Nativo da Amazônia, o guaraná é uma planta ‘rica’ em muitas coisas: sejam as lendas que o cercam, a “energia” vinda da quantidade de cafeína presente na planta ou até mesmo pelo seu valor econômico, afinal, o Brasil é o único produtor de guaraná do mundo.
De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a planta é nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide com o território dos “filhos do Guaraná”, como é conhecido o povo indígena Sateré-Mawé.
O seu cultivo data da época pré-colombiana, ou seja, antes da chegada dos europeus no continente americano, pelos Sateré-Mawé.
Em entrevista ao Portal Amazônia, o pesquisador André Luiz Atroch, da Embrapa Amazônia Ocidental, na área de genética e melhoramento do guaranazeiro, explica que o primeiro relato da planta pelos europeus data do século XVII.
“O primeiro relato do guaraná na região amazônica foi feito pelo Frei Bettendorf, em 1669. Esse Frei era um superior jesuíta da Companhia de Jesus do Maranhão, e ele, fazendo uma viagem pelo Rio Amazonas, encontrou os Sateré Mawé utilizando o guaraná nos seus rituais de caça. O guaraná era consumido antes das primeiras horas da manhã para dar resistência e antes dos indígenas saírem para caça. Então, esse foi o primeiro relato do guaraná sendo utilizado aqui na região”, relata o pesquisador.
Capital Estadual do Guaraná
No interior do Amazonas, o município de Maués é considerado a “Terra do Guaraná” e recebeu, no ano de 2023, da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), o título de Capital Estadual do Guaraná.
Isso se dá em decorrência da sua importância histórica e cultural na região. Devido a fatores geográficos e físicos, como o solo, vegetação, clima e relevo, a região onde está localizada Maués é considerada um ambiente privilegiado para o surgimento de uma espécie única e efetiva adaptação e reprodução do guaraná.
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Produção econômica
Para além da importância cultural, sobretudo na região amazônica, o plantio do guaraná é economicamente significativo. O guaraná pode ser consumido e comercializado de diversas formas: através da sua semente, pasta seca, pó, xaropes, extratos, papel e para a produção de sucos e refrigerantes.
“O Brasil hoje possui em torno de 13 mil hectares de guaraná, com a produção de mais ou menos 3 mil, 3.500 toneladas, sendo que metade dessa produção é consumida pela indústria de refrigerantes. E o restante da produção, a parte é exportada em forma de extrato, extrato seco para recomposição com água para os produtos no seu destino final”, pontua Atroch.
É importante ressaltar que a planta do guaraná produz por mais de 20 anos com uma safra anual. Cada planta produz em torno de 1,5 kg/ano.
Além dessas utilizações já conhecidas pela indústria, um projeto de pesquisa desenvolvido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) em 2015 mostrou que produtores do guaraná podem utilizar os resíduos do fruto com o uma fonte de combustível renovável em sistemas de geração de energia (elétrica, térmica e mecânica).
Guaraná X Povos originários
O pesquisador de genética e melhoramento do Guaranazeiro esclarece a relação da planta com os povos originários da Amazônia:
“A forma como esses povos, os Saterés, consumiam o guaraná é chamada guaraná-sapó, que é simplesmente o guaraná em pó, o bastão que era ralado; tipo um pão de guaraná, submetido a um processo de panificação para ralar na língua do pirarucu e misturar só com água e beber nas primeiras horas da manhã, quando os indígenas iam para caça; e também em alguns rituais de guerra para dar energia. A forma de consumo do guaraná para os povos originais era só misturada com água e bebido numa cuia”, esclareceu
Maior produtor do Guaraná
Apesar de associado à região amazônica, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), revelam que outro estado é o maior produtor de Guaraná do país.
“A Bahia é o maior produtor de guaraná. Isso se dá por uma questão de que lá os solos são melhores e não existem as pragas e doenças que existem aqui no guaraná da Amazônia. Então, a produtividade lá é muito maior. Mas o nome Amazônia está realmente ligado ao guaraná e guaraná está realmente ligado ao nome Amazônia, principalmente ao estado do Amazonas, seu estado de origem”, finalizou.