extrato, extrato seco para recomposição com água para os produtos no seu destino final”, pontua Atroch.

É importante ressaltar que a planta do guaraná produz por mais de 20 anos com uma safra anual. Cada planta produz em torno de 1,5 kg/ano.

Foto: Érico Xavier/Fapeam

Além dessas utilizações já conhecidas pela indústria, um projeto de pesquisa desenvolvido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) em 2015 mostrou que produtores do guaraná podem utilizar os resíduos do fruto com o uma fonte de combustível renovável em sistemas de geração de energia (elétrica, térmica e mecânica). 

Guaraná X Povos originários

O pesquisador de genética e melhoramento do Guaranazeiro esclarece a relação da planta com os povos originários da Amazônia:

“A forma como esses povos, os Saterés, consumiam o guaraná é chamada guaraná-sapó, que é simplesmente o guaraná em pó, o bastão que era ralado; tipo um pão de guaraná, submetido a um processo de panificação para ralar na língua do pirarucu e misturar só com água e beber nas primeiras horas da manhã, quando os indígenas iam para caça; e também em alguns rituais de guerra para dar energia. A forma de consumo do guaraná para os povos originais era só misturada com água e bebido numa cuia”, esclareceu

Maior produtor do Guaraná

Apesar de associado à região amazônica, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), revelam que outro estado é o maior produtor de Guaraná do país.

“A Bahia é o maior produtor de guaraná. Isso se dá por uma questão de que lá os solos são melhores e não existem as pragas e doenças que existem aqui no guaraná da Amazônia. Então, a produtividade lá é muito maior. Mas o nome Amazônia está realmente ligado ao guaraná e guaraná está realmente ligado ao nome Amazônia, principalmente ao estado do Amazonas, seu estado de origem”, finalizou.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

‘Uma noite no museu’: projeto possibilita visitação noturna e gratuita aos museus de Belém

O projeto recebe elogios em decorrência do horário, que facilita o acesso a pessoas que, por conta da jornada de trabalho, têm dificuldade em frequentar os espaços.

Leia também

Publicidade